quinta-feira, 10 de dezembro de 2015

TertúliaView: "Dope" (2015) de Rick Famuyiwa

Acredito que o cinema tem um papel fortíssimo para a formação de uma pessoa: como ela encara o mundo e como ela age no mundo. Confesso que minha paixão pelo cinema se deve muito pelo fato de me ajudar a ser quem sou hoje. Não consigo me imaginar atualmente sem ter visto filmes como "De Volta Para o Futuro" (1985) e "Curtindo a Vida Adoidado" (1986)... Mas afinal, são filme de famílias brancas da classe média americana, coisa MUITO diferente de mim... PRECISAMOS DE NOVAS NARRATIVAS, NÃO? SIMBORA!

+ "Dope - Um Deslize Perigoso" (Dope, 2015) de Rick Famuyiwa


O que um personagem de origem indígena tem haver com uma festividade de cultura celta? Basicamente TUDO! No último dia 31 de Outubro vimos discussões bem dualizadas na internet sobre o Halloween e o Dia do Saci, num momento tão extremado que estamos vivendo, é fácil nos encontrarmos no meio desses dualismos com definição absolutas. Assim como essas discussões maniqueístas me surpreenderam, o filme em questão me surpreendeu também. Pois, ao contrário do pouco respeito dos usuários de internet, o filme se pauta na questão da diversidade, do sincretismo... Malcolm (Shameik Moore) e seus amigos (Kiersey Clemons e Tony Revolori) são pessoas totalmente fora de série, pois são geeks que vivem num bairro violento de Los Angeles, Inglewood, curtem Hip Hop da década de 1990, andam por ai com uma bike BMX, possuem uma banda de punk rock, um é negro, um é latino e a outra é lésbica... Originalidade anda de mãos dadas com eles! E como uma sociedade extremada lida com o diferente? Com hostilidade. Esse é o dia a dia dos nossos protagonistas: problemas e mais problemas, até que um dia são convidados para uma festa, e nisso de "nerds estranhos" eles passarão a ser as pessoas mais procuradas de seu bairro.

Jib (Tony Revolori), Diggy (Kiersey Clemons) e Malcolm (Shameik Moore)
O filme então passa a lidar de maneira genial com as questões de cultura e identidade na pior fase da vida de uma pessoa: a adolescência. Eles não são Halloween ou o Dia do Saci, eles são a síntese de tudo isso, podem sair por ai gritando "gostosuras e travessuras" e em seguida ir a um Sarau do Dia do Saci... PQ NÃO? Esse sincretismo é algo genial no filme, não vemos jovens querendo ser rotulados, mas que desejam ser apenas eles mesmos, porém, para isso, terão de enfrentar traficantes, professores e reitores. Eles tinham um destino traçado: pobres, negros, o caminho do traficante jovem seria o mais fácil, pois numa sociedade em que se assemelha a um quebra cabeça, ou você se torna a peça que resta ou terá uma vida cheia de confrontos... E afinal, PQ NÃO ENFRENTAR TUDO ISSO? Ser você mesmo deve ser a melhor sensação do mundo! Famuyiwa parte para demonstrar isso: como é difícil ser você mesmo... E como lutar por isso é mais difícil ainda... e engraçado! Após as mil e uma INSANIDADES que acontecem na festa em questão, o filme ganha um patamar de loucura e realismo ao mesmo tempo. Vemos nossos protagonistas entrarem cada vez mais em enrascadas e como eles lutam unidos para saírem delas com suas "nerdices". Em cada aventura, uma forma de sair dela e de se manter de pé para seguir lutando por aquilo que você mesmo acredita. INSPIRADOR NÃO?


A minha paixão pelo filme "Curtindo a Vida Adoidado" (Ferris Bueller's Day Off, 1986) de John Hughes continua firme, afinal o filme me ajudou muito em minha formação como pessoa ao mostrar as inquietações de três jovens em meio a vida escolar e sua busca de querer algo a mais da vida... Famuyiwa faz algo semelhante, mas com personagens fora dos modelos estabelecidos, mostrando jovens que querem algo a mais da vida, que possuem horizontes quase nulos, se recusando a viver sob uma perspectiva de estereótipos. Se no passado Hughes me incentivou com Bueller, agora é com Malcolm de Famuyiwa que o cinema mostra sua força de inspiração para mim. Agora é enfrentar um mundo dualizado com minha diversidade!

SACA SÓ ESSA CENA DE "DOPE"

FIQUE COM O TRAILER
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