quinta-feira, 14 de setembro de 2017

TertúliaView: “Death Note - Notas da Morte” (Death Note - Desu Nôto, 2006-2007) de Takeshi Obata e Tsugumi Ôhba



Confesso que não sou o cara mais experiente no assunto, afinal, nunca me dediquei com muito afinco a arte de acompanhar animes e mangás. Mas reconheço que uma fase da minha vida foi intensamente marcada por um mangá, que chegava em minhas mãos por uma amiga de escola, a cada volume uma nova surpresa e suspense, a cada nova devolução e empréstimo uma nova conversa e troca de teorias. Sim, o internacionalmente famoso mangá “Death Note” conseguiu mais um fã NERD em épocas de adolescência e é dessa experiência após anos que vamos comentar aqui hoje.

+ “Death Note: Notas da Morte” (Death Note: Desu Nôto, 2006-2007) de Takeshi Obata e Tsugumi Ôhba 


Depois de exatos dez anos de ler o mangá original (2003-2006) escrito pelos mesmo criadores do anime, descubro que a grande provedora de filmes em streaming Netflix realizou e acabou de lançar um filme sobre a clássica obra que marcou minha adolescência, após uma sessão dividida em duas partes, só pude dizer: QUE BOSTA! Toda a discussão entre justiça entre o protagonista Light e o investigador L é deixada de lado em nome de crises adolescentes de personagens que são construídos de maneira acelerada, deixando as características de cada um em questionamento e assim construindo um plot twist difícil de digerir e com um deus ex machina extremamente forçado. Me peguei a pensar: AFINAL, PQ RAIOS EU PIRAVA TANTO NESSA HISTÓRIA?


Light Yagami e seu querido Death Note
Descobri que dentro da plataforma Netflix possuía também o tão sonhado anime da saga, não resiste e comecei a assistir a série, lembrando de cada ponto crucial do mangá e por consequência a triste adaptação de Adam Wingard... Mas o que me impactou foi que a série caminhava muito bem até seu décimo episódio, até que veio na minha mente outro: QUE BOSTA! “ÓH! VC ESTÁ A CRITICAR A OBRA PRIMA DO ANIME JAPONÊS?” Sim, reconheço que estou, nós do Cine Tertúlia, não nos prendemos a conceitos imutáveis, estamos sempre dispostos a questionar tudo e até nós mesmo, isto é, fazemos qualquer coisa para garantir A EXPLOSÃO DE MENTES! Logo 1) Não sou mais aquela mesma pessoa de 16 anos; 2) Minha percepção de mundo se alterou; 3) Como também minhas analises fílmicas. Não que hoje eu esteja extremamente correta, só estou a alegar que minha visão acerca de narrativas se alterou com o passar do tempo.

L e seus hábitos alimentares
TÁ! TÁ! MAS QUE RAIOS O DEATH NOTE ORIGINAL TEM DE RUIM?” Como estava dizendo, a série caminha bem, em que vemos Light Yagami (Mamoru Miyano), na sua busca por um “mundo melhor” decide se utilizar um caderno, conhecido como Death Note, para matar todos os criminosos do planeta... “URRU!!! BANDIDO BOM É BANDIDO MORTO!” Mas ai que está carx tertulianx, essa definição de ser “bandido” pode ser relativizada bastante e assim o termo pode ser expandido para pessoas que são contrárias a sua opinião e deste modo de “paladino da justiça” Light se transforma em um novo ditador para um novo mundo (lembre-se desse termo, é importante!). Nesse momento conhecemos um dos investigadores mais excêntricos da literatura mundial, o famoso L (Kappei Yamaguchi), que possui hábitos alimentares e de relacionar com as pessoas bastante peculiares e é nesse momento que se constrói uma das relações de oposição mais interessante da história das narrativas, entre Light e L.


Light é o Kira!!! 😲
Mas só que a narrativa começa a especular e muito! Com inclusão de novos personagens que não desenvolvem a história, somente a atrasam. Reviravoltas que se repetem excessivamente em que chegamos a desistir de compreender a investigação e somente nos anularmos para acompanhar o desfecho da série. Papéis femininos absurdamente omissos, em que se fôssemos utilizar "Teste de Bechdel” na narrativa não daria certo, pois as mulheres estão sempre subordinadas a figura masculina e quando se encontram somente abordam os conflitos de seus companheiros. Tanto que nos últimos capítulos eu não aguenta mais novos personagens e estava saturado de uma história que já tinha perdido todo o fetiche com a queda da disputa entre Kira e L. Mas sim, fui até o final e por isso estou pronto para escrever esse presente texto.

Tira sobre o que é o "Teste de Bechdel"
Mas como disse no início, muito mais que falar mal da narrativa da saga Death Note quero falar de mim mesmo perante tudo isso, o jeito que olhava para com a narrativa da série há dez anos atrás e o jeito que olho hoje, bem mais crítico e mais afim de resolução de problemas do que postergação do fato. Death Note fez muito por mim, alimentou muito imaginação e amizades, mas hoje vejo em diversos aspectos como hoje ele não me satisfaz mais... Será por que ele é ruim? Será que me tornei um idiota? (Grandes chances) ... Mas fico feliz em perceber em como mudei e em como posso construir melhor argumentos que defendam ou critiquem um audiovisual.


Seja para o bem ou para mal, Ryuk está sempre ali de boas comendo maçãs.
Nesse ponto, agora posso dizer com todas as palavras que ODEIO O LIGHT, que adolescente chato, cara! E gosto um pouco de L, coisa que não compreendia antes, mas faz um par extremamente competitivo com Light, deixando a história bem construída e cheia de embates. Mas os embates sempre são apresentados de maneira aberta, em que o próprio espectador pode decidir que lado escolher... e que lado escolher... e que lado escolher... rs! Pois aqui a cada reviravolta você muda de lado e compreende aquilo que até então você não fazia ideia.


Light, agora Turner, na versão da Netlix
Assim como na belíssima primeira temporada, da série também Netflix, “Demolidor” (2015), conhecemos Matt Murdock (Charlie Cox) e o Wilson Fisk (Vincent D'Onofrio), dois personagens que possuem altas semelhanças quando desejam o melhor para o bairro de Hell's Kitchen, mas o caminho para chegar a esse “melhor” é extremamente diferente um do outro. Logo é nesse momento que se constroem mocinhos e vilões, nos mostrando que tal definição pode ser muito relativa, pois depende muito das circunstâncias, como aconteceu na segunda temporada (2016) da mesma série, com a chegada do personagem do Justiceiro (Jon Bernthal), nos apresentando várias reflexões sobre qual é o melhor jeito de realizar justiça, matando os criminosos de forma sanguinária ou levando eles para uma justiça falida?


Charlie Cox como Matt Murdock
Pegando essa brisa da série do Demolidor de Drew Goddard, podemos compreender cada vez mais o anime de Obata e Ôhba, pois percebemos que apesar das boas intenções de Light, a ideia de ser um Deus para um novo mundo só demonstra que faz tudo em nome de seu egoísmo, ou como L é arrogante e estúpido quando está realizando sua investigação. Como falei, aqui é bem relativo a ideia mocinho e bandido, somente pessoas disputando poder e reconhecimento, mudar de lado nessa narrativa é extremamente fácil e permissível.

Death Note e seus vários personagens

Num mundo em que presenciamos uma ascensão de uma extrema direita em diferentes lugares, com “soluções” para problemas sociais de forma autoritária, desde um Temer no Brasil até um Trump nos EUA e suas políticas de privilégios sociais, me faz relacionar com muitas perguntas. Como chegaram no poder? Quem os colocou lá? Somos capazes de eleger pessoas com discursos de soluções rápidas? Quando Bolsonaro se populariza cada vez mais em seus discursos, como quando falou que o Brasil é “estado cristão” e que “minorias têm que se curvar” (vídeo) me lembra de Light conquistando as pessoas, alegando que está construindo algo melhor, mas só que na verdade está somente afim de construir um novo mundo em que será um tipo de deus.

Kira: "Eu sou Deus do novo mundo", mas... o que será que realmente novo Light está a nos oferecer?
Nesse momento a construção no momento inicial da narrativa se faz valer totalmente para o resto da história, pois ao sermos apresentados primeiramente a Light conhecemos seu mundo e logo adquirimos empatia por ele, e assim facilmente somos conquistados por seus discursos de matança. Mas quando paramos para pensar nas perspectivas de L, na relação abusiva que Light possui com Misa Amane (Aya Hirano) e nos esquemas totalmente cruéis que nosso proprietário do Death Note realiza somente para que as pessoas se curvem a ele, começamos a perceber que estamos lidando com um novo ditador, que só quer fazer valer suas perspectivas. 

Ryuk: "Você perdeu, Light"
Quando vamos ao episódio final e entendemos o porquê de um “Novo Mundo” (nome do episódio), vemos que um novo mundo não é um supremo ditador que mata aqueles que não se enquadram em sua expectativa, desse exemplar de babaca já tivemos muitos em nossa história da humanidade. O “novo mundo” defendido no último episódio é um mundo sem ditadores e sem justiça feita com as próprias mãos, sem máscaras ou planos para sair ileso após cometer tantos assassinatos, PUTZ! Um novo mundo é aquele que construímos hoje, já que ele é novo eu não posso defini-lo, só posso repudiar o que há de mais antiquado e autoritário, para que realmente um novo mundo realmente novo possa ocorrer.

TRAILER


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sexta-feira, 8 de setembro de 2017

TertúliaView: "A Caverna" (La Cueva) 2015 de Alfredo Montero



Escapismo seria uma forma de tentar fugir da realidade ou do cotidiano, tido sempre como algo desagradável, logo se "escapa" pois desviamos nosso foco para outras coisas com mais entretenimento. Deste modo é fácil afirmamos o cinema como uma forma de escapismo, com muitas fantasias e ficções em que conhecemos superpoderes, magia, monstros e uma infinidade de criaturas fantásticas... As vezes dá medo, né? Mas o que me dá o maior cagaço é quando a vilania está dentro dos nossos próprios protagonistas! PUTZ!

+ A Caverna (La Cueva) 2015 de Alfredo Montero



Já ouvi muitas pessoas falarem que o gênero do terror estava estritamente ligado com a fantasia, assim onde o horror cotidiano (violência e roubos) é intenso, nos impediria de aceitar o horror da ficção como uma forma válida de escapar da realidade, pois “na real” não estamos escapando, mas sim a reencontrando o horror. Mas na minha humilde opinião eu discordo, gosto de me entregar a contracorrente, se lembre! Somos o Cine Tertúlia! queremos EXPLODIR MENTES, amamos desafios! “Quando o mundo se revela maior do que imaginamos, quando nossos medos se tornam realidade, quando temos a sensação de sermos insignificantes na vastidão e nos mistérios do universo e, ao mesmo tempo, sermos o centro dele.”¹ Nesse momento acreditamos que a vida é possível em todos os sentidos, tanto real como imaginativo.
 
Nossos "queridos" protagonistas encontram um "aconchegante" caverna.
Nesse contexto quero apresentar um diretor “bem pouco conhecido”, chamado Alfred Hitchcock, que em seus filmes aplicava uma lógica perfeita que fez conquistar plateias em todo mundo: em que talvez o "mal" resida em sua própria casa ou até em você mesmo. MEU OLORUM! Pensa só amigos, em “Festim Diabólico” (1948) é apresentado alguém demônio? Em “Disque M para Matar” (1954) quem faz a ligação é um monstro alienígena? Até quando vemos outros seres vivos como vilões da história como em “Os Pássaros” (1963), no nosso cotidiano tal ser é bem presente, não? Nessa brincadeira de levar o terror para dentro da sua zona de conforto e que os culpados não são nada menos do que aqueles que estão sempre com você, o diretor Hitchcock consegue construir uma narrativa que mesmo o cara com a realidade mais brutal sinta medo e tensão.
 
O diretor Alfred Hitchcock coletando sugestões de forma bastante "amorosa"
No filme de Montero em questão conhecemos cinco amigxs que estão de férias acampando e num belo dia decidem ao acaso visitar uma caverna encontrada por um deles. Nesse momento, quanto mais entram na caverna, mais aumenta o medo e a tensão pelo que vão encontrar: assassinos, estupradores, monstros, vampiros? Nossos medos cotidianos se misturam aos medos fantasiosos que o cinema sempre nos presenteia. Mas com o decorrer da narrativa percebemos que talvez o toque vilanesco esteja em casa um deles: Jaco (Marcos Ortiz) e seu temperamento autoritário e machista, Carlos (Xoel Fernández) e sua excessiva necessidade por filmar tudo e Begoña (Eva García-Vacas) que sempre desconfia de tudo e todos, sendo o medo sua principal característica. Assim a cada minuto que passa é um tempo a mais compartilhando temores, conflitos e incriminações e é nesse momento que nossos protagonistas começam a demonstrar como o horror não está tão distante, não precisa de fantasias ou mundos mágicos, mas de apenas um momento ruim.
 
Nem parece que vai dar merda...
O filme aposta tanto em veracidade em sua narrativa que é filmado em found footage, em que a câmera se mostra presente na cena pois é filmado por algum dos participantes, sendo uma tentativa de mostrar como fosse um documentário em que as cenas foram filmadas daquela maneira. Logo o filme que é gravado em uma caverna se torna mais claustrofóbico e aterrorizante, a todo instante e a todo barulho sentimos a sensação de que algo vai aparecer, algum monstro assassino de “Abismo do Medo” (2005), mas não! Aqui o rolê se torna mais pesado... Acho que monstros malvados seriam melhor para uma sensação pós crédito, “UFA! ACABOU O ROLE, AINDA BEM QUE MONSTROS NÃO EXISTEM...” Mas infelizmente os “monstros” aqui são todos humanos, querendo fazer tudo para sobreviver. 

P.S: Se tiver alguma viagem aventureira em cavernas para realizar, por favor, faça a viagem antes de ver o filme! Esse filme vai te dar muita brisa errada sobre cavernas! Eu fui pra PETAR em Julho, recomendo pácas! Recomendo muito, mas antes de ver esse filme...

¹ Samir, M de M. Ficção de Polpa, Vol 1. Porto Alegre: Não Editora, 2012, p. 11.

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