Direção: Ava DuVernay
Roteiro: Paul Webb
Elenco: David Oyelowo, Tom Wilkinson, Carmen Ejogo
Meu primeiro pensamento depois de
assistir Selma (2014) foi sobre a importância desse filme. Eu acredito no
caráter didático e as e panfletário dos filmes. Filmes históricos tem mais a
dizer sobre o período em que foram produzidos do que necessariamente sobre o
período que querem retratar. A pergunta nesse caso é: o que motivou esse filme
a ser filmado agora e não antes? E uma película que fala sobre a repressão que
os negros sofreram nos Estados Unidos da década de 1960 tem muito a dizer sobre
a nossa década de 2010, ainda mais com os fatos ocorridos na cidade de
Ferguson, ou mesmo o que se viu no Oscar de 2015
Antes do filme, uma reflexão:
quantos atores negros você conhece? Will Smith, Samuel L. Jackson, Morgan
Freeman, Lupita Nyong'o. Além desses, mais algum? Talvez você conseguiu lembrar de mais
quatro ou cinco - isso se você não for um aficionado por filmes da cena
blaxploitation, se você não conhece, já falamos deles aqui no blog, só clicar
aqui: PARTE 1 e PARTE 2. E quanto a diretores negros? Excetuando a diretora do
filme dessa tertúlia, corre a mente apenas Spike Lee e Steve McQueen. Admito
não ter assistido muitos filmes com atores negros. Quero dizer, filmes com
atores negros existem aos montes. Mas em papeis secundários. Escravos,
domésticas, mendigos, bandidos. Esse é o espaço onde encontramos os negros - e
outras minorias - nos filmes de Hollywood. Sabe aquele cara que sempre morre
primeiro nos filmes? Então, há uma grande probabilidade dele ser negro
O que se viu na premiação do Oscar
de 2015 não acontecia desde 1998. Dos 20 indicados ao prêmio em categorias
interpretativas (melhores atores e atrizes, principais ou coadjuvantes), nenhum
era negro. Nenhuma atriz ou ator com potencial para tal surgiu em 2014? Não é o
que Selma demonstra para nós. Mas em uma academia onde 93%
de seus membros são brancos; 76%, homens, e a idade média supera os 63 anos,
isso pode ter passado desapercebido.
Se fossemos
falar em igualdade étnica nos filmes de Hollywood, 14% dos filmes deveriam ser
protagonizados por atores negros. Esse é o percentual de negros que compõe a
sociedade americana. Se a premiação refletisse a sociedade, dos 323 filmes
competindo, 45 deveriam ser negros. Da mesma forma que 13% deveriam ser
estrelados ou dirigidos por hispânicos. Se tudo isso não foi o suficiente para
você entender a questão, veja essa matéria em que George Lucas critica o
racismo em Hollywood: http://goo.gl/9SSqTh.
Selma, dirigido
por Ava DuVernay, é um drama histórico que se baseia nas históricas marchas
ocorridas em 1965 e lideras pelo pastor e ativista negro Martin Luther King. As
marchas, que partiam de Selma, no interior do Alabama, e tinham como destino a
capital do estado, Montgomery, foram parte do Movimento por direito a voto aos
cidadãos negros. O filme é uma biografia política de Martin Luther King em meio
a esses protestos pacíficos. Mas que demonstraram os conflitos dentro do
movimento negro. O premio Nobel da Paz de 1964 não era inquestionável e nem
tomava as decisões sozinha.
David Oyelowo como Martin Luther King |
A construção de
Luther King é o ponto alto do filme. Ao escolher um evento que não tão abordado
pela mídia, mas de grande importância, a diretora apresenta um Martin Luther
King racional, que age com estratégia, não apenas um líder emotivo que age pela
emoção. Não se insiste na relação dele com sua mulher ou filhos, na tentativa
de conquistar o público pela emoção. Mesmo nos momentos de maior tensão, ele
não age por impulso.
Outra questão
abordada pelo filme é a participação de brancos nas marchas. Isso quebra a
dicotomia "nós contra eles" que se poderia cair. Porque a luta é por
direitos e pela construção de uma sociedade justa e igualitária. Todos fazem
parte dessa luta.
Selma é um
filme político. Conta a história de um movimento importante na busca por
direitos e mais igualdade em uma sociedade que recebia os negros com cassetetes
e tacos de baseball com arame farpado. Sua idealização da política pode
incomodar quem acredita que a mudança pode acontecer por outros caminhos. Mas a
maior mensagem que eu acredito que o filme queira passar é que se nós não nos
representarmos, alguém vai.
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TRAILER LEGENDADO
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