quinta-feira, 26 de novembro de 2015

Tertúlia Indica: "Turbo Kid" (2015) de François Simard, Anouk Whissell e Yoann-Karl Whissell.


Que a nostalgia está muito presente no mundo cinematográfico é algo inegável, pensa só nas mil e uma produções que saem como refilmagens, spin-off e reboots de obras da década de 1980 e 1990... Mas não estamos aqui para julgar, mas sim para oferecer INSANIDADES! Deste modo podemos falar que o filme em questão pode ser o resultado de fusão de duas ótimas produções recentes, "Mad Max" (2015) de George Miller (nosso #TertúliaView sobre) e "Kung Fury" (2015) de David Sandberg (nosso #TertúliaCast e #TertúliaIndica). DÚVIDA? SACA SÓ...

+ Turbo Kid (2015) de François Simard, Anouk Whissell e Yoann-Karl Whissell




Um... pouco! Dois... não! Três? PERFEITO! Três diretores para fazer esse projeto realmente dar certo! E como foi difícil hein... Tudo começou no mítico filme "O ABC da Morte" (The ABC's of Death, 2012) (nosso #TertúliaView), um filme composto por 26 curtas, cada um com um título referente a uma letra do alfabeto, no curta com a letra "T" ficou com o INSANO "Toilet", logo o nosso "Turbo Kid" foi deixado de lado... E quando parecia que a merda já estava feita e o jeito era dar descarga no projeto todo, aparece um tal de Jason Eisener (sim, o diretor de "O Mendigo com uma Escopeta", 2011, já tertuliado por aqui) e diz: "não vejo motivo para não realizar um longa metragem de um curta que não deu certo!" GÊNIO O MENINO NÉ

COMPARE VOCÊ MESMO: "TOILET" OU "TURBO KID"?

Curta Vencedor: "Toilet"
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 Curta "Turbo"
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Todas as apostas estavam dizendo que o projeto daria mais bosta... Mas ficou SENSACIONAL! Sei que são filmes contemporâneos e se os colocarmos como fonte de inspiração um do outro seria uma erro, mas vale ressaltar a matemática inicial de que MAD MAX + KUNG FURY = TURBO KID! Pois temos aqui um ambiente pós apocalíptico de 1997 (tão década de 1980 que até a projeção de futuro é na década de 1990), num mundo destruído e dominado por Zeus (Michael Ironside), em que o único meio para se locomover são as bicicletas (com cenas de perseguição tão INSANAS quanto aos bizarros carros de "Mad Max"). Nesse cenário "inspirador" conhecemos Kid (Munro Chambers) um órfã que vive somente em sua zona de segurança, não se arrisca a confiar em ninguém, somente em sua história em quadrinho favorita, o Turbo Rider.


O filme já me conquistou por isso: "EPIC PICTURES, LÍDER Nº1 EM VENDAS DE LASER DISC"

Kid resolve enfrentar seus medos e se arriscar!

Ai que conhecemos o mérito do filme, que ao apresentar um panorama tão desfavorável e desesperançoso como esse, mostra que é possível que Kid #AcrediteNaGravata, isto é, que ele ainda possa acreditar que é possível algo melhor naquele mundo desolador. Fazendo suscitar questões semelhantes ao filme Mad Max: como acreditar em algo se tudo é uma merda? Mas quando temos algo em mente, algo maior para acreditar, a luta se faz necessária... E é nesse momento fodástico que conhecemos nosso The Kid se tornado o Turbo Kid, como uma mera HQ pode influenciar toda uma realidade e a vida dele. 

Algo a acreditar... pode surgir do acaso!

...e de frases de efeito sem sentido algum!


Tudo nesse filme é oitentista, desde a premissa, a trilha sonora, roupas e até frases de efeito. Fazendo um tipo de "Kung Fury" de 93 minutos, mesclando ação (violência gratuita mesmo!) comédia, aventura e nos deixando a todo momento na dúvida se aquilo tudo é uma homenagem ou uma sátira.
 
SANGUE!!!

Zeus (Michael Ironside)
O filme lança a brisa: se estamos numa sociedade desoladora por que não ressuscitar ideais... ressuscitar esperanças... que talvez sejam infantis ou bobas, mas são ideias que nos façam sair de nossa zona de segurança e se arriscar num mundo sem esperanças. Tanto o personagem de Zeus possui uma importância no decorrer da obra, que, de um ser mascarado se transforma em um homem que pode se machucar, tudo por causa dessas HQs! Para finalizar o texto se hoje de maneira INSANA: coloque uma gravata, pegue uma bike e conheça lugares em que você nunca foi... talvez sua esperança esteja lá. KEEP BELIEVE DEARS TERTULIANXS!

FIQUE COM ESSE TRAILER PARA O SXSW 2015... DIRETO E RETO!



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quinta-feira, 19 de novembro de 2015

Tertúlia Análise: Cinema e Resistência




 “Resistir é inútil!”. A frase deferida pelos Borgs em “Jornada nas Estrelas: A Nova Geração” (1987-1994) se tornou dentro do universo cinematográfico, talvez, umas das expressões mais famosas. Podemos identifica-la nas séries, filmes ou qualquer forma de entretenimento nos dias de hoje. Mas, então, resistir é inútil?
Levando em conta que a narrativa do entretenimento está ligada quase que predominantemente com uma dualidade de bem contra mal, mocinho contra vilão e de que tudo no final termina bem, a resistência se torna nessa narrativa peça fundamental e, sim, útil.
Resistir é uma ação tanto ativa quanto passiva que é capaz de mudar o ritmo da história. É o momento no qual as engrenagens se alinham e a resolução (psicológica e/ou do problema) surge. Posicionando-se não só como útil, mas também de fato necessária enquanto motor de mudança de uma ameaça iminente.

Cena de “Jornada nas Estrelas: A Nova Geração”
Em “Matrix” (1999), todas as vertentes filosóficas se convergem em resistência da raça humana contra a opressão das máquinas. A resistência se expressa de diversas maneiras durante o filme, ou melhor, em toda a trilogia. Enquanto ainda em condição de bateria das máquinas, o Sr. Anderson (Keanu Reeves) é apenas representado como um pequeno cubículo de alguma empresa qualquer e encontrava sua resistência em contrabandear softwares em seu pequeno apartamento em algum prédio qualquer. Posteriormente, sua resistência se encontra em escapar da Matrix, ou seja, em entrar em contato com a realidade na sua forma mais nua e crua para em seguida se apresentar como ícone da Resistência dos humanos, e age quebrando e dobrando toda e qualquer regra do sistema matriz.
Mas vamos destacar uma resistência diferente nos filmes. A cena na qual Cypher (Joe Pantoliano) trai o grupo de Neo (agora o Sr. Anderson se torna Neo e tal troca de nome expressa outra forma de resistência) para poder desistir de resistir e se unir a “ignorância”, entrando no estado inferior de existência. Uma frase que define bem essa questão talvez seja: “A ignorância é uma benção”. Então, fica a pergunta, como resistir à ignorância, como resistir a si mesmo e a vontade de fugir?
Nesse ponto, ironicamente, entra a personagem de Morpheus (Laurence Fishburne), referência ao deus grego dos sonhos. Ele, enquanto homem verdadeiro e livre do sistema, é a resistência real. Para resistir à ignorância ou proporcionar aos outros o poder de resistir a si mesmos, ele recorre a uma certa dose de “hedonismo” como simbologia de resistência. A cena da enorme orgia em Zion serve como lembrete da sensação humana real, seja de prazeres da carne ou algo mais metafísico. O ponto que podemos levantar é como essa orgia pode simbolizar uma resistência mais humana do que a luta exercida por Neo no meio virtual. Esse “hedonismo” é uma forma de lembrar que a realidade, em toda sua peculiaridade, é humana e viver em contato com sua natureza é a maior forma de resistência que podemos encontrar em nós mesmo para combater a vontade de fuga e ignorância.

Cena de "Matrix"
É fácil identificar e rotular o lado opressor e o lado da resistência. No filme citado tínhamos humanos resistindo e máquinas oprimindo. Em “Guerra nas Estrelas” de George Lucas tanto na primeira quanto na segunda trilogia, a divisão é sempre clara, seja império versus rebeldes, república contra um levante de golpe ou a simples dualidade Sith/Jedi.
Todavia, compliquemos um pouco essa narrativa. Em “Batman: Cavaleiro das Trevas” (2008) a princípio qualquer um colocaria o Batman como a forma de resistência, seja ao crime ou a tudo aquilo que não é bom. E, por consequência, o Coringa a opressão, por não agir da mesma maneira que o herói. Porém, a figura do Coringa é na verdade mais uma forma de lutar contra algo, de resistir a alguma coisa. Mas, exatamente a que?
Apesar de o anti-herói Coringa dizer que ele não é o “cara com um plano” e que ele é apenas um “agente do caos”, vemos essa visão se desfacelar ao absorvermos a narrativa do filme como um todo. Primeiro, quebremos a dualidade inicial de que caos e ordem serem opostos, são na verdade elementos que se compõem. São parte de um todo. O que podemos tirar disso é que o caos, assim como a ordem, são veículos de uma teleologia.
O Coringa de fato tinha um plano, um motivo e um meio para um fim e para alcançá-los utilizou o caos. E através do caos veio a resistência. A resistência à uma realidade maior, ele luta não só contra o Batman, mas sim contra a ordem estabelecida, implantando um novo meio de organização, o chamado caos. Isso não serve para romantizar o vilão ou quebrar a visão de herói do Homem Morcego, mas sim reforçar a ideia de que não são opostos e sim forças que se complementam.

Cena de “Batman: Cavaleiro das Trevas”
 A arte tem costume de simbolizar essas formas de luta, seja pela dualidade ou pela complementaridade. E, se corrermos um pouco atrás no texto, lembraremos da orgia de Zion e da expressão de resistência através do corpo e da música. É a esse ponto que voltamos a nossa atenção agora : a dança.
Por mais estranho que pareça o movimento ritmado do corpo, pode ser entendido como resistência a rigidez de uma opressão. Iremos com calma exemplificar essa ação, partindo do real para a fantasia.
Em "Billy Elliot" (2000) a dança é um grito de resistência, é uma maneira de não sucumbir à sociedade maciça e ao mesmo tempo quebrá-la. Em uma Liverpool, extremamente industrial durante o governo da Dama de Ferro, coberta pela fumaça e pela violência, greves trabalhistas e envolta numa sociedade banhada por conceitos conservadores, surge um filho de minerador que resolve se impor contra a opressão dessa vida através da dança. Cada movimento de Billy é um giro a mais na resistência, é uma maneira de transformar o meio de organização regente em caos. Ele transforma o conservadorismo da família em aceitação da expressão de resistir, ou seja, em mudança efetiva.
 
Cena de "Billy Elliot"
Em um caso mais fechado como na a cena de dança em “Perfume de Mulher” (1992), os movimentos do tango quebram qualquer condição limitadora que o Coronel Frank Slade (Al Pacino) poderia ter. Ele passa a ser a resistência do corpo ao próprio corpo e, mais uma vez, a mudança efetiva acontece dessa vez dele e dos outros.

Cena de "Perfume de Mulher"
Nos enredos mais fantasiosos dos musicais em que, a qualquer momento, tudo vira música e dança, a resistência encontra maior simbologia e abrangência. Em “Hairspray” (2007) uma protagonista branca acima do peso e que se identifica na cultura negra americana encontra na dança a resistência e com ela a luta por novos conceitos, tal como em "Billy Elliot". Em “Grease - Nos Tempos da Brilhantina” (1978) a dança e a música é a maneira que os protagonistas encontram para quebrar a ideia do papel do homem e da mulher nos relacionamentos, ou seja, a resistência aos velhos costumes.

Acima: cena de "Hairspray"; Abaixo: cena de "Grease"
 Talvez a multiplicidade de versões possíveis de resistência presentes na sétima arte sirva para nos mostrar a capacidade infinita que temos de resiliência antes mesmo de resistir. Somos caos e ordem, dança e rigidez. Múltiplos por natureza e criados e formados para resistir. No fim a mensagem não era se resistir é útil ou não, mas sim de que maneira resistiremos. Que seja do caos à dança, mas sempre resistamos. 


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