sábado, 28 de fevereiro de 2015

TertúliaView: Os Invasores de Corpos (Invasion of the Body Snatchers, 1978) de Philip Kaufman



Direção: Philip Kaufman
Roteiro: W.D. Richter
Elenco: Donald Sutherland, Brooke Adams, Jeff Goldblum, Leonard Nimoy

   Filmes de ficção científica talvez seja uma dos gêneros mais antigos do cinema. George Méliès no inicio do século estava imaginando como seria uma Viagem a Lua (1903). Se antes da década de 1950 não houve tantos filmes deste gênero, a partir deste houve um boom. Estamos fazendo filmes de alienígenas, monstros, viagens espaciais, estamos externando nossos medos, ainda mais depois de vermos o homem explodir uma bomba atômica e viver este medo na Guerra Fria. Em 1956 este é o pano de fundo do primeiro filme lançado no Brasil com o nome Vampiros de Almas. Pegando um pouco o medo dos comunistas nos EUA, o filme fala dessa perseguição desenfreada ao "perigo vermelho". 

 Olá Seu Couve Gigante, gostaria de conceder uma entrevista?
(Vampiros de Almas, 1956)

Os Invasores de Corpos (Live-action), 1945-1991

   Se ainda estamos na Guerra Fria durante o remake em 1978, que foi lançado no Brasil com o nome Os Invasores de Corpos, dá pra questionar se a questão do "perigo vermelho" ainda está presente no filme ou se ele caminha para um outro questionamento, para a questão do outro. Mas se isso não dá pra ter certeza, o filme com certeza mostra que temos um inimigo, porém como se defender de um inimigo que não tem como ser identificado? Afinal, os EUA na Segunda Guerra Mundial tinha um nêmesis: um senhor com uniforme pardo, cabelo lambido e bigode de broxa (esse é o nome do bigode do Hitler e do Chaplin, que coisa não). Mas, e quando esse inimigo tem um rosto conhecido, amigável? Ai a coisa muda né! Dai vem a questão do outro, pois, se o inferno são os outros como fica quando conhecemos este outro? O inimigo com cara amigável é o horror que qualquer filme pode trazer pela fraqueza e hesitação que provoca no nosso herói de 2 horas. Nisso temos os romances que quase todo filme de terror tem, pois as emoções pode ser o caminho mais rápido para a perdição, mas também para a redenção. Como o filme mostra, quando nós despimos da capacidade do ser humano de sentir o que sobra? Além disso, quer algo mais atual do que um filme sobre uma guerra invisível e um inimigo difícil de ser identificado?

PETISTA!
Vampiros de Almas (Live-Action, USA Edition) 2001-atual

TRAILER

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quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015

Tertúlia Indica: "O Segredo da Múmia" (1982) de Ivan Cardoso

Uma divina de uma BOSTA! É como se pode resumir esse filme de Ivan Cardoso. Possuindo uma narrativa bem especulativa acerca da ciência e da loucura que não leva a nenhuma conclusão... Mas é aquela história "QUANTO PIOR, MELHOR!", e assim mais um clássico do Cinema Trash é construido na década de 1980!

+ "O Segredo da Múmia" (1982) de Ivan Cardoso


A jornalista Laura Loguercio Cánepa possui um grande trabalho acerca do cinema de horror no Brasil, em que mostra que o primeiro filme genuinamente de terror nacional seria "Alameda da Saudade, 113" (1951) de Carlos Ortiz, embalado pela popularidade dos clichês de sci-fi e terror da década de 1950 nos EUA. Muitos desses filmes não se sustentaram com o passar do tempo e assim muitos podem até jogar a estúpida ideia de que não temos cultura para isso, mas, segundo a própria autora, os principais obstáculos parecem ter sido mesmo outros: repetidas crises que o país passava e abruptas mudanças de regimes políticos (saca a Ditadura Militar?). Que Tornaram inviáveis a repetição de fórmulas e a consolidação de tais gêneros na nossa indústria do cinema nacional. Nosso auge surgiria na década de 1960 e 1970, com José Mojica Marins e seus INSANOS filmes (veja nosso #TertúliaIndica de "À Meia-Noite Levarei Sua Alma") que influenciaram nosso cinema (como o internacional) a criar mais filmes nesse estilo, como Walter Hugo Khouri e o seu gótico "O Anjo da Noite" (1974). Surgi então em São Paulo o movimento conhecido como "Boca de Lixo", abrindo definitivamente as portas para o cinema de baixíssimo orçamento, experimental e escrachado, identificada sobretudo nas pornochanchadas.
O filme se assemelha à HQs ao apresentar tais esquetes.
"Tá legal, se esse cinema era tão foda assim pq sabemos tão pouco dele?"... É ai que está meu queridx tertulianx, querendo ou não o cinema de horror nunca foi dos mais agradáveis para o grande público (leia-se elite cultural), ou como diz a própria Cánepa diz acerca desse tipo de cinema que "sempre houve preconceito no meio artístico e cinematográfico contra um tipo de filmografia considerada vulgar, folclórica, não-intelectualizada. Por ser uma manifestação popular de massa, o horror nunca agradou à elite brasileira. Até o pessoal do Cinema Novo, que no início também tinha uma perspectiva anárquica e marginal, torceu o nariz para o gênero". E assim com o desastre econômico que vivemos, com as conclusões das políticas ridículas que vivemos por mais de 20 anos da Ditadura Militar e com a política nada favorável para a cultura de Collor, o cinema nacional, principalmente o de terror, teve de se contentar com poucas produções e com narrativas mais apreciadas pelo público, como os  filmes-deboche e o chamado "terrir", um terror mais voltado para as comédias.

Wilson Grey e Felipe Falcão
E nesse momento que se enquadra nosso filme de hoje, "O Segredo da Múmia" de Ivan Cardoso, utilizan-se de narrativas tradicionais, mas sempre adicionando onde podia algum aspecto de terror e de comédia. A nossa aventura de hoje centra na figura de um pesquisador chamado Expedito Vitus (Wilson Grey), que foi ridicularizado pelo mundo todo ao tentar encontrar o "elixir da vida", que agora, parte para encontrar o corpo da múmia de Runamb. Assim o filme incorpora muitos, mais MUITOS clichês mesmo, o Dr. Vitus se transforma em uma versão de Dr. Frankenstein ao buscar essa imortalidade e ter um assistente bem BIZARRO chamado Igor (Felipe Falcão)... Como disse é uma geração de terror que deve agradar ao público, assim tem muita, mais MUITAS cenas de sexo e de mulheres nuas no decorrer do filme (acredito que todas as atrizes do filme atuaram nuas em alguma cena).

Perai... é a Regina Casé?
Para agradar também ao público que gosta de filmes épicos, a obra passa a retratar como foi a vida de Runamb (Anselmo Vasconcelos) no Egito antigo, que de rico mercador se transforma em um assassino psicopata por não ter seu amor correspondido... E assim é condenado a ser mumificado! LEGAL NÃO?

É... é a Regina Casé!
E assim o filme perde totalmente o foco em sua história, mostrando raptos de mulheres e as suas transformações em seres animalescas... A busca incansável de um repórter em descobrir a verdade da nova fama do Dr. Vitus... A traição de sua esposa com um amigo de pesquisa... A paixão da múmia para uma repórter muito semelhante a sua amada no passado... Sinceramente, uma mistureba loca que tentou agradar todos, mas no fim poucos apreciaram a obra de Cardoso. 


Um ponto muito interessante do filme que deva se destacar seria a representação do cientista de Dr. Vitus, em determinado momento está no Egito atrás da múmia e logo após está numa lousa resolvendo contas indecifráveis de matemática ou num laboratório manuseando substâncias das cores mais estranhas... Se não exaltando personagens famosos da literatura mundial, percebemos que seria um filme para exaltar clichês, sobre a figura do cientista, da mulher, da imprensa e outros estereótipos que você verá no filme. 

Matemático... Químico... Especialista em Literatura... ISSO QUE É PENSADOR HEIN!
Mas sinceramente... Esse filme está aqui no #TertúliaIndica pelo motivo já apresentado: QUANTO PIOR, MELHOR! Sim, isso mesmo... O cinema de baixo orçamento (trash) sempre se popularizou pelo mundo não por apresentar enredos coerentes, muito longe disso, foi por mostrar história em que a imaginação do diretor beirava à INSANIDADE e desafiava as normas de como fazer cinema... E o filme em questão é um ótimo exemplo disso!

"A múmia vai te pegar..."
Atualmente o cinema de terror nacional tem visto uma ampliação do uso da tecnologia, com um número cada vez maior de jovens amadores com produções próprias, amantes do underground e a cultura pop. Os novos espectadores se encontram os mesmos gostos estéticos – da transgressão, da violência, da tensão... Se um dia o problema foi público, hoje o panorama está diferente. Com diretores como Rodrigo Aragão (de #Mangue Negro e #Mar Negro), talvez essa nova geração, tanto de cineastas, como de espectadores, resgatem esses cineastas menosprezados... O futuro se faz agora galera! Vamos colocar nossas gravatas e EXPERIMENTAR!

Num é à toa que o Dr Vitus dormiu em cima de um livro escrito o nome de Boris Karloff
Para finalizar esse #TertúliaIndica vamos apresentar algumas cenas GENIAIS (leia-se trash) do filme... SAQUEM SÓ!

"MAS QUE PORRA DE MOTEL É ESSE?"

 "O NEGÓCIO É EXPERIMENTAR"

Após essas duas cenas de pura intensidade e atuação... Finalizo a brisa de hoje com o trailer do filme!

TRAILER
clique aqui

Se quiser brisar um pouco mais sobre o terror brasileiro, consulte esse INSANO artigo da "Revista de História", clique aqui.

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terça-feira, 24 de fevereiro de 2015

Tertúlia Indica: "Mangue Negro" (2008) de Rodrigo Aragão

O grande Rodrigo Aragão já teve uma análise realizada aqui no blog, sobre o filme "Mar Negro" (2013), mas agora vamos com seu primeiro longa-metragem, o também negro, "Mangue Negro" (2008). Com muito insanidade na cabeça e com uma gravata no pescoço começamos nosso #TertúliaIndica de hoje!

+ Mangue Negro (2008) de Rodrigo Aragão



Quem nunca ouviu a música "Manguetown" de Chico Science & Nação Zumbi? Talvez seja essa a inspiração de Aragão para fazer essa grande obra prima do GORE!

"Fui no mangue catar lixo
Pegar caranguejo
Conversar com urubu"

(JÁ PENSOU ENCONTRAR UM ZUMBI?)
clique aqui 

Fica com a sinopse ai: "Certo dia, em uma comunidade de pescadores e catadores tão pobre quanto fora do tempo, a natureza resolve mostrar seu lado macabro. Do manguezal de onde sai o mísero sustento emergem zumbis canibais. Ninguém sabe o que causa a contaminação. O que importa é fugir e sobreviver para fugir de novo."(by Cineplayers)


Mas velho, você pode chegar aqui e falar... "Putz, mais um filme de zumbi"... É, mais um filme de zumbi sim... MAAAS, conta com a genialidade de Aragão que transforma essa história essencialmente GORE em uma obra de arte! ISSO MESMO!


Baixo orçamento nunca foi desculpa para que diretores INSANOS surgissem pelo mundo, vide Peter Jackson e seu "Bad Taste" (1987) (ou como no título nacional, "Náusea Total") ou David Cronenberg e o seu "Calafrios" (Shivers, 1975)... É nesse meio que surge o capixaba Rodrigo Aragão, que pega uma história simples, zumbis e uma dama em perigo, transformando numa obra prima que faz nossa cabeça pirar. Envolvendo diferentes moradores do mangue com histórias paralelas que se cruzam de maneira perfeita.


A maquiagem desse filme é sensacional, se não foi possível contratar atores famosos ou grandes cenários é na maquiagem que o filme mostra um de seus pontos positivos... contando sempre com a criatividade da produção.


Outro ponto interessantíssimo desse filme é a câmera, afinal se a câmera é a nossa perspectiva na narrativa, Aragão consegue deixar nossa perspectiva totalmente desorientada com ângulos inesperados, aproximações, cortes e muitas outras técnicas que mostram que realmente esse filme não é mais um do gênero de zumbi. 


E nessa correria louca, temos uma parte muito interessante com uma personagem chamada Dona Benedita, em que é retratada como uma grande fonte de sabedoria, tanto da comunidade do mangue como de tratamentos de pessoas mordidas por zumbis!!! VELHOS SÃO FODAS HEIN... 

"Sopa de Taioba sem pimenta num da certo não."
Por causa desses aspectos tão inovadores realizados alguém autodidata o filme merece entrar na sua lista de "filmes para assistir". Segundo o próprio diretor, ele aprendeu tais técnicas através de repetidas tentativas e assistindo filmes e seus respectivos 'making of'. O RESULTADO? Prêmios que não acabam mais pelo mundo: Brasil, Argentina, Chile, Inglaterra e o Cosmos é o limite! 


Recriando momentos que "amamos tanto" em filmes como "Evil Dead" (1981) de Sam Raimi ou em produções de George Romero, faz um filme único ao adaptar a clássica história de zumbis para a vida nos mangues. PERFEITO!


Se liga na trilha sonora desse filme, realizada pela Orquestra Sinfônica do Estado do Espírito Santo, que faz com que nossa mente pire com cada cena de correria desse filme. Basicamente o filme é pura correria, quase um "Corra Lola Corra" (Lola Rennt) de Tom Tykwer com zumbis! Fique com essa cena abaixo:


Em vez do costumeiro "FIQUE COM O TRAILER" após a análise tertuliana, hoje deixo o MAKING OF do filme... simplesmente INSANO!




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sábado, 21 de fevereiro de 2015

TertúliaView: Acima das Nuvens (Clouds of Sils Maria, 2014) de Olivier Assayas

Falar da sempre INSANA Juliette Binoche, é mexer com inúmeros fãs que a atriz francesa possui ao redor do mundo. Logo percebemos que é um caminho arriscado que Olivier Assayas resolveu entrar ao escrever e dirigir o filme em questão, mas tenho que admitir, ele mandou muito bem aqui. O risco sobrou mesmo para minha pessoa, que resolveu bolar um #TertúliaView sobre o filme. BORA LÁ ENTÃO!

+ Acima das Nuvens (Clouds of Sils Maria, 2014) de Olivier Assayas



Para deixa-los mas dentro dessa explosão de mentes aqui, apresento um pequeno resumo do filme. A atriz de longa data Maria Enders (Juliette Binoche) está passando por um momento difícil de sua vida, se divorciando e seu melhor amigo e mentor Wilhelm Melchior acabou de morrer. É nesse momento que ela é convidada por um jovem diretor a atuar na nova versão da peça "Maloja Snake", do falecido Melchior, que há 20 anos marcou o início de seu sucesso como atriz. Na época ela interpretou a jovem Sigrid, um jovem sedutora que tem um caso com sua chefe, Helena. Mas agora ela é convidada para atuar como Helena e a partir dai que o filme começa a ficar MUITO FODA! Enders parte para Sils Maria, nos alpes suíços, ao lado de sua assistente Valentine (Kristen Stewart), para encarar esse momento de transformações intensas em sua carreira e vida.


O filme se desdobra com questionamentos muito interessantes, crises e incertezas da personagem de Binoche, como o TEMPO! Como esse maldito pode influenciar na nossa mente e enfrentá-lo talvez seja a coisa mais difícil de nossas vidas. Deste modo que vai se desenvolvendo o filme, um debate sobre o velho e o novo, a identificação com o você hoje (adulto) e as diferenças de mentalidades existentes entre gerações distintas. Nossa protagonista se vê envolta por uma nova geração: sua assistente com o intenso desejo de se ver com liberdade, um nova atriz mesquinha (Chloë Grace Moretz) para assumir seu antigo papel, numa remontagem da antiga peça por um jovem diretor. O que restou de seu mundo? Pouca coisa, já que se mentor morreu e seus poucos amigos já não lhe interessam mais. A insegurança está muito presente na vida de Enders.


A personagem de Stewart é fantástica! Sim isso mesmo! Stewart finalmente conseguiu sair da "cara de bunda" que vinha fazendo a muito tempo em diversos filmes. Ela possui uma intensa relação com sua chefe, indo além da relação profissional e assim, a peça de "Maloja Snake" (da relação da garota jovem com sua chefe), parece acontecer diante dos nossos olhos no decorrer do filme. Chegando a um momento que não conseguimos mais discernir se as conversas entre elas são os ensaios da peça ou conversas reais entre elas. Metalinguagem inteligentíssima de Assayas, já que as carreiras de Binoche (atriz reconhecida de longa data) e de Stewart (novo sucesso de Hollywood) se confundem com suas personagens. A personagem de Stewart (Valentine) tenta mostrar a Enders que pode haver valor nessa nova geração, no caso, de filmes de sci-fi e de super heróis (ou de vampiros?), coisa que sua chefe está sempre ironizando. Assim o filme continua com a pira de refletir sobre o novo e o velho, adicionando questões cinematográficas e sobre a vida.   


A casa em que estão ensaiando, que pertencia ao falecido Melchior, encontra-se nos Alpes suíços, isto é, ACIMA DAS NUVENS (como no título nacional), tais nuvens que nunca param de se mover, assim como tempo, que aterroriza tanto nossa protagonista. Perdida ao dar vida a uma personagem que sempre considerou velha e fraca, momento que acreditou nunca chegar em sua vida, mas é o momento em que se encontra, em oposição a sua juventude cheia de sonhos ao interpretar Sigrid. É basicamente isso que o filme trata: as mudanças, mas malditas mudanças... no teatro, no cinema e mais precisamente na vida. Como no próprio roteiro do filme, que é divido em três partes, no primeiro temos uma Binoche como uma diva, com um penteado cheio de glamour, mesmo com tantos problemas em sua vida. Na segunda parte já encontramos ela com um corte de cabelo menor e com roupas mais simples, isolada do mundo "abaixo das nuvens" nos alpes suíços de Sils Maria.


Na primeira parte do filme conhecemos a vida intensa de Enders sendo requerida para entrevistas e atuações, todas recusadas por ela mesmo, na terceira parte do filme ela muda sua atitude, atendendo convites dos até então ignorados sci-fi. Contradição muito bem explorada no filme, que possui infinitas referências a mais, mas me contento com essas aqui para não estragar sua sessão de "Acima das Nuvens".



(SPOILER) Em um determinado momento do filme Maria Enders assume que seu principal temor ao interpretar a personagem Helena no teatro, ela é uma pessoa mais velha cheia de incertezas e que, a então atriz que atuou há 20 anos, morreu num acidente após essa peça. Isso que Enders tem mais medo: de morrer! Assim, mesmo que a peça deixe um final ambíguo para a personagem Helena com seu desaparecimento, nossa protagonista acredita que a morte é o único fim para ela. Mas no decorrer do filme quando em mais uma de suas caminhadas com Valentine pelos Alpes, enigmaticamente sua assistente desaparece. Parece que o sonho de Enders se realiza, o novo desaparece (Sigrid) e ela pode continuar vivendo, numa oposição a história de Melchior. Um jogada interessantíssima do filme que ainda me deixa pensativo. (/SPOILER)


Acredito que vou gostar muito de ler esse texto daqui uns 20 anos, pois ai sim estarei vivendo tais incertezas que Enders aqui vive e também estarei confrontando o meu eu de hoje, que daqui há 20 anos será passado. Aguardarei esse momento com ansiedade, afinal estarei com bastante mudanças nas malas, talvez serei uma Helena ou algo totalmente diferente, vamos esperar para ver essa INSANIDADE!


TRAILER LEGENDADO

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quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

Tertúlia Indica: Eles Vivem (They Live, 1988) de John Carpenter


Direção: John Carpenter
Roteiro: John Carpenter e Ray Nelson
Elenco: Roddy Piper, Keith David e Meg Foster

Velho Treta!!!

   John Carpenter é um diretor e roteirista que veio de outro mundo, é a única explicação para que seus filmes de terror, suspense, ficção científica fiquem gravados na memória de quem curte esses gêneros. Antes de Eles Vivem (1988), Carpenter já havia dirigido Hallowen (1978), Fuga de Nova York (1981), O Enigma de Outro Mundo (1982), Christine, O Carro Assassino (1983), e Os Aventureiros do Bairro Proibido (1986). Eles Vivem surge no finalzinho da década de 1980 e não pede licença nem desculpa pra meter dois chutes no peito da sociedade americana e ainda rouba o doce deles. 

 
   Neste filme Carpenter faz uma dura crítica a sociedade americana da época, mas também não deixa de ser atual. Sendo um personagem principal um trabalhador braçal o filme mostra a história contada pelos excluídos da história e o sonho americano vai sendo destruído aos poucos ao mostrar a dura realidade de quem está a margem do sistema. No fim, estamos presos em uma gaiola e somos conduzidos, manipulados por alguém superior a nós. Teoria da conspiração? Não exatamente. Carpenter tenta fantasiar essa manipulação, porém não é difícil imaginar de quem ele está falando. E é algo que vai muito mais além dos EUA, como o próprio filme mostra.

Este é seu Deus :)

   O filme trabalha bem a questão de realidade versus ficção. A nossa realidade é mesmo real? A idéia que um óculos torne possível ver além das aparências é quase dizer que somos míopes e só vemos uma versão do real "borrada". Ao utilizar o óculos nossa visão se torna clara e podemos ver sem borrões aquilo que nós manipula. Nesse filme isso aparece no título do filme que é parte da frase "Nós dormimos, eles vivem". É algo que muitos filmes de ficção científica trabalham, nossa realidade como ficção e o verdadeiro real escondido. E o personagem principio sempre descobre como acessar este espaço inalcançável. E quanto mais eu vejo filme de ficção científica mais Matrix (1999) perde sua originalidade. Porém descubro ótimos filmes nesse processo.

E pra ficar melhor tem ele online. Curta, confira, descubra, exploda sua mente, acredite na gravata!

TRAILER LEGENDADO
filme completo: youtu.be/c9EfHz-uxRQ

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terça-feira, 17 de fevereiro de 2015

TertúliaView: "Boyhood - Da Infância à Juventude" (Boyhood, 2014) de Richard Linklater

Afinal "o que é a vida?", pergunta clássica e sempre é lançada por Antônio Abujamra, no final de seu programa de entrevista "Provocações"... Propósitos? Sentidos? As vezes é difícil de encontra algum... Mas será que é isso que devemos encontrar aqui? Afinal para que vivemos? Para simplesmente participarmos do eterno ciclo de nascer, estudar, casar, ter filhos e morrer? Não há algo mais que isso? As vezes a vida te dá mais perguntas do que respostas não é...

+ Boyhood - Da Infância à Juventude (Boyhood, 2014) de Richard Linklater


 
Em 1990 o diretor holandês Paul Verhoeven lança "O Vingador do Futuro" (Total Recall), filme inspirado na história "We Can Remember It for You Wholesale" do sempre INSANO Philip K. Dick. Conta a história de um simples operário que tem uma vida medíocre e sonha em fazer uma viagem, mas que é logo repreendido por sua esposa, assim ele resolve ir em um clínica de implante de memória, para que coloque em seu cérebro uma lembrança de uma viagem (meio que um "A Origem" de Christopher Nolan). Mas ao final do filme pensamos, será que tudo aquilo foi real ou foi somente a memória implantada nela? Assim podemos assimilar essa história com o cinema, como uma forma de escape, uma forma de fugir de uma realidade muitas vezes medíocre.

Cena de "O Vingador do Futuro".
Ellar Coltrane e Patricia Arquette
Assim Linklater vai na contramão de tudo isso, acredito que seu filme apresente algo em todas as cenas que muitas vezes nos esquecemos durante nossa rotineira vida... os detalhes, mesmo que mínimos, aqueles que mostra que realmente estamos vivendo, que acontecem de maneira inesperada, mas certeira.

Ellar Coltrane, Ethan Hawke e Lorelei Linklater
O filme, mesmo com quase 3 horas de duração, não se prende a fatos na vida de Mason Evans Jr. (Ellar Coltrane), mas sim nos apresenta que ele está passando por determinado momento, mas como ele chegou a isso ou como ele saiu daquilo, não é apresentado... O filme tenta em si glorificar algo que ignoramos, o cotidiano, uma vida cheia de mesmice e alegando que ali pode existir uma infinidades de surpresas e de vivências.

Ellar Coltrane e Lorelei Linklater
Somos tão acostumados a assistir filmes ou ler livros como uma fuga da nossa realidade, como apresentado de maneira genial por outro autor de sci-fi Arthur C. Clarke, no conto "O Leão de Comarre", um jovem é incumbido de encontrar um lugar chamado Comarre, um lugar gerido por máquinas com o simples objetivo do prazer humano, ali todos dormem e sua vida é feita através dos sonhos e ninguém quer ser acordado. FODA NÉ?

Ellar Coltrane e Ethan Hawke
Linklater pega o caminho inverso, nos apresenta nada mais que a realidade numa tela. Sim, é claro que nenhum de nós passamos pelas mesma vivências do garoto Mason. Mas nos identificamos com ele de maneira muito fácil pois ele vive uma vida como nós, um vida comum. 
 
Ellar Coltrane e Patricia Arquette
Em diversos momentos do filme, achei que iria acontecer algo que fosse totalmente fora da realidade, "acho que irá acontecer um acidente de carro agora", "o amigo dele vai se morrer com aquilo", ... sempre naquela expectativa de algo fuga da normalidade, da nossa normalidade. Mas isso não ocorre em nenhum momento do filme (talvez no segundo casamento de sua mãe, em que conhecemos um homem totalmente repressor e revoltado com sua vida).


Mas é ai que está, acho que Linklater quis apresentar uma história das pessoas comuns, nada de super heróis que salvam a galáxia, nada de pessoas que enfrentam um Dragão ou que são policiais cheios de culhões, mas sim pessoas comuns, fazendo o que todos nós fazemos todos os dias: viver! Coisa difícil pácas hein... Não é à toa que o filme demorou 12 anos para ser finalizado, acompanhando o envelhecimento de todos os personagens, utilizando da vida de deles, para fazer um filme sobre os detalhes de cada dia de suas vidas.

Vários Ellar Coltrane durante o filme.
PS: Interessante... Logo após a sessão do filme me vi assistindo uma programa especial da TV, falando dos principais fatos que marcaram do século XX. Algo totalmente contraditório após um filme que exalta os pequenos detalhes da vida, continuar a ver pessoas que tentam monumentalizar determinados eventos.


TRAILER LEGENDADO


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sábado, 14 de fevereiro de 2015

TertúliaView: "Birdman ou (A Inesperada Virtude da Ignorância)" (2014) de Alejandro González Iñárritu.

Alejandro González Iñárritu, esse nome tem poder queridos tertulianos. Esse cara me fez "cagar para dentro" com história tensas e difíceis de engolir como a sua Trilogia da Vida com "Amores Brutos" (2000), "21 Gramas" (2003) e "Babel" (2006). E agora nosso amiguinho aqui chega com essa nova história, uma comédia (???)... Mudando a temática, mas a INSANIDADE se faz presente. Com vocês, mais um #TertúliaView.

+ "Birdman ou (A Inesperada Virtude da Ignorância)" [Birdman or (The Unexpected Virtue of Ignorance), 2014] de Alejandro González Iñárritu.


O filme de Iñárritu tem o selo INSANIDADE desde a história inicial até a edição final. É um filme muito sui generis, no sentido de brincar com seu público ao mesmo tempo que brinca com o roteiro, a filmagem e os atores. Não sei se foi uma diversão para concretizar esse filme, mas o resultado com certeza foi. Mas lá vai uma sinopse: "Um ex-ator, famoso por ter interpretado um conhecido super-herói, se une a uma peça de Broadway baseada num conto do escritor Raymond Carver para tentar recuperar a fama do passado. Porém, ele enfrentará muitos problemas para que ela seja como ele deseja."

Michael Keaton, Naomi Watts e Zach Galifianakis.
Um bom "marcador" para colocar nesse filme seria o termo "meta", "Mas afinal, o que é Meta?", uma palavrinha que vem dos sempre presentes gregos que se trata de algo que vai muito além do que ele deveria ir. Assim, tudo aqui nesse filme é META, a começar pela escolha dos atores, temos Michael Keaton, famoso por interpretar Batman na série de filmes de Tim Burton, que aqui interpreta Riggan Thomson, um ator que ficou famoso por interpretar nos anos 1990 o super-herói Birdman. E ai o filme buga quando você percebe que Edward Norton, que interpreta Mike Shiner, participou de "O Incrível Hulk" (2008), ou que Emma Stone, que interpreta Sam Thomson (filha de Riggan), participou de "O Espetacular Homem-Aranha" (2012) como Gwen Stacy. É cara a escolha dos atores não foi nada aleatória nessa história não. E em meio a isso o filme faz altas referencias a chamada "Era de Ouro" dos Super-heróis no cinema, como por exemplo no momento que cita que Michael Fassbender está comprometido com os "X-Men"; Jeremy Renner com a saga "The Avengers" e Robert Downey Jr. como "Iron Man"...  é tudo muito surpreendente nessa história.

Amy Ryan e Michael Keaton
Um outro ponto INSANO do filme é a câmera, abençoado seja Emmanuel Lubezki (de "Gravidade", "Filhos da Esperança") ao nos presentear com mais uma obra com uma fotografia de EXPLODIR CÉREBROS!!!. Caraca! Incomoda e muito o fato do filme parecer ser gravado em um único plano, parece que não fechamos os olhos... A intensidade dessa perspectiva nos faz, em diversos momentos, nos sentir dentro do filme, sentir que estamos na real vendo algo "ao vivo", como num teatro. GENIAL! E a trilha sonora hein... "Me dê uma bateria, que eu te dou a trilha sonora mais FODA do ano!", parece que foi essa conversa entre Iñárritu e Antonio Sanchez, baterista mexicano, que fez uma trilha sonora sensacional, somente com uma bateria, precisa e genial! 

Emma Stone

No meio dessa INSANA brincadeira vemos que o cinema Hollywoodiano ainda sim necessita de mentes de "fora da caixa" para poder criticar a si mesmo, isto é, assim como na década de 1970 um tal de Scorsese e um tal Coppola (os dois de origem italiana) causaram muito ao realizar críticas precisas com seus filmes (ou na década de 1980 com o holandês Paul Verhoeven). Hoje parece que Hollywood necessita de latinos para isso, Alfonso Cuarón e o seu "Filhos da Esperança" (2006) e José Padilha com "RoboCop" (2014), dando vida ao já famoso gênero "social problems films", que começou em meados da década de 1960.

Michael Keaton e Edward Norton
Tal filme me fez me lembrar, e muito, do filme de Barry Levinson, "Fora de Controle" (What Just Happened?, 2008) em que acompanhamos alguns dias na vida de Ben (Robert De Niro), um produtor de Hollywood e suas infinitas dificuldades de finalizar seus filmes. Assim como os mais recentes "Acima das Nuvens" (Clouds of Sils Maria, 2014) de Olivier Assayas (clique aqui) e o bizarro "Mapas para as Estrelas" (Maps to the Stars, 2014) de David Cronenberg, logo percebemos a necessidade da realidade de Hollywood também passar pela representação cinematográfica. E nesse momento eu piro: Como será que esse filmes são apresentados as produtoras?, "Ei, vamos fazer um filme que falarei do quão filha da puta é o nosso trabalho, belê?". Deve ser muito engraçado!

Michael Keaton de cuecão correndo pela ruas de NY.
Acredito que é ai que o filme apresenta a sua brisa máxima: nossa realidade talvez vivesse dependente da ficção, isto é, mesmo sendo um ator de sucesso com o Birdman, Riggan Thomson nunca teve uma vida pessoal muito boa... Um pai ausente, um marido infiel e outras bizarrices que podemos ver no mundo das celebridades do TV Fama de hoje. Deste modo, ao recusar participar da mais uma continuação de "Birdman" Thomson parece ter recusado ser ele mesmo, negou sua essência e deixou de existir. FODA NÉ?

Michael Keaton e o Birdman
Assim como na mítica cena de "A Dama na Água" (Lady in the Water, 2006) de M. Night Shyamalan, em que um crítico MUITO CHATO de cinema tenta prever uma cena em questão com rótulos e mais taxações. Aqui temos Lindsay Duncan como Tabitha Dickinson, uma critica de teatro que fará tudo para destruir a peça de Riggan Thomson, porque simplesmente odeia atores de Hollywood. O filme mostra como a crítica pode trabalhar encontrando somente lugares-comuns e conceitos já estabelecidos, ignorando o que há de mais mágico no cinema/teatro: analisar de forma pessoal, tentar demonstrar aquilo que você sentiu e o como você pirou ao ver o filme. 
 
CENA DO FILME "A DAMA NA ÁGUA"

"Birdman" se torna um filme totalmente crítico (mas com muita comédia): critico a Hollywood, a indústria cultural, a galera cult, a crítica especializada, a você e a mim. Seria uma crítica a tudo e todos que querem determinar qual o melhor produto para consumir dentro desta cadeia alimentar chamada arte. DESTRUIU! Atuações de primeira (fazia tempo que eu não via um filme em que todos os atores estão perfeitos); Fotografia insana; trilha sonora inesperada; e diversos outros fatores... leva com certeza o SELO EXPLODIR DE MENTES, ou seu dinheiro de volta!


TRAILER
 
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