Tertúlia Indica: Corrente do Mal (It Follows, 2015) de David Robert Mitchell
Nem deve ter doído...
É algo que tenho um pouco de
vergonha de assumir: minha paixão pelo gênero terror. Afinal, sempre tem muita coisa ruim e cheia de clichê, mas quando saialgo bom
é para nos dar uma obra prima do cinema. Bem vindo ao gênero do
terror, que nos presenteou com "O Massacre da Serra Elétrica" (1974),
"O Iluminado" (1980) e "The Babadook" (2014, confira nosso #TertúliaView); mas que
infelizmente nos apresentou inúmeras continuações desnecessárias e remakes
ridículos! Mas se preocupa não iremos falar de filme bom hoje!
+ Corrente do Mal (It Follows,
2015) de David Robert Mitchell
"Atraente, intrigante e
enigmático", talvez sejam bons termos para falar desse filme, pois, num
gênero que parece estar esgotado, quando algo distinto surge o vemos com outros olhos. Nisso o filme de Mitchell manda muito bem! Se estamos
esgotados, porque não trabalhar com algo que fuja de tudo isso? Deste modo cria
um clima macabro de maneira fantástica, indo muito além do perturbador, sempre com pinceladas
de um drama pesado, criando uma sensação nova perante tais tipos de filme. Se
formos falar da fotografia do filme estarei simplesmente de joelhos perante
tais imagens, LINDO DEMAIS! Dando sempre um clima ainda mais intenso e nos
deixando muitas vezes desnorteados... E adicionando a trilha sonora meio
indie/sintetizador de Disasterpeace deixa qualquer um sem noção para onde fugir.
A difícil vida da classe média estadunidense...
Jay (Maika Monroe), Kelly (Lili Sepe), Paul (Keir Gilchrist) e Yara (Olivia Luccardi)
Após essa descrição do ambiente
podemos partir para fazer referências muito interessantes, afinal, qual diretor
de cinema compôs trilhas sonoras INSANAS com um sintetizador? O mestre John FUCKING Carpenter! De filmes como "Eles Vivem" (nosso #TertúliaIndica), "Halloween" e
"O Enigma de Outro Mundo" (nosso #TertúliaIndica), que sempre noticiavam um mal estar social.
Deste modo podemos estabelecer outro paralelo, afinal, o filme em questão se passa em Detroit, a então cidade da prosperidade,
uma das cidades mais ricas do mundo, devido a indústria automobilística,
mas que hoje é uma cidade abandonada.
John Carpenter no maior estilão LIKE A BOSS...
Umas das poucas cenas em que vemos a mãe de Jay... Temática sobre jovens levada a sério aqui! Participação dos papais é zero!
É nesse ambiente que conhecemos
nossas protagonistas, Jay (Maika Monroe), sua irmã e seus amigos, todos com a
típica rotina estadunidense de subúrbios padronizados. Não possuem nada para
fazer, simplesmente vão a escola, assistem filmes B antigos na televisão e
marcam encontros com seus futuros namorados, esperando terem um belo de um "happy end". Nada de novo, não é? Mas quando Jay
resolve fazer sexo com seu novo namorado, Hugh (Jake Weary), e então algo de absurdo acontece! Hugh transmite
algum tipo de maldição: a partir dai Jay será perseguida por uma entidade
assassina, que adquire a forma de diversas pessoas e a única maneira para se
livrar disso é "passar o mal adiante". BIZARRÃO NÉ? Mas calma... O role é daora sim! Muitos consideram essa
premissa como algo relacionado com DST's e assim o filme adquiriria um discurso
mais conservador, afirmando a máxima: "se Jay tivesse escutado seus pais,
nada disso teria acontecido". Mas acredito que o diretor fez algo mais
INSANO, algo mais original! Acredito que ele realizou um reflexo do fim da
virgindade durante a adolescência, sendo uma desonra ou um peso que muitos jovens
carregam. Algo como se todos ao redor soubessem que ela transou e a julgassem
por isso. Deste modo Mitchell cria um caráter mais social a sua obra.
Pica Pau já nos ensinava desde pequenos...
É dentro de um carro que Jay revela seus sonhos... É dentro de um carro que a maldição é transmitida... Alguma referência a antiga popularidade de Detroit?
Unindo a premissa da "cidade-túmulo",
como é conhecida a cidade de Detroit, e do peso da quebra da moral e dos bons
costumes, vemos nossa protagonista fugindo todo o tempo de pessoas semelhantes
a fantasmas ou mortos vivos, que nos lembra muito a obra prima "A Noite dos Mortos-Vivos" de George Romero. É tanta referência, que o filme é
marcado por uma atemporalidade INSANA, pois vemos aparelhos tecnológicos em
meio a filmes de 1940, uma Detroit destruída e carros que não acabam mais. Uma
contradição marcante pra deixar qualquer um com um pulga atrás da orelha. Nessa contradição, na
probabilidade da morte, no inexplicável o filme vai criando forma, sendo
inovador e saudosista em diversos momentos. Infelizmente o filme não é só
aplausos, em diversos momentos cai em clichês desnecessários, mas nada que faça
perder a originalidade e o mais importante: a INSANIDADE.
Um tio peladão no seu telhado? Aqui em "It Follows" isso é o de menos...
Mais um .GIF daora que eu encontrei na internet...
PS with SPOILER: Muitos reclamaram do final do filme, sim... poderia ser melhor... Mas acho que essa cena aqui valeu todo o role! SACA SÓ!
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