quinta-feira, 11 de fevereiro de 2016

TertúliaView: "Labirinto de Mentiras" (Im Labyrinth des Schweigens, 2014) de Giulio Ricciarelli

O mundo a cada dia se torna  mais complexo, se formos analisar de uma perspectiva histórica, ainda não se mantém vigente a polarização entre comunistas vs. capitalistas, mas sim de uma pluralidade de posições e pensamentos que faz com que analises simplistas se tornem muito superficiais e sem ligação com a realidade. Deste modo podemos afirmar que nos encontramos num momento em que estamos percebendo que dualismos como mal vs. bem e certo vs. errado se tornam ingênuos ao tentar explicar nossa condição. E ao tentar explicar o mundo sem dualismo entramos num labirinto imenso... QUEM TOPA IR JUNTO?

+ "Labirinto de Mentiras" (Im Labyrinth des Schweigens, 2014) de Giulio Ricciarelli


No primeiro filme de Giulio Ricciarelli como diretor, que é mais conhecido como ator na Alemanha, apresenta uma narrativa até que comum em filmes sobre a temática nazista e a busca por justiça, em que conhecemos Johann Radmann (Alexander Fehling), um jovem promotor de justiça que tem por princípio a ética sempre, que se torna o principal investigador sobre um campo de concentração ainda desconhecido, Auschwitz, na Polônia. A partir dai ele entrará em uma busca desenfreada atrás de todas as mentiras e verdades sobre o assunto, mesmo que isso custe sua vida profissional e pessoal.


O grande trunfo do filme não é trabalhar sobre o nazismo, mas sim como trabalha sobre, pois Radmann se apresenta como um ser imaculado e por isso tem todo o direito de seguir em frente contra as pessoas que fizeram todas as atrocidades nos campos de concentração durante o regime nazista. Mas só que essa certeza em cima do dualismo eu (bom) vs. ex nazistas (mal) pode ser a porta de entrada para um gigantesco labirinto, pois você ignora uma verdade que pode te cegar fácil: e se o mal também estiver em você? AI FUDEU!


Em 1963, a filosofa Hannah Arendt publica o livro "Eichmann em Jerusalém", em que faz um relato sobre o julgamento de Adolf Eichmann, que foi responsável pela administração da linhas de trem que levavam diversos judeus para os campos de concentração, nesse momento todos esperavam uma análise visceral em que abordasse como Eichmann era uma grande vilão nazista. Mas Arendt surpreende e faz uma análise do "indivíduo Eichmann", pois ele não possuía um histórico antissemita e não apresentava características de um caráter doentio, segundo a filosofa ele apenas agiu segundo seu dever, estava apenas cumprindo ordens superiores e movido pelo desejo de ascender em sua carreira profissional, na mais perfeita lógica burocrática. Logo ele não era o "mal" e muito menos o "bem", era somente alguém que seguia ordens.

Filósofa Hannah Arendt

A partir desse ponto de vista, quem deveria ser realmente punido ou não na investigação de Radmann? Será que todos os alemães que eram vivos durante o regime de nazista eram culpados? Por qual motivo não fizeram nada para impedir tudo aquilo? Nesse ponto acredito que seja o auge do filme, em que nosso protagonista entra em crise sobre sua própria ética: será que ele mesmo não seria filiado ao Partido Nazista? E... Com essa pergunta que o filme validou sua presença no blog do Cine Tertúlia... Será que você ai, que está lendo esse texto, não se renderia as ordens nazistas? Ou ainda, será, que muitas vezes hoje, não nos rendemos como meros seguidores de ordens sem questionar se tal atitude seria coerente? É meu carx tertulianx, não é de certezas que o cinema vive, mas sim de questionamentos que entram dentro da nossa cabeça fazendo com que nossa mente exploda!


Podemos fazer um interessante paralelo com o caso brasileiro e sua busca, ainda falha, sobre as verdades da ditadura civil militar, pois esse passado recente ainda sustenta seus valores na política e na sociedade. Ainda não conseguimos nenhum Johann Radmann que conseguiu enfrentar toda a justiça dominada por pessoas que se beneficiaram com a ditadura, ainda estamos num estágio de reconhecer aquilo foi ruim e abominável, mas ninguém quer encontrar punições e reviver esse passado lamentável. Demos importantes passos com a Comissão da Verdade divulgado em 2014, mas ainda temos medo de nos encontramos dentro desse emaranhado de mortes e tortura, pois, como o nome já diz, a ditadura teve participação de militares, que assumiram o poder com apoio de parte da população civil. O filme de Ricciarelli consegue mostrar essa busca pela verdade, mesmo que isso custe a estabilidade política de um país, pois devemos investigar nosso passado, para que possamos ter uma projeção de futuro de dias melhores. 

TRAILER LEGENDADO


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