segunda-feira, 26 de junho de 2017

TertúliaView: "Corra!" (Get Out, 2017) de Jordan Peele



Ao buscar uma definição do termo MEDO, podemos encontrar algo como um estado emocional resultante da consciência de perigo ou de ameaça, reais, hipotéticos ou imaginários (clique aqui). Acredito que essa seja uma perfeita definição, pois o perigo não precisa ter ocorrido, ele pode ser uma probabilidade e assim atingindo níveis de suposição e imaginação absurdos... É exatamente ai que se encontra o gênero tão amado e/ou odiado do terror, englobando todo o contexto social de probabilidades e jogando em sua história todas as teorias absurdas que poderiam ser resultantes. Deste modo tal gênero nunca se esgotará, pois os medos e anseios de uma sociedade sempre são renovados com novos contextos. Aqui temos um ótimo exemplo de renovação... 

+ Corra! (Get Out, 2017) de Jordan Peele.


Vamos pensar nos grandes clássicos do cinema de terror! Quais? O Bebê de Rosemary (1968), O Exorcista (1973), Poltergeist (1982) ou A Hora do Pesadelo (1984). Medos de demônios, espíritos demoníacos em sua TV ou assassinos em série que te assustam em sonhos... UI! Filmes perfeitos! Filmes sensacionais! Mas sério... Senta aqui e pensa: QUANDO VOCÊ ACREDITOU QUE ISSO PODERIA REALMENTE ACONTECER COM VOCÊ? Saca... Dentro da narrativa fílmica esses filmes me causaram muitos medos e pesadelos, mas quando me colocava em minha realidade eles perdiam toda sua magia, pois tais preocupações não faziam parte da minha consciência e não apresentava probabilidades reais e nem imaginárias... 

Num filme de terror sabemos que sorrisos duram pouco...
Agora pensa no medo de uma pessoa negra que vive numa sociedade de histórico racista, com cerca de 300 anos de escravidão, com desigualdade econômica de 80% baseada na cor da pele, com cinco vezes mais chance de ser analfabeto, com taxa de homicídios duas vezes mais alta e ufa! (Dados? Clique aqui)... Tudo isso sendo reflexo do “orgulhoso” título de ser o último país ocidental a ter abolido sua escravidão. Com esse panorama apresentando, o medo de demônios e de dormir parecem ser coisas infantis, não? A partir dessa constatação, é extremamente estranho não pensar como ainda não surgiram narrativas que tiveram como tais exclusão racial como fonte. 

Num filme de terror sabemos que a "ajuda" é uma MENTIRA!
Mas lembre-se! O cinema é sacana... SEMPRE! Sacaneou e muito a população negra com blackfaces, com personagens estereotipados e mortes rápidas após salvar o branco do rolê (saiba mais no nosso #TertúliaCast: Black Token)... Mas em 2017, ele renova isso, nos sacaneia com uma narrativa extremamente tensa, Jordan Peele chega com dois pés no peito e nos apresenta “Get Out”, que discute toda a relação entre um casal de namorados, em que a garota é branca e o garoto é negro, ao finalmente conhecerem a família branca da garota. Todos os medos, receios, pavores desse encontro se misturam com o histórico racista da sociedade estadunidense e putz! O resultado é de bagunçar a cachola e dar uma sacudida em todas as certezas de uma sociedade "pós-racial" e que “está mudando e progredindo para algo melhor”, como muitos alegam, já que o Obama estava no poder há pouco tempo. 

"Olhem! Um negro! Vamos falar como não somos racistas por termos um amigo negão!"
Quanto a narrativa do filme só tenho a dizer: PERFEITA! Redondinha e fechadinha! Sabe aquela história em que você percebe que não foi enrolado em nenhum momento... Nenhuma encheção de saco ou adicionais desnecessários? Uma das coisas que mais me incomoda em filmes de terror é o susto fabricado pelo único prazer de assustar o público. (SIM! Estou falando de você James Waan e seus sustos inúteis para a narrativa! MALDITO!) Essa história é completamente linda: se vimos uma cena inicial assustadora, ela não está ali só para botar medo no espectador, ela ajuda a trama! Se vemos algo na trama ela é útil a história! Coisa que o gênero do terror estava precisando: sem plot twist forçados, isto é, mudanças bruscas da narrativa que parecem que foram idealizadas na hora de gravação do filme. Aqui Peele consegue construir uma narrativa concisa e que apresenta pistas para a construção de um final coerente!

O filme é tenso? PÁCAS! Guenta coração!
Basta haver abertura no mercado audiovisual para que profissionais historicamente à margem da indústria cinematográfica possam contar suas histórias.” Como diria Samantha Brasil e Filippo Pitanga, em artigo na Revista CULT, tais profissionais estão ai, cheios de ideias e projetos que podem inovar um mundo estagnado e de repetitivas formulas, como muitas vezes o gênero do terror se apresenta. Essas pessoas só precisam de oportunidades! Não curti a ideia de novas vozes? ENTÃO O “GET OUT!” AQUI É PARA VOCÊ, QUE NÃO ACEITA A DIVERSIDADE!

P.S: Para análises mais aprofundadas recomendo a resenha pautada na Intertextualidade do blog Dentro da Chaminé (clique aqui) e o vídeo abordando um aspecto mais filosófico do canal Wisecrack (clique aqui).

TRAILER LEGENDADO
 

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