quinta-feira, 12 de novembro de 2015

TertúliaView: "Cara Gente Branca" (Dear White People, 2014) de Justin Simien.

"Ihhh, lá vem o cara falando de racismo", é carx tertulianx... Falar sobre racismo é fácil quando é algo distante não? "Histórias Cruzadas" (2011) e "12 Anos de Escravidão" (2013) são filmes que conquistaram e comoveram o mundo... Mas tal tema se torna um incomodo quando ele é jogado para o aqui, agora, hoje como no filme em questão. 

+ TertúliaView: "Cara Gente Branca" (Dear White People, 2014) de Justin Simien.



Acredito ser necessário definir o que seria o racismo, pois aqui, vamos muito além da ideia básica de acreditar em raças, mas o analisando como um sistema de opressão, como algo que passa por todos, ou seja, um sistema violento que todos nós participamos, pois, ao viver nessa sociedade racista, afirmamos o racismo, infelizmente... Mas isso não quer dizer que não podemos lutar contra (e muito menos que exista o tal do "racismo inverso")! Coloquem suas gravatas! Agora sim é hora de COMEÇAR A TERTÚLIA!

Sam White (Tessa Thompson)
"Um dos mais interessantes e verdadeiros filmes sobre a temática racial desde as peripécias de Spike Lee em Bamboozled e Do the right thing"
Joice Berth em Imprensa Feminista

Uma  pesquisa realizada no Brasil "indicou que quase 90% dos entrevistados se considera não racista, ao mesmo tempo em que igual percentagem de brasileiros acredita que existe racismo no Brasil." (LIMA, 2004) BIZARRO NÃO? Um racismo que existe, mas que não existe culpados... e muito menos racistas... Nesse cenário surge o cineasta Zózimo Bulbul, conhecido como o criador do cinema negro brasileiro (CARVALHO, 2012), sendo ator, produtor ou diretor, tentou compreender os dilemas da classe média negra que emergiu nos anos 1960 e que reivindicava uma nova narrativa para si mesma. Assim como discutido no nosso #TertúliaAnálise sobre o Blaxploitation, Bulbul representa uma nova geração de negrxs que não querem se ver somente como seres inferiores nas mais diversas formas de arte...

SACA ESSE CURTA: "ALMA NO OLHO" (1973)
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Portanto vemos que Bulbul desejou passar, através de muitas metáforas, a luta diária de um negro que desejava participar da sociedade brasileira, mas que, não importa o que fizesse, encontrava um obstáculo... "Mas pô, isso era na década de 1970! Hoje as coisas não são assim..." Bem, nesse ato de reivindicar uma nova narrativa para nosso contexto atual, temos o curta "Kbela" (2015) de Yasmin Thayná, apresentando novas questões que engrandecem ainda mais tal discussão, retratando obstáculos da mulher negra ao mesmo tempo que luta por empoderamento.

TRAILER DO CURTA "KBELA" (2015)
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Numa visão mais global sobre a representação do negro no cinema, percebemos que o negro em si demorou para participar efetivamente disso, pois muito do que era apresentado ao público no cinema sobre o negro, se baseava na prática teatral do "black face", isto é, atores que se coloriam com o carvão de cortiça para representar personagens afro-americanos de forma estereotipada. Podemos ter como exemplo uma cena da abertura de "O Nascimento de Uma Nação" (The Birth of a Nation, 1915) de D. W. Griffith, em que a figura do negro é bestializada como um animal sem afeto para com seus filhos.


Cena de "O Nascimento de Uma Nação"
Mas será que os negrxs são assim? Será que é somente tal representação que existe no cinema? Meu queridx tertulianx, aqui está a importância do negrx ter o poder de se representar no cinema da maneira, assim como Bulbul e Thayná, cada um em seu contexto e seus questionamentos, apresentando sua concepção sobre sua vida como um negro! Mas será que todx negrx pensa da mesma forma e se vê da mesma forma? É claro que não... Cada um possui sua particularidade perante os obstáculos que o racismo lhe impõe. E essa particularidade que iremos discutir hoje.


"Todos os negros pensam da mesma forma??? QUALÉ O MANEZÃO!"
O filme de Simien consegue abordar a ideia da particularidade de maneira perfeita! Não é só o negro serviçal, não é só o negro intelectual ou só negro empoderado... Mas sim uma diversidade de formas, de perspectivas e de objetivos. Como principais temos a lutadora Sam White (Tessa Thompson), o intelectual Troy Fairbanks (Brandon P Bell), o sem perspectivas Lionel Higgins (Tyler James Williams) e a popular Coco (Teyonah Parris), fora outros que aparecem na trama. O estereótipo de que "todo negro é igual" passa longe desse filme. Como cada um irá reagir ao preconceito?

Brancos sendo brancos...
Um branco dizendo o que é ser negro? Sempre dá bosta!
Em 1989, o mestre Spike Lee lança o filme "Faça a Coisa Certa" (Do the Right Thing), em que apresenta uma pizzaria italiana em meio a um bairro negro estadunidense, num belo dia ela é decorada com fotos de diversos famosos italianos e nenhum negro sequer. Essa atitude é levada a muito a sério pelo seu público, que é essencialmente negro, e desencadeia um efeito dominó. Nessa narrativa ainda se sustenta a dicotomia do negro contra o branco, apresentando a questão racial de uma comunidade pobre dos Estados Unidos. O filme "Dear White People" passa a ser uma representação do negro em um novo contexto da sociedade estadunidense: em uma faculdade. Mesmo assim, a sensação ao assistir aos dois filmes foi muito semelhante, uma mistura de comédia e um soco no estômago, uma discussão do que é ser negro em sociedade e sobre como o racismo existe, mas só que não existe (como na pesquisa apresenta no início do texto). 

Cena de "Faça a Coisa Certa"
Coco (Teyonah Parris)
Acima de tudo, o diretor de "Dear White People" quis discutir sobre os "novos" obstáculos que uma pessoa negra tem de enfrentar em uma sociedade racista e ainda renova a crítica ao "Black Face", pois ainda existem pessoas não negras que querem impor uma representação do que seria um negro e de como ele deve agir. Logo a personagem lutadora, o intelectual, o sem perspectiva e a popular devem se rever como negros: será que aquilo que são, não é exatamente o que um branco racista quer? TRAVOU A ALMA DEPOIS DESSA HEIN... E que concepção que esses brancos tem hoje do negro? Ainda é aquela do teatro do século XIX? Ou mudou? Com cenas cômicas, críticas ácidas e muito soco no estômago Simien nos apresenta um filme necessário para nosso contexto, que, infelizmente, ainda possui vários obstáculos. Não irei falar mais nada pois a partir de agora seria dar SPOILER... Então vá ver o filme!

"O Chris tá no filme?? Porque não falou antes!?!?!"

FIQUE COM O TRAILER ORIGINAL
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Um comentário:

  1. Muito bom o seu artigo e os comentários sobre as referências contextualizadas no filme. Acabei de assisti-lo e ao pesquisar mais sobre a obra, encontrei seu site. Mas o mais interessante é que ao mesmo tempo que mostra o posicionamento destes poucos alunos negros tentando se firmar de forma igualitaria em uma universidade de maioria branca, também mostra os conflitos internos dos próprios personagens em relação ao que eles representam nessa comunidade Universitária e o que eles realmente são no seu íntimo. As abordagens e o desenvolvimentos destes conflitos individuais são muito bem representados.

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