quinta-feira, 10 de março de 2016

TertúliaView: "O Fantasma do Futuro" (Ghost In The Shell, 1995) de Mamoru Oshii



Um belo dia o filósofo René Descartes proferiu sua célebre frase “Penso, logo existo”, nos dando a entender que o ato de realizar reflexões nos torna reais e que esse ato é imprescindível para ser um ser humano. Em meio ao período renascentista o filósofo inicia um novo período para a filosofia ocidental, trazendo ao centro das discussões a razão para ter como finalidade a verdade. Simples? Até poderia ser para o século XVII, mas para nossos dias atuais é algo que deve ser rediscutido. SIMBORA?

+ O Fantasma do Futuro (Ghost In The Shell, 1995) de Mamoru Oshii


Como será o futuro? Um questionamento que muitas vezes paramos para pensar... Será algo bom? Algo ruim? Em 1982, Ridley Scott lança o clássico da cinematografia de sci-fi, "Blade Runner", baseado no livro de Philip K. Dick, nos situando num futuro distópico (saiba mais aqui), em que corporações mandam no planeta, ou melhor, na galáxia, e que se utilizam de androides para realizar seus serviços... Sujo, violento e corrupto... Podem ser as três palavras chaves para esse mundo. Não muito diferente do futuro de "Ghost In The Shell", baseado no mangá de Shirow Masamune, em que conhecemos a Seção 9, uma equipe formada por androides e humanos que enfrenta crimes que surgiram com o avanço da tecnologia.

CENA DAS LÁGRIMAS DO BLADE RUNNER
Se o fato de viver, se ser um sujeito ativo e encarar o mundo (ou o cosmos no caso de Blade Runner) como um horizonte de possibilidades. O androide Roy Batty (Rutger Hauer) se tornou um ser humano da melhor qualidade, não?

Cada personagem do filme tem sua importância, como líder a Major Kusanagi, uma androide, tem um corpo inteiramente artificial que protege seu cérebro, seu corpo é esbelto e, se formos pensar, transcende a ideia da sexualidade, pois aquele corpo, por mais lindo que seja, não passa de uma proteção mecânica que sustenta seu cérebro. Assim como o personagem Bateau, parceiro de Kusanagi, que possui uma estranha prótese no lugar de seus olhos, e como diz a frase "o olhos é a janela da alma", já paramos para refletir que alma é algo estranho para ele. Assim como Aramaki, que é um dos poucos humanos do Setor 9, e como dito pela Major, ele foi escolhido para que a previsibilidade de um robô não marcasse o esquadrão. Uma animação feita pelos detalhes, ao mesmo tempo em que há diversas reflexões há momentos de contemplação. Simplesmente INSANA!

Major Kusanagi
Bateau
O futuro é o ano de 2029, em que a tecnologia se expandiu sem nenhum controle, atingindo a níveis neurais, deixando o limite entre o real e o virtual muito difícil de ser definido. A habilidade de processamento de dados e a tecnologia presente na vida das pessoas cresceram de maneira absurda! É nesse ambiente que surge o criminoso "Puppet Master". Não é estranho pensar que essa história teve origem no Japão, um país que vive uma relação muito intima com a tecnologia. Nesse patamar o filme cyberpunk de Mamoru Oshii nos pega de jeito ao pensarmos o que faz de nós humanos e o que faz dos androides não humanos, pois se formos pela máxima renascentista do "penso, logo existo", todos os androides no enredo pensam e utilizam da reflexão, muito mais que alguns seres humanos apresentados na história, que são manipulados pelo chamado Puppet Master. Assim, a busca existencialista da protagonista Kusanagi  se mostra importantíssima para a trama, pois numa sociedade em que a tecnologia está tão naturalizada o que diferencia um robô e um ser humano

CENA DE WALKING LIFE (2001)
Nessa mítica cena de "Walking Life" de Richard Linklater conhecemos questionamentos sobre o que nos define como pessoa: memórias, história, informação...

Ser questionado por algo que você tem como a verdade base de sua vida é algo arrebatador... Por isso mesmo esse filme tem todos os méritos para aparecer no blog do Cine Tertúlia, e por isso mesmo, não é um filme que "desça fácil", pelo contrário, possui uma carga reflexiva gigantesca e a todo o momento nos sentimos necessidade de repetir uma cena ou voltar para outro plano. Memórias e vivências? O ato de pensar? Possuir uma alma? Podemos pensar em diversos argumentos que nos levem a defender nossa diferença perante os robôs, mas aqui nessa história, todos eles são destruídos de maneira genial e precisa, nos deixando sem nenhum argumento, coisa que só como uma boa obra de ficção distópica pode nos oferecer.

SACA SÓ ESSA CENA DO FILME
Dois minutos de pura explosão de mentes! Pode repetir quantas vezes quiser... Eu acho que repeti umas 5 vezes quando estava vendo o filme...
“- Forma de vida? Que ridículo! Não passa de um programa de auto preservação! 
- Com esse argumento, digo que o DNA que carrega não passa de um programa de auto preservação.” 
 

Com essa discussão não tenho como não mencionar o desconhecido filme “Automata” (2014) de Gabe Ibáñez (clique aqui) que aborda a busca de robôs não de sobreviver, mas sim de viver. Mas que tipo de vida seria essa? Que consciência de vida seria essa? Se o pensar leva a existir, eles querem viver intensamente! Descartes criou sua célebre frase no chamado Renascimento, aqui no filme de Ibáñez, o renascimento do homem se torna o robô, ou como exploramos de maneira maior sobre o "Homo Novus" (clique aqui).



Assim, não mais que necessário, a corrente existencialista (século XX) surge para compreender ainda mais a existência da humanidade. Se Descartes no século XVII queria, através de seu método, nos trazer uma verdade universal, aqui, os existencialistas, buscam compreender a complexidade do que é ser um ser vivo. Defendendo que existimos antes de tudo, afirmam que o ser humano não é nada, enquanto não fazer de si alguma coisa. Então, deste modo, existimos, depois pensamos, depois agimos, depois criamos robôs e depois eles nos darão mais questionamentos sobre o propósito da existência. Se os androides são humanos ou não isso será respondido na busca que farão de suas vidas. Precisamos realmente dessas diferenças? O que faz de nós humanos? Assim como a filósofa existencialista Simone de Beauvoir, em seu livro "O Segundo Sexo", defende que a mulher não nasce mulher, mas devido ao mundo machista, ela se transforma na forma/padrão que o mundo exige. Assim como a ideia do que é ser um ser humano, uma construção social de uma determinada época, variando pelas questões que levam a coesão social. O ser humano de hoje é diferente do que é um ser humano de 500 anos atrás, logo a sociedade nos padroniza para as questões de nossa época... E no futuro, que coesão será formulada com nossa relação cada vez mais próxima com a tecnologia? Esse filme é uma perspectiva do que podemos nos tornar.

TRAILER

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