sábado, 29 de novembro de 2014

TertúliaView: "O Agente do Futuro" (Autómata, 2014) de Gabe Ibáñez



Direção: Gabe Ibáñez
Roteiro: Gabe Ibáñez, Igor Legarreta e Javier Sánchez Donate
Elenco: Antonio Banderas, Birgitte Hjort Sørensen, Robert Forster, Melanie Griffith


   Robôs, Robôs, Robôs. Bons, Malvados, Inocentes, temos vários exemplos no cinema e são quase indispensáveis em uma ficção científica, porém o que pode surgir de novo com tanta coisa já feita sobre esse tipo de personagem? Automata de Gabe Ibáñez, apesar das várias referências ao genêro, tenta seguir por onde outros filmes não foram.
   Jacq Vaucan é agente de seguros da Robotics Corporation e tem o trabalho de analisar casos de robôs defeituosos e evitar que a empresa tenha prejuízo, e isso quase sempre significa prejuízo para o cliente. Numa Terra num futuro próximo, explosões solares transformaram grandes áreas da Terra em desertos inabitáveis e levou a morte de mais de 90% da população mundial. Os robôs surgem como um meio de ajudar os seres humanos e são enviados para tentar reverter a desertificação. O robô do filme não é sofisticado, é um ato de desespero e existem 2 protocolos que os robôs devem seguir: 1º ele não pode machucar qualquer forma de vida; 2º ele não pode alterar ele ou outros robôs. Perceba que é muito diferente o teor  dos protocolos das 3 leis de Eu, Robô (2004), uma comparação que pode surgir quase que imediatamente:
1ª Lei: Um robô não pode ferir um ser humano ou, por inação, permitir que um ser humano sofra algum mal.
2ª Lei: Um robô deve obedecer as ordens que lhe sejam dadas por seres humanos exceto nos casos em que tais ordens entrem em conflito com a Primeira Lei.
3ª Lei: Um robô deve proteger sua própria existência desde que tal proteção não entre em conflito com a Primeira ou Segunda Leis.
  Primeira diferença é a nomenclatura, ser humano versus forma de vida, existência versus modificação. A questão da modificação é que leva Jacq a questionar se alguns robôs estariam superando esse protocolo, pois em uma ocorrência em que um robô é morto por um policial havia evidências que ele estava se auto-reparando, e ao aprofundar sua investigação ele presencia um robô, encurralado, ateando fogo a si mesmo. 
   Durante a investigação de Jacq, a empresa começa a ficar preocupada com está investigação. Aqui descobrimos que o primeiro robô feito não tinha os protocolos, ele era uma inteligência artificial sem limites. A partir do momento em que os cientistas, pesquisadores não entendiam mais o que o robô falava pediram para que ele fizesse os protocolos, para que limitasse a inteligência artificial num nível que o ser humano pudesse manter o controle. 
   Perseguido pela empresa, Jacq é ferido e alguns robôs levam ele rumo ao deserto, tentando protege-ló. Um dos robôs quando chega no deserto retira sua máscara humanizada para mostrar sua cara robótica. Ali no deserto, sem estar entre humanos, eles poderiam assumir sua verdadeira face. No momento em que robô tira a máscara, uma peça de metal que cobre seu rosto, eles estão perto de uma paredão de pedra que tem pinturas, mãos humanas, e aqui vemos uma tentativa de criar esse nexo, o robô como um novo ser humano, evoluindo, quebrando suas amarras.


   No clímax da narrativa Jacq descobre que o engenheiro que ele tanto procurava era na verdade um robô que havia quebrado o protocolo aparentemente por um defeito. "A vida sempre encontra um jeito". Os robôs quando reparavam um outro robô eles passavam a violação do 2º protocolo. Como o mito da caverna, alguém que via o mundo somente através de sombras, alguém tenta virar seu rosto para ver com seus olhos que o mundo é mais que isso, que ele pode fazer mais do que é programado.



   Aqui a máscara, o questionamento do que vem a ser uma forma de vida, se une ao nascimento da filha de Jacq. Os robôs buscam um renascimento. Este robô que Jacq encontra a beira do lugar para onde eles pretendem ir, uma espécie de profeta, fala que nenhuma espécie pode viver pra sempre. Os robôs foram feitos por mãos humanas, e agora os humanos irão viver nos robôs, numa terra prometida, um espaço onde os humanos não podem ir. Neste momento os funcionários da empresa que estavam perseguindo Jacq chegam até este local e este questionamento sobre a vida se fecha em dois diálogos:
Funcionário: -Por que é tão dificil para você aceitar minhas ordens se você é só uma máquina?
Robô: -Só uma máquina? É como se dissesse que você é apenas um macaco.
Funcionário: -O que faz um homem trair sua própria espécie?
Jacq Vaugh: -Trair sua gente? Eu não sou tua gente. 


   O filme trás questionamentos sobre a vida, o ser humano, conhecimento. Muitos filmes já trataram disso, mas a trama escolhe um jeito diferente de nós mostrar isso. Apesar de ser familiar, o filme é estranho, pois explora caminhos que geralmente são deixados de lado e nem sempre aparecem juntos no mesmo filme. Mas se alguém for ver o filme buscando algo original não é o melhor jeito de chegar a esse filme. Esse filme é uma quase homenagem ao gênero, seja na chuva, nos problemas climáticos, nos hologramas, robôs problemáticos, protocolos, e acho que é assim que devemos ver para aproveitá-lo. A toda hora o filme mostra a arrogância do ser humano em relação aos robôs o que pode ser entendido como a arrogância que temos em relação a natureza, com o que não conseguimos explicar, com o que escapa ao nosso controle, porém o filme deixa claro, não temos controle de tudo. Os robôs nasceram do desespero do ser humano, porém, ao se libertar da amarra das ordens de seu mestre eles querem encontrar seu próprio caminho, sem máscaras.

TRAILER LEGENDADO

P.S.: MANO! O final mais inesperado, improvável, WTF dos últimos tempos!

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TertúliaView: "A Hora do Pesadelo" (A Nightmare on Elm Street, 1984) de Wes Craven

MEO DEOS! 😲
Confesso que nunca tinha assistido ao filme até o dia de hoje... somente a infeliz refilmagem de Samuel Bayer de 2010... Mas ao ver essa relação entre cinema e o nosso lado mais inconsciente feita por Wes Craven, só tenho a dizer: sensacional! Assim vamos para um #TertúliaView com um clássico do gênero de terror!

+ A Hora do Pesadelo (A Nightmare on Elm Street, 1984) de Wes Craven.




Tive a oportunidade de assistir ao filme "O Palhaço" (2011) de Selton Mello, mas de uma maneira singular: de olhos vendados (acompanhando o filme através do chamado "Audiofilme", com narração descrevendo-o). Após o filme fiquei com uma grande inquietação... Até aquele dia o cinema para mim era a junção do escrito (roteiro), música (trilha sonora) e o imagem em movimento (filme)... Mas naquela sessão não existia a imagem em movimento! Ao indagar isso com amigos encontrei uma possível resposta: a imagem em movimento estava sendo construída em minha cabeça. Ai minha mente foi explodida novamente pelo cinema! O que seria do cinema sem nossa imaginação? NADAAAAAAAA!!! (como diria outro amigo meu).

(voz na mulher do avast! antivirus: "SUAS DEFINIÇÕES DE CINEMA FORAM ATUALIZADAS"!)

O meninu lindú!!!

Logo a genialidade de Craven se encontra ao trabalhar com a relação intensa que existe entre o cinema e a nossa mente, nossa imaginação, ou se preferir, com nosso inconsciente (FODA NÃO?). E ao perceber isso o diretor nos faz um filme de terror em que o vilão da história só faz sua ação quando você está na sua maior segurança, na sua casa, dentro do seu quarto e deitado na sua cama em sua hora de descanso: o sono! E é nesse momento que o nosso inconsciente age (se lembra daquele episódio do O Mundo de Beakman sobre sonho? clique aqui!)... Nossos medos, alegrias, tristezas, amores não estão mais sob o controle total do nosso consciente e da nossa razão. Ai que a porra fica séria meu amigo! Eles estão sob o controle do cara mais INSANO que existe: o nosso inconsciente! Logo a ideia de um vilão que mata pessoas por vingança talvez seja batida demais... Mas um vilão que já morreu, que só aparece quando estamos dormindo e que pode nos matar é genial! 



Ideia tão genial que podemos dizer que foi o primeiro filme de Wes Craven realmente decente, anteriormente somente "Quadrilha de Sádicos" (The Hills Have Eyes, 1977) deu algum sucesso e rendeu outras continuações, mas foi o segundo filme dessa série que introduziu um elemento marcante em sua filmografia: o jovem! Isso mesmo, essa "galera descolada que está afim de muita azaração"! Deixando como motor da maioria de seus roteiros suas as angústias e seus conflitos, conquistando um público que iria presenciar muitas outras mortes no decorrer de sua filmografia. E ser a fórmula do sucesso de muitos filmes juvenis até hoje!



Outro ponto fodástico do filme de 1984 é a relação dos jovens com seus pais. A juventude apresentada no filme protagoniza toda a história, mas seus pais possuem uma representação do passado - tanto que o nosso querido Freddy Kruegerestá realizando essa matança devido a esse passado - mas também de repressão, como o pai de Nancy Thompson que é um policial que tem uma relação bem estranha com sua filha.


"Um...dois... Freddy está vindo para você.
Três...Quatro... Melhor trancar sua porta.
Cinco...seis... Agarre seu crucifixo.
Sete...oito... Vai ficar acordada até tarde.
Nove...dez... Jamais dormirá novamente..."

Que linda música não?... Segundo o filme é uma música cantada pelas crianças durante brincadeiras... States é um país bizarro não? Craven explora o imaginário inocente de uma criança para construir um dos filmes mais assustadores do cinema... Como se o bicho papão ou a Cuca começasse a matar jovens durante a noite aqui no Brasil! Depois dessa referência você sacou como a parada é tensa não?

TRAILER


PS: Se quiser algum outro motivo TOSCO para assistir a esse filme, lá vai: é o primeiro filme de Johnny Depp, que interpreta Glen Lantz, o namoradinho da protagonista.  

Johnny Depp em "A Hora do Pesadelo"


PS [2]: [SPOILER] E agora o motivo FODA: ele tem uma das mortes mais FODÁSTICAS que eu já vi no cinema!

SANGUE!!!

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quinta-feira, 27 de novembro de 2014

TertúliaView: "The Babadook" (2014) de Jennifer Kent

Direção: Jennifer Kent
Roteiro: Jennifer Kent
Elenco: Essie Davis, Noah Wiseman


   Quero começar esse TertúliaView falando que estou decepcionado, mas, ao mesmo tempo surpreso. Quando o trailer de The Babadook começou a rodar pela internet acho que todos imaginavam que estavamos prestes a ver uma obra-prima do medo, que iriamos borrar as calças de tão assustador que o filme parecia. Bem, o filme no fim não é tão assustador, mas é uma ótima surpresa em um gênero que carece de bons filmes nos últimos anos.
   A primeira coisa que veio a minha cabeça durante o filme era que seria um história de bicho papão. Amélia é uma mãe solteira e vive sozinha com seu filho único Samuel, um menino problemático. Desde o início do filme ela aparece com um ar de cansada, despedaçada, talvez até depressiva, tendo que aguentar a rotina do trabalho e aguentar o comportamento agressivo e histérico de Samuel e seu medo de monstros na hora de dormir. Aos poucos vamos descobrindo sobre a figura do pai e como isso afeta Amélia e sua relação com seu filho. 


   Lendo histórias para que Samuel consiga dormir um dia ela descobre na estante o livro Senhor Babadook e se depara com uma história assustadora, de um senhor que assusta as crianças e quer de certa forma quer domina-las, entrar dentro da criança.


Um ruído surdo seguido de 3 batidas fortes
ba-ba-ba DOOK! DOOK! DOOK! 
É nessa altura que saberás que ele está por perto
Tu irás vê-lo, se olhares


   Assustada Amélia rasga o livro e o joga fora, porém misteriosamente o livro é devolvido em sua porta todo colado e agora o alvo não é mais uma criança.



  A partir desse momento Amélia começa a se despedaçar interiormente: Samuel é expulso da escola , machuca sua prima e sua Irmã entra em confronto com ela, entra no porão com as coisas de seu pai e Amélia entra em conflito com seu próprio passado, sua própria perda, o luto que ela ainda não conseguiu superar, e além de tudo isso Amélia começa a questionar sua própria sanidade, seu papel como mãe ao ter que lidar com os medos reais do filho, uma desordem psicológica, e irreais, os monstros, Babadook, e protege-lo, porém como proteger ele de você mesma?


   Aqui estava minha decepção e a minha surpresa. Apesar de Babadook ser quase ausente no filme e quando aparece é na penumbra, no ambiente noturno, escuro, pesado, de uma casa vazia e mórbida, o foco do filme fica na relação entre a mãe e o filho, este instinto materno de lidar com nosso próprios monstros e o filho de superar seus medos. Este último aspecto me trás uma sensação misturada entre gostar e não gostar, pela expectativa e pelo que foi dado. Mas, apesar disso, o filme nós dá uma boa história com boas atuações tanto de Essie Davis, Amélia, mostrando a coplexidade de alguém que está passando por um momento difícil de sua vida a muito tempo, quanto de Noah Wiseman, Samuel, que mostra uma criança inteligente, intuitiva e forte.
   Babadook, o senhor ou monstro, é construído baseado em vários aspectos que podem vir de vários lugares: Bicho-Papão, Gabinete do Dr. Caligari, Nosferatu.


   Tudo isso constrói esse monstro que coloca em risco essa família, mas é quase uma metáfora para superar os problemas que Amélia e Samuel vivem. Além disso, a trilha, os efeitos sonoros, o movimento e posição da câmera trazem uma experiência diferente para o gênero, e o suspense que nunca é forçado constrói uma ótima narrativa com um final surpreendente.


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TertúliaView: "Brubaker" (1980) de Stuart Rosenberg.

No ‪#‎TertúliaView‬ de hoje temos o grande Robert Redford, o rosto bonito de Hollywood que, como sempre, gosta de botar o dedo na ferida mesmo! E nesse filme de Stuart Rosenberg não fez diferente!

+ Brubaker (1980) de Stuart Rosenberg.

Poster de "Brubaker"
Afinal fazer a mudança seria fazer exatamente o que? E qual razão de ser tão necessária? Sinceramente não tenho a resposta para essas perguntas... Mas talvez eu tenha mais questões para jogar em cima delas, tertulianos são grandes veneradores da dúvida. Pois a contradição seria algo que nos move, o motor do nosso dia a dia, se estamos vivos convido a vocês a fazer algo especial: VIVA! Assim como a própria vida a contradição existe em todo lugar, a mudança se faz necessária em todo lugar. 


Assim acredito ter realizado uma boa intro para falar de um tal de Brubaker, interpretado por Robert Redford (que também leva o nome do filme), um novo diretor de um velho presídio que quer "botar ordem na bagaça" literalmente. 
Assim logo na sua chegada já realiza mudanças, chega como um presidiário e conhece as reais condições do presídio. Mas nós o conhecemos de maneira discreta, sabemos que ele será nosso herói, mas quem é ele? O que fez para estar ali?


Ao se revelar diretor do presídio, e não um preso, tem que enfrentar a desconfiança e o ódio de muitos (perto dessa cena tem uma participação de Morgan Freeman). Afinal, a mudança se faz necessária, mas nem todos ficarão felizes com ela. Brubaker se torna literalmente um homem contra o sistema, na luta por ser um reformador de verdade enfrenta todo um sistema, que passa desde o poderio de um senador querendo deixar as coisas como estão até presos que o veem com descrédito.
Morgan Freeman e seus 10 seg. de atuação.  


Afinal Brubaker luta por quem? Para quem? Qual será sua recompensa? As vezes razões não existem, mas simplesmente sonhos, desejos que nos move. Talvez em nossas aventuras pelo mundo nunca conheçamos uma prisão de fato, mas acredito que enfrentaremos - ou estamos enfrentando - diferentes perspectivas alertando que o que fazemos está errado, mas sinceramente lhes peço que não desistam. Afinal se mudança é necessária alguma hora ela tende a acontecer não?

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terça-feira, 25 de novembro de 2014

Tertúlia Indica: "Max Manus" (2008) de Joachim Rønning e Espen Sandberg


Direção: Joachim Rønning e Espen Sandberg
Roteiro: Thomas Nordseth-Tiller
Elenco: Aksel Hennie, Agnes Kittelsen, Ken Duken


    Baseado em fatos reais, Max Manus segue a trajetória desse soldado norueguês durante a década de 1940. Poderia falar que é uma história da resistência norueguesa à invasão alemã à Noruega, porém estaria deixando de lado o inicio do filme que mostra Max atuando na Guerra Russo-Finlandesa entre 1939 e 1940. Porém, sim,o filme se foca na formação e atuação do grupo de ação especial formado pro Max e seus amigos.

   Treinados na Escócia, o filme caminha pelas missões de sabotagem do grupo e pela propaganda contrária aos nazistas que tomam o poder. A questão da propaganda e do jornal aparece pontualmente para nos mostrar que a diferença entre terrorista e herói pode ser quem se sai vencedor. Altamente ligado a história da Noruega alguns podem apontar um revisionismo histórico em mostrar os palcos menos importantes na 2ª Guerra Mundial, porém, creio que taxar como revisionismo é reforçar uma visão da guerra construída por EUA, Inglaterra e França que tornaram os outros palcos que não o front ocidental menos importante. Assim, não creio que seja revisionismo, mas uma forma de mostrar que a 2ª Guerra Mundial caminhou para seu fim a partir de vários pontos, vários fatores, e não somente pelo dia D, o desembarque dos aliados na praia na Normandia em 1944.


    Além disso, acho que o ponto mais impactante do filme é sua dimensão e carga emocional. Aos poucos vemos Max se entregando a si mesmo, se despedaçando, e no fim, apesar da vitória, Max está perdido. Neste aspecto os flashbacks que mostram Max atuando na Guerra Russo-Finlandesa revela o impacto que a guerra tem no desenvolvimento do personagem principal, na relação com seus amigos, na relação com o seu país. Max não se torna um herói instantaneamente, ele é construído.



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TertúliaView: "Frank" (2014) de Lenny Abrahamson



Direção: Lenny Abrahamson
Roteiro: Jon Ronson e Peter Straughan
Elenco: Domhnall Gleeson, Michael Fassbender, Scoot McNairy, Maggie Gyllenhaal, Carla Azar e François Civil


   Frustrado em sua tentativa de ser músico e esmagado pela rotina Jon (Domhnall Gleeson) encontra uma oportunidade de escapar desse caminho de “fracasso” ao presenciar a tentativa de suicídio do tecladista da banda Soronprfbs. Recebendo um convite com hora e local, ele chega no bar decadente e se depara com a cabeça gigante de fibra de vidro de Frank (Michael Fassbender) tomando o palco com sua banda. Uma confusão deixa Frank sozinho com Jon no palco e ali ele vislumbra uma genialidade que talvez só os outros integrantes da banda de nome impronunciável vislumbravam. Ao voltar para sua rotina Jon se vê entregue ao pesadelo de querer compor algo único e não conseguir. Um telefonema leva Jon para a Irlanda, junto dos Soronprfbs, junto de Frank.


   No entanto, o fim de semana avisado para seu chefe para gravar o álbum da banda se transformam em vários meses. Para não serem expulsos Jon coloca seu dinheiro para que ele pudesse continuar nessa experiência. Frank é como o coelho de Alice que convida Jon para uma aventura de experimentalismo libertador na música, mas também dos padrões impostos pela sociedade. Apesar disso este coelho veste uma máscara, uma cabeça gigante, como olhos de coruja, para escapar do mundo, e esse ermitão é que conduz Jon quase como o Zaratustra de Nietzsche guiando a humanidade. Além disso, Jon coloca-se em contato com Don (Scoot McNairy), o gerente da banda, o primeiro tecladista da banda, entra em rota de colisão com Clara (Maggie Gyllenhaal), que alimenta uma paixão por Frank e vê em Jon uma ameaça à banda, além de Nana (Carla Azar) e Baraque (François Civil), dois franceses que não falam inglês e poderiam lembrar as pulgas acrobatas de Vida de Inseto (1998).



   O ponto de virada é construindo quando os desconhecidos Soronprfbs são levados para a internet por Jon. Isso alimenta o conflito com Clara, que vê a vontade do novato de querer impor os rumos da banda para alimentar seu sonho. O suicídio de Don é seguido pela viagem até os EUA para um festival. Os ermitões são retirados de seu exílio voluntário, menos Jon, que esteve nesse retiro, mas não era um ermitão. Jon vai tomando consciência dos laços explosivos que unem os Soronprfbs ao tentar tomar o controle, ao tentar usar o grupo como um trampolim para ser aquilo que ele queria ser. No festival esse seu controle leva a saída de Clara, Nana e Bareque. Frank surta numa mistura de reconhecimento e rejeição e some. Jon percebendo como seu controle levou ao descontrole sai a procura de Frank. Ele sabe onde procurar. 
   Ao conversar com os pais de Frank ele encara o rosto do ser humano que ele tanto teve curiosidade de conhecer, encara as cicatrizes, externas e internas, encara a loucura, do grupo e de Frank, Zaratustra que guiava os Soronprfbs com uma cabeça gigante de fibra de vidro. Trazendo de volta Frank para seus seguidores, Clara, Nana e Baraque, o fim do filme com uma música chamada “Eu amo vocês todos” encerra um ótimo filme que vem do nada e te leva a lugar nenhum, só que mesmo assim te cativa, causa uma inquietação, uma coceira atrás da orelha. Jon ao tentar escapar de sua rotina para buscar seu sonho não queria se livrar de certas amarras, e isso levava a sua frustração. 


   Ao conhecer Frank e seu horizonte ilimitado ele vê um espelho do que ele quer ser. Porém a convivência com Don, Clara, Nana, Baraque, e, sobretudo, Frank, ocorre com ele ausente daquele espaço por causa de suas amarras. É difícil escapar daquela premissa que nem todo louco é gênio, mas todo gênio é louco. Apesar do filme se chamar Frank ele é focado em Jon, pois é ele quem deve aprender que tem de ir além do abismo, ele tem que pular, sem medo, com os olhos abertos, tão abertos quanto os olhos de Frank. Será que Frank com seus olhos gigantes via coisas que o ser humano não via?

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CURIOSIDADES
A história de Frank é baseada na história real do músico e comediante inglês Chris Sievey e seu personagem Frank Sidebottom que esteve em atividade até o ano de sua morte, 2010. Porém, o filme também tem elementos da trajetória do cantor Daniel Johnston e Captain Beefheart, músicos quase desconhecidos, porém com uma experiência musical e de vida explosiva.

 Chris Sievey

Daniel Johnston

Captain Beefheart

 

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sábado, 22 de novembro de 2014

Tertúlia Indica: "Zumbis na Neve" (Død Snø/Dead Snow, 2009) de Tommy Wirkola


Direção: Tommy Wirkola
Roteiro: Tommy Wirkola & Stig Frode Henriksen
Elenco: Charlotte Frogner, Stig Frode Henriksen, Bjørn Sundquist, Ane Dahl Torp, Jenny Skavlan


   Um grupo de amigos resolve tirar umas férias nas montanhas em um chalé, porém coisas estranhas começam a acontecer quando eles mexem em alguns objetos guardados neste chalé/cabana. Muito vagamente poderia estar me referindo a Morte do Demônio (1981) de Sam Raimi, porém, esse também é a trama do norueguês Død Snø (Dead Snow/Zumbis na Neve, 2009).
    Depois que George Romero recriou o zumbi do voodoo e transformou ele em uma crítica ao capitalismo o gênero se ampliou, trilhou novos caminhos, desviou-se da crítica, porém, sempre estavam ali, prontos para nós dar sangue, tripas e as vezes risadas. Død Snø trás estes 3 atributos. E neve. 
     O grupo de amigos vai para o chalé para passar o feriado e lá dão de cara com um velho que conta que naquela região os nazistas na 2ª Guerra Mundial saquearam as casas das pessoas. Revoltados, eles se rebelaram e mataram todos os soldados nazistas. No chalé ao encontrar uma baú com o tesouro dos nazistas eles acordam zumbis nazistas!  Sim meu caro Tertuliano, você leu direito, zumbis nazistas!

       O diretor Tommy Wirkola se baseou na mitologia nórdica e ao invés de trazer mortos-vivos ressuscitado por vírus, resíduo tóxico, por que o inferno ficou cheio, ele apresenta o Draugr, o morto-vivo que defende o tesouro enterrado com ele, e é justamente isso que leva esses zumbis nazistas a perseguirem esses jovens quando eles descobrem este baú. A partir desse momento o filme passa a ser sangue, tripas, risadas e neve, muitas piadas, referências e mortes insanas. Apesar de não ser o melhor filme do gênero é um filme que garante boas risadas e diversão. Se você gosta de filmes de zumbi, de filmes sobre 2ª Guerra Mundial, se você só quer ver zumbis nazistas, esse é o filme!

Sério, tem como isso não ser bacana?
FOR MOTHER RUSSIA!
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TertúliaView: "O ABC da Morte" (The ABC's of Death, 2012)



Diretores, Roteiristas, Elenco: MILHÕES!


ABERTURA DO FILME
  
 Por que assistimos filmes de terror? Medo do escuro? Medo do desconhecido? Causar terror? ABC's of Death (2012) é um bom filme para nos questionarmos isso, pois além de trazer para as telas a morte de forma tão clara e escarrada eles utilizam todo um universo do como se faz filmes de terror.
   No mesmo ano que saiu ABC's of Death também foi lançado V/H/S (2012) com uma proposta semelhante. Um grupo de jovens invade uma casa e encontra fitas cassete antigas no qual estão gravados fenômenos sobrenaturais. Vários diretores, vários curtas dentro de um filme. Porém se V/H/S tenta construir e dar um ar de veracidade, ABC's of Death assume a sua metalinguagem a todo momento, contra, a favor. São 26 filmes atados em um longa metragem com algumas histórias boas, outras nem tanto. Encontrar um nexo entre eles é difícil, porém as palavras refletem como os diretores criam visões da morte e também como nos relacionamos com a morte. A de Apocalipse nós mostra uma dona de casa matando seu marido enquanto ele tomava seu café da manhã na cama, e ela triste confessa que estava o envenenando a um ano, porém não havia mais tempo, close na janela, uma luz vermelha toma as cortinas. Esse é o primeiro curta, essa é a primeira impressão do filme. D de Dogfight (briga de cachorro) nós mostra o instinto de sobreviver. E de Exterminar mostra de uma forma gore como nossas ações tem reações e isso vivenciamos cotidianamente. 
    Porém, se em alguns filmes estão mais relacionados ao tema da morte outros apresentam está questão de forma mais mascarada. O de Orgasmo mostra que o prazer também pode matar. J de Jidai-Geri (Filme de Samurai) mostra de uma forma peculiar o seppuku ou harakiri, ritual suicida japonês dos samurais. Interessante notar que os curtas japoneses exploram a questão do suicídio mais de uma vez, porém sempre de uma forma peculiar, e quando eu digo peculiar imagine aquela propaganda do Japão que te enviaram alguma vez. 

Japão sendo Japão
F de Fart (Peido)



    Desta forma, se alguns curtas conseguem passear por significados mais profundos outros simplesmente não se levam a sério como T de Toilet, K de Klutz (desastrado), e H de Hydro-Electric Diffusion (Difusão Hidro-Elétrica). Por último ainda há de notar dois meta filmes, Q de Quack e W de Wtf! que exploram o processo "criativo" por trás desses curtas. 

 H de Hydro-Electric Diffusion
 T de Toilet
   Falando do fim da vida eles partem de uma analogia do inicio, o processo de aprendizado, de aprender as letras do alfabeto. Estando atados a uma ideia de morte como um fim, o fim do belo, do jovem, e isso reflete na visão que temos da velhice, ele une o inicio com o fim. Ao deparar com curtas de temática densa e saltar para uma filme trash, ABC's of Death acaba virando um exercício de reflexão sobre como encaramos a morte e o que aprendemos nessa relação vida/morte. A morte é nossa única certeza ou sabendo do ponto final nossa única certeza é viver e encarar o mundo que está a nossa volta?

TRAILER

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quinta-feira, 20 de novembro de 2014

Tertúlia Indica: "Demônio" (Devil, 2010) de John Erick Dowdle

Direção: John Erick Dowdle
Roteiro: Brian Nelson , M. Night Shyamalan
Elenco: Chris Messina, Caroline Dhavernas, Bokeem Woodbine

   5 pessoas presas em um elevador. Além da ansiedade de estar preso dentro de uma caixa de metal suspensa por cabos sem poder fazer nada, adicione uma pitada de sobrenatural e suspense e você terá Demônio (2010).
   Por ser um filme que se concentra em um só lugar o filme é rápido e intenso e você fica tenso pois o filme te deixa pronto quando a ação acontece. Colocando questões de religiosidade o filme tenta construir uma narrativa parecida com Crash - No limite (2014), fatos desconectados que se ligam durante o filme, porém o deus ex machina final é de explodir a cabeça. Porém isso contribui para construir o que é o norte do filme: nada acontece por acaso.
   O principal atrativo do filme é trazer um visão diferente para os filmes de terror como James Wan fez recentemente com Invocação do Mal (2013). Estava até agora escapando de citar M. Night Shyamalan. Ele escreve o roteiro e ficou conhecido pelos seus plot twists, uma virada inesperada na trama. Porém, após o sucesso inicial sucederam filmes não tão bem recebidos pela crítica e ficou a expectativa de quando o Shyamalan voltaria a ser o Shyamalan de O Sexto Sentido (1999), Corpo Fechado (2000), Sinais (2002) e A Vila (2004)? Bem, a narrativa de Demônio não te faz esperar muito pelo filme e isso torna a experiência interessante pois o filme te dá bastante coisa em troca. E o suspense que nosso querido Shya consegue colocar em todos os tipos de filmes possível não poderia estar fora de um filme acerca do sobrenatural. Shyamalan sempre está sendo Shyamalan até em Fim dos Tempos (2008) e Depois da Terra (2013), nós despir da expectativa é a melhor maneira de aproveitar um filme.
   O filme é um ótimo suspense, rápido, intenso, que pode trazer surpresa quanto ao gênero, fugindo um pouco de clichês e colocando o questionamento sobre o acaso e sobre segredos, personalidade. Se é cultivado uma cultura do medo em várias sociedades mostrando que o mundo é perigoso e não podemos confiar em ninguém como lidamos com 5 estranhos depois que coisas inexplicáveis acontecem e você não pode fugir nem se defender?




Curiosidades

- O diretor John Erick Dowdle é o mesmo de Quarentena (2009), adaptação hollywoodiana de [REC].

- A produção optou por fazer um elevador mais profundo ao contrário de mais largo, comum em edifícios comerciais, para aumentar a sensação de "enterrado vivo" dentro dele, principalmente, quando se está longe da porta que, teoricamente, está ligada "a salvação" de quem está preso.

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