Ao buscar uma definição do termo MEDO, podemos encontrar algo como um estado emocional resultante da consciência
de perigo ou de ameaça, reais, hipotéticos ou imaginários (clique aqui). Acredito que essa
seja uma perfeita definição, pois o perigo não precisa ter ocorrido, ele pode
ser uma probabilidade e assim atingindo níveis de suposição e imaginação absurdos... É exatamente ai que se encontra o gênero tão amado e/ou odiado do
terror, englobando todo o contexto social de probabilidades e jogando em sua
história todas as teorias absurdas que poderiam ser resultantes. Deste modo tal
gênero nunca se esgotará, pois os medos e anseios de uma sociedade sempre são
renovados com novos contextos. Aqui temos um ótimo exemplo de renovação...
+ Corra! (Get Out, 2017) de
Jordan Peele.
Vamos pensar nos grandes
clássicos do cinema de terror! Quais? O Bebê de Rosemary (1968), O Exorcista
(1973), Poltergeist (1982) ou A Hora do Pesadelo (1984). Medos de demônios,
espíritos demoníacos em sua TV ou assassinos em série que te assustam em
sonhos... UI! Filmes perfeitos! Filmes sensacionais! Mas sério... Senta aqui e
pensa: QUANDO VOCÊ ACREDITOU QUE ISSO PODERIA REALMENTE ACONTECER COM VOCÊ? Saca...
Dentro da narrativa fílmica esses filmes me causaram muitos medos e pesadelos,
mas quando me colocava em minha realidade eles perdiam toda sua magia, pois
tais preocupações não faziam parte da minha consciência e não apresentava
probabilidades reais e nem imaginárias...
Num filme de terror sabemos que sorrisos duram pouco... |
Agora pensa no medo de uma pessoa
negra que vive numa sociedade de histórico racista, com cerca de 300 anos de
escravidão, com desigualdade
econômica de 80% baseada na cor da pele, com cinco vezes mais chance de ser
analfabeto, com taxa de homicídios duas vezes mais alta e ufa! (Dados?
Clique aqui)... Tudo isso sendo reflexo do “orgulhoso” título de ser o
último país ocidental a ter abolido sua escravidão. Com esse panorama apresentando,
o medo de demônios e de dormir parecem ser coisas infantis, não? A partir dessa
constatação, é extremamente estranho não pensar como ainda não surgiram
narrativas que tiveram como tais exclusão racial como fonte.
Num filme de terror sabemos que a "ajuda" é uma MENTIRA! |
Mas lembre-se! O cinema é
sacana... SEMPRE! Sacaneou e muito a população negra com blackfaces, com personagens
estereotipados e mortes rápidas após salvar o branco do rolê (saiba mais no nosso #TertúliaCast: Black Token)... Mas em 2017,
ele renova isso, nos sacaneia com uma narrativa extremamente tensa, Jordan Peele chega com dois pés
no peito e nos apresenta “Get Out”, que discute toda a relação entre um casal
de namorados, em que a garota é branca e o garoto é negro, ao finalmente
conhecerem a família branca da garota. Todos os medos, receios, pavores desse
encontro se misturam com o histórico racista da sociedade estadunidense e putz!
O resultado é de bagunçar a cachola e dar uma sacudida em todas as certezas de
uma sociedade "pós-racial" e que “está mudando e progredindo para algo melhor”, como muitos
alegam, já que o Obama estava no poder há pouco tempo.
"Olhem! Um negro! Vamos falar como não somos racistas por termos um amigo negão!" |
Quanto a narrativa do filme só
tenho a dizer: PERFEITA! Redondinha e fechadinha! Sabe aquela história em que
você percebe que não foi enrolado em nenhum momento... Nenhuma encheção de saco
ou adicionais desnecessários? Uma das coisas que mais me incomoda em filmes de
terror é o susto fabricado pelo único prazer de assustar o público. (SIM! Estou
falando de você James Waan e seus sustos inúteis para a narrativa! MALDITO!) Essa
história é completamente linda: se vimos uma cena inicial assustadora, ela não
está ali só para botar medo no espectador, ela ajuda a trama! Se vemos algo na
trama ela é útil a história! Coisa que o gênero do terror estava precisando: sem
plot twist forçados, isto é, mudanças
bruscas da narrativa que parecem que foram idealizadas na hora de gravação do
filme. Aqui Peele consegue construir uma narrativa concisa e que apresenta
pistas para a construção de um final coerente!
O filme é tenso? PÁCAS! Guenta coração! |
“Basta haver abertura no mercado
audiovisual para que profissionais historicamente à margem da indústria
cinematográfica possam contar suas histórias.” Como diria Samantha Brasil e
Filippo Pitanga, em artigo
na Revista CULT, tais profissionais estão ai, cheios de ideias e projetos
que podem inovar um mundo estagnado e de repetitivas formulas, como muitas
vezes o gênero do terror se apresenta. Essas pessoas só precisam de
oportunidades! Não curti a ideia de novas vozes? ENTÃO O “GET OUT!” AQUI É PARA
VOCÊ, QUE NÃO ACEITA A DIVERSIDADE!
P.S: Para análises mais aprofundadas recomendo a resenha pautada na Intertextualidade do blog Dentro da Chaminé (clique aqui) e o vídeo abordando um aspecto mais filosófico do canal Wisecrack (clique aqui).
P.S: Para análises mais aprofundadas recomendo a resenha pautada na Intertextualidade do blog Dentro da Chaminé (clique aqui) e o vídeo abordando um aspecto mais filosófico do canal Wisecrack (clique aqui).
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