Se apaixonar por alguém nos dá
uma nova percepção de mundo, um novo gás para enfrentar nosso cotidiano em nome
de algo que amamos. Essa nova visão de mundo muitas vezes cria mundos paralelos
em nossa mente: podemos acreditar que o mundo está perfeito mesmo que estamos
na pior das merdas ou crer que estamos no fundo do poço, sendo que estamos na
verdade muito bem. Fazer um relato sobre um relacionamento que marcou parte de
nossa vida, mexe com memórias e sentimentos, e os dois são passíveis de mutação... Nenhum dos dois são um concreto firme... Eles sofrem mudanças a
todo o momento que o revivamos... Logo objetividade é algo que não
encontraremos nesse filme.
+ Eu Estava Justamente Pensando
em Você (Comet, 2014) de Sam Esmail
O hoje consagrado criador da
série “Mr. Robot”, Sam Esmail,
realizou esse filme que tem por uma meta até que simples e apresentada no
início do filme: "Os seguintes
eventos ocorreram ao longo de 6 anos (alguns em um universo paralelo)".
Sim, Esmail irá nos mostrar seis anos de um relacionamento conturbado, que
acredito ser inspirado em sua própria vida, mas que aqui é entre a personagem Dell
(Justin Long) e Kimberly (Emmy Rossum), assim podemos ter em mente que podemos nos
perder facilmente entre o que realmente aconteceu e o que a imaginação do
diretor produziu, pois alguns eventos ocorreram em “um universo paralelo”, como alega a frase inicial. Isso mesmo!
Possuímos nossas memórias, que foram criadas com base em nossas vivências, mas
elas nunca serão estáticas, elas sofrem mudanças a todo o momento. Essa
empreitada de realizar um relato cinematográfico de um período intenso entre
amor e ódio entre um casal deve ter ser difícil... Tanto para o diretor, como
para nós, espectadores.
"Os seguintes eventos ocorreram ao longo de 6 anos (alguns em um universo paralelo)" |
O filme já me conquistou ao ter
em seu pôster referências a dois filmes INSANOS, “Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças” (2004) de Michel Gondry
e “(500) Dias com Ela” (2009) de Marc Webb. E sim... Entre memórias e realidades, entre conciliações e rompimentos, o
filme de Esmail consegue abordar temas presentes nos dois filmes citados e de
maneira perfeita! A cena inicial em que Dell (Justin Long) repete várias vezes
para si mesmo, “isso não é um sonho, isso
não é um sonho!”, é uma boa preparação para o público... O que é real e
sonho dentro dessa história seremos apenas nós mesmo que decidiremos... E muitas
vezes torceremos como Dell, para que tal cena não cena um sonho e que outra seja
apenas um sonho (ou um pesadelo).
Kimberly (Emmy Rossum) e Dell (Justin Long) |
Uma obra com uma narrativa não linear
mostrando vários momentos do relacionamento do casal: o dia em que se conhecem,
uma viagem a Paris, uma briga pelo telefone, um encontro em um trem e uma
visita casual... Essa distinção se momentos faz jus a fotografia do filme, que
em quase todo o filme apresenta seus personagens descentralizados (isso mesmo,
nada de Wes Anderson por aqui, clique aqui
e entenda). Fato que me faz indicar outro filme aqui nas referências, “Namorados Para Sempre” (Blue Valentine,
2010) de Derek Cianfrance, que apresenta o relacionamento de um casal, Cindy (Michelle Williams) e Dean (Ryan Gosling), de maneira não linear em que ao mesmo tempo em
que os vemos se conhecendo e cheios de amor, vemos eles se odiando e com o
relacionamento beirando ao fim.
Uma das poucas cenas que nossos protagonistas estão centralizados. |
Afinal, quando nos lembramos de
um relacionamento ao lembrarmos os momentos bons, já os misturamos com os
momentos ruins que vivenciamos... A linearidade vai por água abaixo
nessa tarefa de relembrar, logo filme como “Brilho
Eterno...”, “500 Dias...”, “Blue Valetine” e o tertuliado em questão
não passam da mais pura atividade mental de uma pessoa comum. Diferenças,
semelhanças e singularidades marcam relacionamentos e elas estão presentes no
filme, que passa por momentos de drama, comédia e romance... Nos ambientes
apresentados que vão desde um dia ensolarado até um quarto azulado em Paris,
assim o filme se transforma numa viagem sensorial única, ao mesmo tempo em que
é fascinante ela é dolorosa. O filme também é marcado por diálogos INSANOS,
recomendo que assista com um caderninho do lado para anotar as falas mais
marcantes, pois vou deixar esse prazer para você e não encherei você com mais
SPOILER.
"Comet" consegue transpor a ideia do sociólogo Zigmund Bauman de
modernidade líquida de maneira perfeita, nos mostrando um casal de pessoas
céticas modernas, sem crença em amores fantásticos ou eternos, eles são apenas
pessoas tentando se encontrar na chamada liquidez de nossa modernidade. Pois
hoje, não há mais solidez de ideias ou de comportamentos, vivemos em constates
transformações pessoais e nossos queridos protagonistas simbolizam isso muito
bem, pois as intensas mudanças de espaço e tempo apresentados mostram as
intensas mudanças que vivemos em nossa sociedade.
TRAILER LEGENDADO
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