Acredito que o cinema tem um
papel fortíssimo para a formação de uma pessoa: como ela encara o mundo e como
ela age no mundo. Confesso que minha paixão pelo cinema se deve muito pelo
fato de me ajudar a ser quem sou hoje. Não consigo me imaginar atualmente sem ter
visto filmes como "De Volta Para o Futuro" (1985) e "Curtindo a Vida Adoidado" (1986)... Mas afinal, são filme de famílias brancas da classe
média americana, coisa MUITO diferente de mim... PRECISAMOS DE NOVAS NARRATIVAS, NÃO? SIMBORA!
+ "Dope - Um Deslize Perigoso" (Dope, 2015) de Rick Famuyiwa
O que um personagem de origem
indígena tem haver com uma festividade de cultura celta? Basicamente TUDO! No
último dia 31 de Outubro vimos discussões bem dualizadas na internet sobre o Halloween e o Dia do Saci, num momento tão extremado que estamos vivendo, é fácil nos encontrarmos
no meio desses dualismos com definição absolutas. Assim como essas discussões
maniqueístas me surpreenderam, o filme em questão me surpreendeu também. Pois,
ao contrário do pouco respeito dos usuários de internet, o filme se pauta na
questão da diversidade, do sincretismo... Malcolm (Shameik Moore) e seus amigos
(Kiersey Clemons e Tony Revolori) são pessoas totalmente fora de série, pois
são geeks que vivem num bairro violento de Los Angeles, Inglewood, curtem Hip
Hop da década de 1990, andam por ai com uma bike BMX, possuem uma banda de punk rock, um é negro, um é latino
e a outra é lésbica... Originalidade anda de mãos dadas com eles! E como uma
sociedade extremada lida com o diferente? Com hostilidade. Esse é o dia a dia
dos nossos protagonistas: problemas e mais problemas, até que um dia são convidados
para uma festa, e nisso de "nerds estranhos" eles passarão a ser as
pessoas mais procuradas de seu bairro.
O filme então passa a lidar de
maneira genial com as questões de cultura e identidade na pior fase da vida de
uma pessoa: a adolescência. Eles não são Halloween ou o Dia do Saci, eles são a
síntese de tudo isso, podem sair por ai gritando "gostosuras e travessuras" e em
seguida ir a um Sarau do Dia do Saci... PQ NÃO? Esse sincretismo é algo genial
no filme, não vemos jovens querendo ser rotulados, mas que desejam ser apenas eles mesmos, porém, para isso, terão de enfrentar traficantes, professores e reitores. Eles
tinham um destino traçado: pobres, negros, o caminho do traficante jovem seria
o mais fácil, pois numa sociedade em que se assemelha a um quebra cabeça, ou
você se torna a peça que resta ou terá uma vida cheia de confrontos... E
afinal, PQ NÃO ENFRENTAR TUDO ISSO? Ser você mesmo deve ser a melhor sensação
do mundo! Famuyiwa parte para demonstrar isso: como é difícil ser você mesmo...
E como lutar por isso é mais difícil ainda... e engraçado! Após as mil e uma
INSANIDADES que acontecem na festa em questão, o filme ganha um patamar de loucura e realismo ao mesmo
tempo. Vemos nossos protagonistas entrarem cada vez mais em enrascadas e como
eles lutam unidos para saírem delas com suas "nerdices". Em cada
aventura, uma forma de sair dela e de se manter de pé para seguir lutando por
aquilo que você mesmo acredita. INSPIRADOR NÃO?
A minha paixão pelo filme "Curtindo
a Vida Adoidado" (Ferris Bueller's Day Off, 1986) de John Hughes continua
firme, afinal o filme me ajudou muito em minha formação como pessoa ao mostrar as
inquietações de três jovens em meio a vida escolar e sua busca de querer algo a
mais da vida... Famuyiwa faz algo semelhante, mas com personagens fora dos
modelos estabelecidos, mostrando jovens que querem algo a mais da vida, que possuem horizontes quase nulos, se recusando a viver sob uma perspectiva de estereótipos.
Se no passado Hughes me incentivou com Bueller, agora é com Malcolm de Famuyiwa
que o cinema mostra sua força de inspiração para mim. Agora é enfrentar um mundo dualizado com minha
diversidade!
SACA SÓ ESSA CENA DE "DOPE"
FIQUE COM O TRAILER
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