quinta-feira, 17 de dezembro de 2015

TertúliaView: "O Valor de um Homem" (La Loi du Marché, 2015) de Stéphane Brizé


Para começar esse #TertúliaView eu já falo: sou um grande fã de "2001 - Uma Odisseia no Espaço" (1968), mas... O que eu entendi daquela história? NADA! Confesso mesmo! Não entendi porra nenhuma daquela piração... Só comecei a entender alguma coisa quando li finalmente o livro de Arthur C. Clark ano passado. Mas ai que está: talvez o que nos conquista em algo não é uma história narrativa certa e absoluta, mas sim as perguntas deixadas no roteiro para o público, que ficará mastigando a ideia por um bom tempo após o termino do filme.

+ "La Loi du Marché" (2015) de Stéphane Brizé

Poster do filme "La Loi du Marché"
O filme de Brizé não tem nada de sci-fi, mas tem muitos questionamentos jogados para o espectador, pois com uma fotografia bem "câmera na mão" ele dá um ar de realidade à obra que a todo momento pensamos: será que nesse momento eu agiria assim? Será que isso pode acontecer comigo? Logo o cinema como um espaço de experiência através da relação de empatia entre o espectador e o personagem se mostra importantíssimo e essencial nesse filme. Bem calmo, retratando a crise econômica mundial, que desde 2008 assombra países europeus como a França, sob a perspectiva de Thierry (Vincent Lindon) que, desempregado a algum tempo e precisando urgentemente de dinheiro, busca uma vida melhor, mas isso quer dizer que ele deve aceitar tudo? Olha só que questões fodásticas deixadas pelo diretor no filme... É impossível não travar no contexto das situações apresentadas.

Thierry (Vincent Lindon) e seu filho (Matthieu Schaller)
Podemos estabelecer um paralelo com o filme "Miss Violence" (2013) de Alexandros Avranas (já tertuliado por aqui), que é um filme BAD MONSTRA mesmo! Retratando a crise econômica e política que assola a Grécia num âmbito mais abrangente e, podemos dizer, mais preciso: uma crise moral... Em que o certo e o errado não são bem definidos, pois os exemplos de boa conduta em sociedade são ambíguos. 

Cena de "Miss Violence"

Ou como define bem o psicólogo Lawrence Kohlberg em sua "Teoria do Desenvolvimento Moral", que apresenta três níveis de evolução:
1) Pré-convencional: Em que agimos como uma criança mimada, sempre pensando como se livrar de punições e visando benefícios.
2) Convencional: Em que acreditamos na moral e nos bons costumes, "tudo o que é certo e errado está na lei", agimos como a maior parte da sociedade age.
3) Pós-convencional: Atingimos um nível de compreensão de mundo que percebemos que as leis nem sempre abarcam todas as possibilidades e o que é certo e errado podem transcender normas. 

Lawrence Kohlberg
Para deixar o role mais lúdico vamos para historinha! Outro dia estava num ônibus quando um vendedor ambulante vendia  chocolates... Ao começar a discursar sobre seu produto ele me surpreendeu, afirmando que seu produto sonegava impostos... Mas ao invés de mostrar que isso era uma atitude ruim, ele a defendia, alegando que isso é o melhor a fazer em tempos de crise, pois, segundo ele, mandando menos dinheiro para Brasília seria melhor... TRAVEI NA HORA! A partir dessa apresentação, que nível moral está uma pessoa que ao ver que sua sociedade é corrupta acredita que também tem todo o direito corrupto? Numa sociedade dependente de referências as atitudes convencionais podem ser bizarras! SE TODO MUNDO PULA DA PONTE, PULAR DA PONTE DEVE SER LEGAL... SIMBORA! Deste modo uma crise econômica e política pode ter sua origem numa sociedade que passa por uma crise moral e ética.


Outro filme francês muito interessante é o "Dois Dias, Uma Noite" (2014) de Jean-Pierre Dardenne e Luc Dardenne, em que conhecemos Sandra (Marion Cotillard) que vive sob um dilema: a empresa em que trabalha irá receber um bônus se ela for demitida... Numa crise econômica ninguém quer ser demitido e muito menos recusar um bônus em nome de uma colega. O certo e o errado desaparecem instantaneamente, sabemos sim, em nosso coração humilde, que nunca devemos aceitar dinheiro se outra pessoa saíra prejudicada, mas novamente, que moral podemos exigir de alguém numa sociedade em crise moral?

Cena de "Dois Dias, Uma Noite"
É basicamente esse dilema que nosso querido Thierry terá que lidar: ele irá se deixar levar? Ele irá se impor? Bem... Não comentarei mais nada pois seria revelar detalhes do roteiro, vulgo SPOILER... Mas queria reiterar: não são certezas que nos conquistam, mas sim dúvidas! Assim como "2001" de Kubrick só me deixou questionamentos, deixo um para você... Se cinema é uma forma de nos colocar em situações distintas das nossas, pense consigo mesmo: o que você faria?


FIQUE COM O TRAILER


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