Um belo dia o filósofo René Descartes proferiu sua célebre frase “Penso,
logo existo”, nos dando a entender que o ato de realizar reflexões nos
torna reais e que esse ato é imprescindível para ser um ser humano. Em meio ao
período renascentista o filósofo inicia um novo período para a filosofia
ocidental, trazendo ao centro das discussões a razão para ter como finalidade a
verdade. Simples? Até poderia ser para o século XVII, mas para nossos dias
atuais é algo que deve ser rediscutido. SIMBORA?
+ O Fantasma do Futuro (Ghost In
The Shell, 1995) de Mamoru Oshii
Como será o futuro? Um
questionamento que muitas vezes paramos para pensar... Será algo bom? Algo
ruim? Em 1982, Ridley Scott lança o clássico da cinematografia de sci-fi, "Blade
Runner", baseado no livro de Philip K. Dick, nos situando num futuro distópico (saiba mais aqui), em que corporações mandam no planeta, ou melhor, na galáxia, e que se
utilizam de androides para realizar seus serviços... Sujo, violento e
corrupto... Podem ser as três palavras chaves para esse mundo. Não muito
diferente do futuro de "Ghost In The
Shell", baseado no mangá de Shirow Masamune, em que conhecemos a Seção 9,
uma equipe formada por androides e humanos que enfrenta crimes que surgiram com
o avanço da tecnologia.
CENA DAS LÁGRIMAS DO BLADE RUNNER
Se o fato de viver, se ser um
sujeito ativo e encarar o mundo (ou o cosmos no caso de Blade Runner) como um
horizonte de possibilidades. O androide Roy Batty (Rutger Hauer) se tornou um
ser humano da melhor qualidade, não?
Cada personagem do filme tem sua
importância, como líder a Major Kusanagi, uma androide, tem um corpo
inteiramente artificial que protege seu cérebro, seu corpo é esbelto e, se
formos pensar, transcende a ideia da sexualidade, pois aquele corpo, por mais
lindo que seja, não passa de uma proteção mecânica que sustenta seu cérebro.
Assim como o personagem Bateau, parceiro de Kusanagi, que possui uma estranha
prótese no lugar de seus olhos, e como diz a frase "o olhos é a janela da
alma", já paramos para refletir que alma é algo estranho para ele. Assim como
Aramaki, que é um dos poucos humanos do Setor 9, e como dito pela Major, ele
foi escolhido para que a previsibilidade de um robô não marcasse o esquadrão.
Uma animação feita pelos detalhes, ao mesmo tempo em que há diversas reflexões
há momentos de contemplação. Simplesmente INSANA!
Bateau |
CENA DE WALKING LIFE (2001)
Nessa mítica cena de "Walking Life" de Richard Linklater conhecemos questionamentos sobre o que nos define como pessoa: memórias, história, informação...
Ser questionado por algo que você
tem como a verdade base de sua vida é algo arrebatador... Por isso mesmo esse
filme tem todos os méritos para aparecer no blog do Cine Tertúlia, e por isso
mesmo, não é um filme que "desça fácil", pelo contrário, possui uma carga
reflexiva gigantesca e a todo o momento nos sentimos necessidade de repetir uma
cena ou voltar para outro plano. Memórias e vivências? O ato de pensar? Possuir
uma alma? Podemos pensar em diversos argumentos que nos levem a defender nossa
diferença perante os robôs, mas aqui nessa história, todos eles são destruídos
de maneira genial e precisa, nos deixando sem nenhum argumento, coisa que só
como uma boa obra de ficção distópica pode nos oferecer.
SACA SÓ ESSA CENA DO FILME
Dois minutos de pura explosão de mentes! Pode repetir quantas vezes quiser... Eu acho que repeti umas 5 vezes quando estava vendo o filme...
“- Forma de vida? Que ridículo! Não passa de um programa de auto preservação!
- Com esse argumento, digo que o DNA que carrega não passa de um programa de auto preservação.”
“- Forma de vida? Que ridículo! Não passa de um programa de auto preservação!
- Com esse argumento, digo que o DNA que carrega não passa de um programa de auto preservação.”
Com essa discussão não tenho como não mencionar o desconhecido filme “Automata” (2014) de Gabe Ibáñez (clique aqui) que aborda a busca de robôs não de sobreviver, mas sim de viver. Mas que tipo de vida seria essa? Que consciência de vida seria essa? Se o pensar leva a existir, eles querem viver intensamente! Descartes criou sua célebre frase no chamado Renascimento, aqui no filme de Ibáñez, o renascimento do homem se torna o robô, ou como exploramos de maneira maior sobre o "Homo Novus" (clique aqui).
Assim, não mais que necessário, a corrente existencialista (século XX) surge para compreender ainda mais a existência da humanidade. Se Descartes no século XVII queria, através de seu método, nos trazer uma verdade universal, aqui, os existencialistas, buscam compreender a complexidade do que é ser um ser vivo. Defendendo que existimos antes de tudo, afirmam que o ser humano não é nada, enquanto não fazer de si alguma coisa. Então, deste modo, existimos, depois pensamos, depois agimos, depois criamos robôs e depois eles nos darão mais questionamentos sobre o propósito da existência. Se os androides são humanos ou não isso será respondido na busca que farão de suas vidas. Precisamos realmente dessas diferenças? O que faz de nós humanos? Assim como a filósofa existencialista Simone de Beauvoir, em seu livro "O Segundo Sexo", defende que a mulher não nasce mulher, mas devido ao mundo machista, ela se transforma na forma/padrão que o mundo exige. Assim como a ideia do que é ser um ser humano, uma construção social de uma determinada época, variando pelas questões que levam a coesão social. O ser humano de hoje é diferente do que é um ser humano de 500 anos atrás, logo a sociedade nos padroniza para as questões de nossa época... E no futuro, que coesão será formulada com nossa relação cada vez mais próxima com a tecnologia? Esse filme é uma perspectiva do que podemos nos tornar.
TRAILER
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