quinta-feira, 13 de agosto de 2015

TertúliaView: "Ex Machina" (2015) de Alex Garland




Título: Ex Machina
Ano: 2015
Diretor: Alex Garland
Escript: Alex Garland

É a estreia de Alex Garland como diretor, mas já se apresentava como escritor de bons filmes. Foi o escritor da nova e insana versão de "Dredd" (2012), "Extermínio" (28 Days Later..., 2002) e sem mencionar a participação na elaboração de vários jogos de grande sucesso como "Halo". E digamos que ele estreou muito bem. Além de ter um ótimo currículo na elaboração de histórias incríveis Alex Garland foi capaz de compor um elenco de atores que começam a encantar o público em geral. Exemplo disso é Domhnall que todos devem conhece-lo da saga de Harry Potter e do maravilhoso "Questão de Tempo" (2013) e ele também participou de "Dredd". Oscar Isaac também vem ganhando espaço incrível na indústria dos filmes, vocês verão mais dele em "Star Wars" e ele será o mutante mais forte do universo, Apocalipse. Por fim a nossa querida e mais nova amada sueca Alicia Vikander que participou da péssima adaptação "O Sétimo Filho", aliás, a escolha dela para esse filme passou pelo seu estudo em balé, todos os movimentos de sua personagem são plasticamente perfeitos e hipnotizantes. Como disse Alex Garland soube escolher geniosamente seu elenco. Mas vamos à brisa do filme!
 
Diretor Alex Garland
 Sem querer cair, mas já caindo, no clichê da pós modernidade é difícil termos algo inédito. Algo que você possa olhar e dizer – oooookay, isso é novo pra mim. Mas o que eu sempre gosto de dizer é que se algo é novo ou não, não importa, mas sim a maneira como você consegue contar a mesma história já vivida antes. Acho que esse é o grande segredo que todos nossos professores de História queriam nos ensinar. 


Oscar Isaac, Alicia Vikander, Domhnall Gleeson
No "Feitiço do Tempo" (Groundhound Day) nós vemos todas as nuances que Nietzsche tentou nos dizer com seu "eterno retorno". Bill Murray revive o mesmo dia da mesma maneira, mas quando ele resolve recontar sua história a partir de pequenas mudanças ele consegue transcender o tempo. Mas porque estamos viajando tanto nessa questão? Não estamos aqui para falar de “Ex Machina”. Bom, então, vamos lá.


Cena de "Groundhound Day"
Ex Machina pode não apresentar uma história nova ou diferente de outros filmes que abordam inteligência artificial, porém, a maneira como a história é abordada é algo que pode muito bem te deixar em cheque. O teste de Turing, um teste que serve para determinar se uma máquina possui inteligência artificial ou não, é o grande enfoque da trama. É aqui, exatamente aqui, que o filme brinca com a nossa imaginação.



O filme imprime um ritmo parado pra quem está acostumado com cenas rápidas com muita ação. Ele é composto por diálogos que te instigam por criarem dúvidas em nossas mentes. A Ava (talvez não seja o mais original dos nomes), interpretado por Alicia Vikander, não cria dúvida se ela tem inteligência ou não, mas cria a incerteza se ela tem a natureza humana ou não. Acho que é aqui que o filme se destaca, o elenco de quatro atores que criam um incomodo sem limites sobre as questões de natureza humana, não inteligência em si, mas natureza humana. Você pode muito bem definir o que inteligência, mas isso cria necessariamente um conceito de humano?
 

O humano não nasce humano, se torna humano. Nós criamos nossos parâmetros de racionalidade e comportamento. Definimos o que nos torna o que somos, pare um pouco e pense no comportamento que temos hoje e brinque de viagem no tempo e se jogue algumas décadas ou séculos atrás. Seu comportamento te colocaria em que lugar na escola natural? Seríamos humanos? Criar, fazer, entreter, falar, escrever todos esses itens parece que fazem parte de uma capacidade cognitiva, ou seja, uma inteligência, mas isso realmente define um humano?



É esse cheque, talvez mate, que o filme coloca. Ava é inteligente, ela tem uma vantagem infinita de armazenamento de dados, capacidade de consultar todo conhecimento que ela quiser, mas faria isso dela uma “inteligência artificial”? Se fôssemos pensar assim o Google (que aliás é uma das grandes referencias que aparecem no filme) seria nossa grande oráculo de delfos da atualidade.... Ops, tarde demais.  Mas Ava mostra que humanidade vem de onde nós ignoramos. Sensibilidade.



Sensibilidade para ser capaz de sentir a empatia e ser capaz de brincar, manipular, a natureza humana. Claro que talvez isso seja um tanto maligno, e eu esteja adotando um discurso atual de que o homem é mal por natureza, mas se formos ver um quadro geral, talvez esse pessimismo seja um tiquinho verdadeiro. Mas vamos ver isso como uma critica que nosso fim vem por nossa falta de interpretação e sensibilidade com a empatia. Algo que aparentemente é mais raro que uma orquídea no deserto.



Ex Machina tem uma cena que deixa bem icônica essa indagação. Quando Caleb (Domhnall Gleeson) se vê frente ao espelho e se indaga sobre sua realidade humana. Ele se testa para saber até onde é humano já que a “máquina” e ele se manipulam, brincam e jogam com a empatia. Nesse ponto eu quero lembrar-nos de um filme cultuado e amado por boa parte do mundo e que vai ganhar um novo fôlego nos anos por vir "Blade Runner” (1982). Nesse o teste de Turing aplicado por Deckard (Harrison Ford) é sensacional! Ele trabalha o reflexo sensível e empático que o replicante ou não teria a certas situações, ou seja, se o “sujeito” é capaz de apresentar o requisito para ser humano. Se colocarmos as duas cenas uma ao lado da outra temos um diálogo incrível entre humano e máquina e entre dois filmes com mais de 30 anos de diferença. Eu gostaria de propor o desafio de rever essas cenas e tentar reconhecer em qual busca a máquina e em qual busca o humano.  E agora? Qual é qual? Mesma história, narrativas diferentes.




Esse filme é sensacional porque tange outras naturezas como, por exemplo, a natureza e orientação sexual. Como eu disse só tange mesmo, mas permite a deixa para uma boa discussão depois do filme. Ou a noção que temos de privacidade no universo virtual e como a mesma empatia pode ser manipulada brutalmente em favor de interesses egoístas.




Para finalizar trago uma passagem de uma passagem do filme, já que esse é outro aspecto trabalhado no filme. Quando Caleb conversando com Nathan (Oscar Isaac) cita a passagem “tornei-me a Morte, o destruidor de mundos”. Uma referencia a Oppenheimer que cita a passagem do Bhagavad Gita ao se deparar com o teste da bomba nuclear. Enquanto o físico teórico se espantava com a criação de uma arma capaz de destruir o mundo os dois cientistas de computador se questionam com a criação de uma máquina que por se apresentar humana é causadora da destruição do mundo.  No fim, a revolução das máquinas, nada mais é que uma natureza humana.



Retomando Nietzsche, Ex Machina não conta uma história nova, mas retoma uma história antiga e transcende a nossa condição humana com pequenos detalhes que fazem todas a diferença.



TRAILER LEGENDADO
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