sexta-feira, 6 de outubro de 2017

TertúliaView: "A Múmia" (The Mummy, 2017) de Alex Kurtzman

+ A Múmia (The Mummy, 2017) de Alex Kurtzman



Explicar por quê um filme é ruim as vezes pode gerar muita discussão, principalmente se você acha que o melhor lugar para mostrar sua opinião é aquele grupo de cinema no Facebook [nunca é]. E é por isso que o tertúlia e seu grupo de especialistas pensou numa ideia brilhante: como deixar um filme ruim [na nossa opinião] bom?! E como não começar um filme que esta sendo saco de pancada da crítica e do público??? [não confie no Rotten Tomatoes]

A Múmia de 2017 recebeu críticas negativas seja da imprensa especializada, seja do público geral. No IMDb ele recebeu uma preocupante 5,6 [assumindo, e sendo generoso, que 6 é uma nota razoável], mas o filme em geral apresenta questões complicadas que atrapalham o desenrolar da história. Talvez o primeiro seja o clichê. Não é problema trabalhar com clichês, portanto que a história nos deixe a sensação de apresentar algo diferente. Dois exemplos recentes, Vida e Autómata [por acaso escrevemos sobre isso Aqui], filmes que trabalham clichês da ficção científica, mas ao mesmo tempo deixam essa sensação de ter algo novo. A história d'A Múmia conta a história de exploradores de tesouros em busca de um artefato perdido e ao encontra-lo se deparam com algo sobrenatural e incompreensível. Com essa descrição local poderíamos estar falando de vários filmes que trataram desse clichê de expedições misturadas a aventura e ao sobrenatural [eu sei que seu cérebro está gritando INDIANA JONES!] No entanto, como falei, A Múmia não nós trás nada de novo ou algo que sugira um caminho diferente.

Cena de abertura do filme Indiana Jones e os Caçadores da Arca Perdida

Outro problema que poderíamos apontar é a falta de complexidade da vilã. Se Imhotep nos filmes de 1932 e 1999 era guiado pelo amor, Ahmanet não tem motivação pessoal. Se seu objetivo inicial era tomar o reino de seu pai, ao ser trazida aos tempos atuais ela se torna somente um instrumento para trazer o mal, representado pelo deus Set, à Terra. Se ela não existisse, qualquer outra pessoa poderia fazer isso [como faz o personagem de Tom Cruise].  Além disso, a Múmia e os monstros não são se apresentam como ameaças. Os monstros criadas por ela por um beijo que suga sua energia vital, algo que também não é explicado e se apela a inteligência do expectador, são facilmente derrotados pelo nosso herói.

Ahmanet e Imhotep na versão de 1999

O herói também apresenta problemas. Se tenta construir a imagem do personagem em busca redenção, no entanto, tal mudança nunca é de fato direcionada e ocorre de forma abrupta e esquisita próximo ao término do filme. Suas motivações se confundem durante o filme, e no fim ele se torna também mais um instrumento para o grande mal. Afinal, os personagens principais são ele e a Múmia ou o mal? E nisso entramos no terceiro problema.
A organização de Dr. Jekyll é inserida logo no início do filme sem muitas explicações e ficamos um tempo sem saber quem eles são. Mas o problema é que ficamos sem saber quem eles são de fato o filme todo. Em certo momento eles se apresentam como uma entidade que combate o mal, ponto. Se você não é leitor do gênero terror/ficção científica você ira ficar perdido pois eles não vão explicar quem é o Dr. Jekyll. Não estou pedindo para darem uma de Nolan e explicarem tudo, mas explicação de menos também não é boa.

Capa do livro "O médico e o monstro"

Desta forma, chegamos ao final com 3 problemas: o vilão, o herói e a organização. Como poderíamos tornar esse filme um pouco melhor? Primeiro, o filme deveria escolher um foco. Ao querer apresentar tudo o que fosse possível da organização logo de início na retomada do Dark Universe, Universo Sombrio do estúdio Universal, eles acabam dividindo o foco e tornam o plot da Múmia fraco, pois em certos momentos ela fica no limiar entre primária/secundária. O filme tendo como título A Múmia poderia mostrar a organização no final do filme como um MIB chegando para limpar a bagunça e utilizar outro mecanismo para desenrolar a descoberta da múmia. A Múmia de 1999 fez isso utilizando os exploradores, desconhecendo o que tem em mãos, para renascer a múmia, Imhotep, e este seguindo sua busca após isso.

Dark Universe "antigo"


Logo do "novo" Dark Universe

Também era necessário proporcionar a vilã de uma motivação que não se esvaziasse ao ser trazida para o presente. Ela própria ser a encarnação do deus Set? Não ter motivação nenhuma, só ser um morto-vivo sem ação racional? Essa é mais complicada e talvez as soluções não vão no sentido que Hollywood imagina os filmes de hoje. E esse talvez seja o problema do herói. Em certos momentos é possível pensar que ele só está ali para as cenas de ação ou alívio cómico. Os filmes de Hollywood se encastelam nessa posição de Michael Bayziação dos filmes. Explosões, cenas de tirar o fôlego, tiros, explosões. Para onde isso leva a história? Talvez a solução do herói seja mais simples de resolver: reforce suas motivações, mesmo que negativas, mostre um movimento maior até ele chegar ao momento inicial do filme, mostre sua jornada; Mostre sua vulnerabilidade a verdadeiras ameaças, faça seu sacrifício chegar até o expectador e não parecer algo vazio. Seu embate deve ser com a Múmia e isso deveria ser retomado várias vezes durante o filme e não somente uma grande luta final como se ela fosse um chefe de jogo que só aparece no fim.

Acho que muitas pessoas poderiam indicar esses outros caminhos. Você tem um material envolvendo misticismo, sobrenatural, questionamentos sobre a vida e a morte, traga isso para o primeiro plano e coloque cenas de ação que desenvolvam a trama e você terá um filme que de fato fale da Múmia.

"Habitua-te a pensar que a morte não é nada para nós, pois que o bem e o mal só existem na sensação. Donde se segue que um conhecimento exato do fato de a morte não ser nada para nós permite-nos usufruir esta vida mortal, evitando que lhe atribuamos uma ideia de duração eterna e poupando-nos o pesar da imortalidade. [...]. Não há morte, então, nem para os vivos nem para os mortos, porquanto para uns não existe, e os outros não existem mais." Epicuro

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