PARTE 2
Shaft (1971) de Gordon Parks |
Mas o cinema Blax nunca
se tornou um cinema militante, tanto que seu nome surgiu após um critica
pejorativa a esse tipo de filme (numa tradução livre "Blaxploitation"
seria algo como "exploração dos negros"), pois muitos alegavam que
esse tipo de cinema somente fazia com que brancos lucrassem com os negros. Mas podemos
afirmar que esses filmes eram sim politizados, mesmo até aqueles voltados para o
mais chulo entretenimento, havia sempre um detalhe de rebeldia. Como exemplo, um tema muito
abordado por esses filmes, foi a violência policial, que até então essa questão
era abordada de maneira sugerida, adquirindo aqui um representação frontal
(explícita), deste modo todos
os policiais (sempre brancos) que eram apresentados nos filmes são idiotas, corruptos, preguiçosos
e mantenedores da opressão. Assim vemos que toda essa rebeldia em seu cinema era uma resposta a essa
repressão sempre presente na vida do negro dos Estados Unidos.
Mas e como ficam nossos heróis
(negros) nessas história? Bem, não são nenhum exemplo de moral e de bons
costumes, são heróis ambíguos que não possuem uma glorificação total. No
filme "Shaft" (1971) de Gordon Parks vemos nosso protagonista dividido no engajamento
(militância), não se engaja mais permanece lutando independente (politicamente
ativo), ou como no filme "The Mack" (1973) de Michael Campus em que dois amigos de longa data
crescem e tomam caminhos distintos: um com a perspectiva de que a vida é
"mulher e dinheiro" e o outro na luta feroz ao lado dos Panteras
Negras. Esse dualismo de nossos heróis faz de suas vidas curiosas, trabalhando
dentro e fora do sistema, possuindo um vida a margem de tudo e tirando o que
lhe convinham de dentro do sistema, "não estão amarrados", possuem
liberdade de transitar e negociam sempre seu lugar no mundo.
The Mack (1973) de Michael Campus |
CENA DE "SHAFT"
Saca só a letra da música: "Quem é o negão gostoso particular/Que é uma máquina de sexo para todas as garotas?/Shaft!/Você estão certíssimas/Quem é o cara/Que arriscaria seu pescoço por um amigo?/Shaft!/Você curte?/Quem é o cara que não dá pra trás/Quando o perigo está por aí/Shaft!/Ok/Você sabe que esse cara é um grande filho da.../Cala a boca/Mas eu estou falando do Shaft/Então nós podemos continuar/Ele é um homem complicado/Ninguém o entende menos sua mulher/John Shaft"
Vendendo sempre uma intensa
imagem de poder e confiança de seu estilo "cool", como o personagem Shaft, que não "pede licença" em nenhum momento de seu filme, mas é o
mundo que para ele. FODA NÉ? Mas infelizmente esse aspecto Badass reverbera o estereótipo de negro
sexualizado (exemplo: negros possuem o pênis grande) ou da coisificação da
mulher (exemplo: mulher como objeto, servindo somente para o sexo).
FOXY BROWN: "Mulheres são somente peitos..." |
SUPERFLY: "Sou negão e por isso tenho o pinto grande..." |
De tal modo acho essencial que
conheçamos um pouco do grande músico Questlove, que alerta que a indústria cultural sempre
"despontencializará" essas narrativas, pois esses contos rebeldes
acendem o fascínio e o medo no imaginário dos espectador, isto é, despertam o
deslumbramento perante um indivíduo que vive fora do sistema e não possui limites,
mas por isso mesmo esse indivíduo pode causar a corrosão de todo o sistema e
assim esse lado de ameaça é ocultado em muitas narrativas. Dessa maneira a comunidade
negra está em constante negociação de seu espaço com a comunidade branca, nesse
choque de ideais é que surgiram os resultados do Blaxploitation (negros com
desejo de fazer filmes vs. brancos detentores das produtoras).
Cleopatra Jones (1973) de Jack Starrett |
Nesse sentido de negociação
constante entre os negros e os brancos é que o Blaxploitation surge utilizando de três vias: utilizando de "samplers", com "subversão" e o
chamado "afrofuturismo".
O caso dos "samplers" é algo muito
interessante e é o que fez os filmes "Blax" muito populares, essa maneira
utilizava da mitologia cinematográfica (signos) readaptando para personagens
negros, como o filme "100 Rifles" (1969) que utilizou o gênero icônico do
faroeste (western) com um negro como
protagonista, utilizando da tradição branca de John Wayne para assimilar um
protagonista negro (a negociação defendida por Questlove). Outros exemplos de
"samplers" que podemos mencionar seria "Cleopatra Jones",
numa possível alusão de tecnologias da série 007.
Deste modo temos o filme
"O Chefão do Gueto" (Black Caesar, 1973) de Larry Cohen (sim, o mesmo diretor de "The Stuff") que tem como "sampler" os filmes de
gangster, utilizando signos apresentados em filmes como "Scarface - A
Vergonha de Uma Nação" (1932) inserindo a figura do negro, como, por exemplo, a
trilha sonora.
SACA SÓ ESSA TRILHA SONORA...
MUSICA ITALIANA + BLACK MUSIC!
MUSICA ITALIANA + BLACK MUSIC!
Acredito que o melhor exemplo de "sampler" que temos seria a adaptação de Vampiro (sempre branco) pelos filmes "Blax", com "Blácula, O Vampiro Negro" (Blacula, 1972) de William Crain, em que conhecemos um príncipe africano que é transformado em vampiro pelo próprio Drácula. De tal modo esse filme trabalha com a ideia de sedução, que ao invés de brancos europeus tinham negros, mostrando uma grande desordem na tradição cinematográfica. Mas infelizmente o filme peca em outros momentos, como as primeiras vítimas de Blácula, que são homossexuais, sustentando a fragilidade de minorias em narrativas cinematográficas.
E é nesse contexto que surge a "subversão", pois com o estrondoso sucesso dos filmes "Blax" as produtoras começaram a dar mais liberdade criativa para seus diretores, assim surge um dramaturgo chamado Bill Gunn, que lança o inteligentíssimo "Ganja and Hess" (1973), também do gênero vampiresco, inspirado e muito com as características da Nouvelle Vague francesa, sendo marcado pela descontinuidade narrativa, dando um forte sensação de mal estar (muito diferente das narrativas vampirescas) com grandes questões existenciais e metalinguísticas. Assim o filme subverte o "Blaxploitation", pegando o que há de canônico nele e o subverte, colocando uma difícil discussão sobre o negro em meio a sociedade racista: ser negro é algo como ser um vampiro, enfrentando todo dia uma sociedade que o estranha sempre.
Poster de "Ganja and Hess" (reparei agora, é o mesmo protagonista de "A Noite dos Mortos-Vivos" do Romero). |
"Ganja and Hess" (1973) de Bill Gunn |
"Space Is The Place" (1974) de John Coney |
"O Sétimo Selo" (Det Sjunde inseglet, 1957) de Ingmar Bergman |
Mesmo com tantas brisas locas o Blaxploitation se esgota, as história começam a ser muito repetitivas, (continuações desnecessárias e filmes como "The Black Gestapo"), mas seu impacto na filmografia é indiscutível (tanto que em 2015 tem um cara aqui escrevendo algo sobre e tem outro mané lendo ele agora, sacou?).
Diretor Spike Lee |
"Jackie Brown" (1997) de Quentin Tarantino |
PARA FINALIZAR ESSE ROLE, FIQUE COM O TRAILER DE
Leia a 1ª PARTE aqui.
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PS: Todas as brisas desse post foram tiradas do curso "Blaxploitation e o cinema negro" que aconteceu no CineSesc em Janeiro desse ano. Por isso aqui vai meu agradecimento ao Heitor Augusto e o link do seu Blog (ursodelata.com).
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