quinta-feira, 21 de maio de 2015

TertúliaView: Selma - Uma luta pela igualdade (Selma, 2014) de Ava DuVernay


Direção: Ava DuVernay
Roteiro: Paul Webb
Elenco: David Oyelowo, Tom Wilkinson, Carmen Ejogo



            Meu primeiro pensamento depois de assistir Selma (2014) foi sobre a importância desse filme. Eu acredito no caráter didático e as e panfletário dos filmes. Filmes históricos tem mais a dizer sobre o período em que foram produzidos do que necessariamente sobre o período que querem retratar. A pergunta nesse caso é: o que motivou esse filme a ser filmado agora e não antes? E uma película que fala sobre a repressão que os negros sofreram nos Estados Unidos da década de 1960 tem muito a dizer sobre a nossa década de 2010, ainda mais com os fatos ocorridos na cidade de Ferguson, ou mesmo o que se viu no Oscar de 2015
            Antes do filme, uma reflexão: quantos atores negros você conhece? Will Smith, Samuel L. Jackson, Morgan Freeman, Lupita Nyong'o. Além desses, mais algum? Talvez você conseguiu lembrar de mais quatro ou cinco - isso se você não for um aficionado por filmes da cena blaxploitation, se você não conhece, já falamos deles aqui no blog, só clicar aqui: PARTE 1 e PARTE 2. E quanto a diretores negros? Excetuando a diretora do filme dessa tertúlia, corre a mente apenas Spike Lee e Steve McQueen. Admito não ter assistido muitos filmes com atores negros. Quero dizer, filmes com atores negros existem aos montes. Mas em papeis secundários. Escravos, domésticas, mendigos, bandidos. Esse é o espaço onde encontramos os negros - e outras minorias - nos filmes de Hollywood. Sabe aquele cara que sempre morre primeiro nos filmes? Então, há uma grande probabilidade dele ser negro
            O que se viu na premiação do Oscar de 2015 não acontecia desde 1998. Dos 20 indicados ao prêmio em categorias interpretativas (melhores atores e atrizes, principais ou coadjuvantes), nenhum era negro. Nenhuma atriz ou ator com potencial para tal surgiu em 2014? Não é o que Selma demonstra para nós. Mas em uma academia onde 93% de seus membros são brancos; 76%, homens, e a idade média supera os 63 anos, isso pode ter passado desapercebido.
            Se fossemos falar em igualdade étnica nos filmes de Hollywood, 14% dos filmes deveriam ser protagonizados por atores negros. Esse é o percentual de negros que compõe a sociedade americana. Se a premiação refletisse a sociedade, dos 323 filmes competindo, 45 deveriam ser negros. Da mesma forma que 13% deveriam ser estrelados ou dirigidos por hispânicos. Se tudo isso não foi o suficiente para você entender a questão, veja essa matéria em que George Lucas critica o racismo em Hollywood: http://goo.gl/9SSqTh.
            Selma, dirigido por Ava DuVernay, é um drama histórico que se baseia nas históricas marchas ocorridas em 1965 e lideras pelo pastor e ativista negro Martin Luther King. As marchas, que partiam de Selma, no interior do Alabama, e tinham como destino a capital do estado, Montgomery, foram parte do Movimento por direito a voto aos cidadãos negros. O filme é uma biografia política de Martin Luther King em meio a esses protestos pacíficos. Mas que demonstraram os conflitos dentro do movimento negro. O premio Nobel da Paz de 1964 não era inquestionável e nem tomava as decisões sozinha.

David Oyelowo como Martin Luther King

            A construção de Luther King é o ponto alto do filme. Ao escolher um evento que não tão abordado pela mídia, mas de grande importância, a diretora apresenta um Martin Luther King racional, que age com estratégia, não apenas um líder emotivo que age pela emoção. Não se insiste na relação dele com sua mulher ou filhos, na tentativa de conquistar o público pela emoção. Mesmo nos momentos de maior tensão, ele não age por impulso.
            Outra questão abordada pelo filme é a participação de brancos nas marchas. Isso quebra a dicotomia "nós contra eles" que se poderia cair. Porque a luta é por direitos e pela construção de uma sociedade justa e igualitária. Todos fazem parte dessa luta.


            Selma é um filme político. Conta a história de um movimento importante na busca por direitos e mais igualdade em uma sociedade que recebia os negros com cassetetes e tacos de baseball com arame farpado. Sua idealização da política pode incomodar quem acredita que a mudança pode acontecer por outros caminhos. Mas a maior mensagem que eu acredito que o filme queira passar é que se nós não nos representarmos, alguém vai.

TRAILER LEGENDADO

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