quinta-feira, 25 de dezembro de 2014

Tertúlia Análise: Cinema Natalino

Cine Tertúlia desejando um feliz natal para a galeris!


"Então é Natal...", sinceramente sempre odiei essa frase! "Que seja feliz quem souber o que é o bem..." Mano, vai se ferrar hein! Desejar felicidade somente para aqueles que possuem uma perspectiva de moral semelhante a sua? Se é a paz que a música deseja, ela não conseguiu concluir seu objetivo, porque aqui só tem gente com ódio! Vamos "tertuliar" então, pois mesmo com raiva ou com amor, esse dia ele irá acontecer, é hoje, no dia 25... E uma coisa que nós do Cine Tertúlia nunca fazemos, deixar a vida acontecer sem INSANIDADES, então lá vai mais uma! SEGURA!

Muito ódio por aqui rapá!


 + Tertúlia Análise: Cinema Natalino

i'll be back in christmas

Para início de papo acho legal falarmos acerca da construção ocidental do Papai Noel, sim meu amigo ele não existe! Muitos alegam que ele foi inspirado em São Nicolau, um arcebispo que costumava ajudar pessoas mais pobres. Mas outros afirmam que na Grécia Antiga, no dia de São Basílio, era comum a troca de presentes entre as pessoas. Assim se a origem do "bom velhinho" é algo agitado a versão moderna dele é totalmente comercial. Ou como diria a jornalista britânica Katharine Whitehorn, "do ponto de vista comercial, se o Natal não existisse seria preciso inventá-lo". E é nesse momento que entra a gigante do capitalismo mundial, a Coca-Cola, que, já no século XIX, realizou uma linda propaganda natalina de seu produto, como? Criando um Papai Noel como um velhinho gordo e feliz de vermelho, "COMUNISMO!!!", não meu querido Tertuliano, o vermelho em questão é a cor da própria marca, atualmente a maior produtora de refrigerantes do mundo. Por curiosidade, você já viu alguma propaganda da Pepsi (a principal concorrente da Coca-Cola) sobre Natal? Simplesmente não existe, pois o Natal é algo totalmente Coca-Cola! E não é à toa que o refrigerante Dolly tenha um Papai Noel verde...

MAIS RESPEITO PELO "DOLLY" AGORA HEIN...


D. W. Griffith
E cinema então, como um grande veículo difusor de pensamentos pelo mundo, aderiu esse aspecto comercial que só o Natal poderia proporcionar de maneira perfeita! Logo em 1909, o famoso diretor D. W. Griffith - que no futuro faria o polêmico "O Nascimento de uma Nação" (The Birth of a Nation, 1915) - faz o vídeo, de apenas 15 minutos, chamado "Uma Armadilha para Papai Noel" (A Trap for Santa Claus, 1909), mostrando um lado triste da sociedade americana, antes de um Estados Unidos como potência mundial, apresentando uma família com um pai desempregado e que bebe para esquecer os seus problemas, deixando sua família para trás. Seus filhos decidem montar uma armadilha para o Papai Noel na véspera de Natal. Vemos portanto que está jogada a semente, que dura até hoje no cinema, mesmo se sua vida tiver uma merda, o Natal está ai para renovar esperança, mesmo que você precise armar pra cima do velhinho vermelho!
Poster de "Duas Semanas de Prazer"
A indústria cinematográfica percebeu que o Natal poderia arrecadar muito "amor" para o bolso deles, logo na década de 1940, no pós-guerra, a necessidade de gerar esperança naquela sociedade era de extrema importância. De tal modo surgem filmes como "Duas Semanas de Prazer" (Holiday Inn, 1942) de Mark Sandrich, filme que marca nosso natal até hoje pois foi dele que surgiu a música "White Christmas", de Irving Berlin e tem Bing Crosby cantando e Fred Astaire dançando, mais espetáculo que isso não existe; ou como "Um Anjo Caiu doCéu" (The Bishop's Wife, 1947) de HenryKoster, exaltando a instituição da família e da Igreja; e para cagar mesmo na gente chega o famoso "De Ilusão Também Se Vive" (Miracle on 34th Street, 1947) de George Seaton, afirmando que existe mesmo o Papai Noel!


Episódio de "Bob Esponja".
Tem até a BIZARRA premissa de "Uma História de Natal" (A Christmas Story, 1983) de Bob Clark em que temos um criança que quer de todo jeito um espingarda de presente de Natal. VIVA O TEXAS! E assim na década de 1980 diversos filmes sobre a temática, como "Santa Claus - A Verdadeira História de Papai Noel" (Santa Claus, 1985) de Jeannot Szwarc, que eu não sei o que tem de "verdadeira", que expõe uma crítica a intensa comercialização do Natal reafirmando o "verdadeiro" espírito de Natal; também surge o filme "Férias Frustradas" (Vacation, 1983) de Harold Ramis, eu particularmente nunca gostei desse filme, mas só que muita gente gostou e os produtores decidiram colocar o louco personagem de Chevy Chase em um clima mais natalino, dai nasceu "Férias Frustradas de Natal" (Christmas Vacation, 1989) de Jeremiah S. Chechik.

Poster de "Esqueceram de Mim"
E deste modo chegamos a mítica década de 1990 e como não mencionar o nunca enjoativo "Esqueceram de Mim" (Home Alone, 1990) de Chris Columbus, pois o Natal também é feito com muita confusão; temos o "Adoráveis Mulheres" (Little Women, 1994) de Gillian Armstrong, mostrando que é possível o espírito natalino mesmo se você está numa Guerra Civil; a refilmagem de  "De Ilusão Também Se Vive" como "Milagre da Rua 34" (Miracle on 34th Street, 1994) de Les Mayfield; o "Meu Papai é Noel" (The Santa Clause, 1994) de John Pasquin, mostrando que todos podem ter o espírito natalino; e o "Um Herói de Brinquedo" (Jingle All the Way, 1996) de Brian Levant com Arnold Schwarzenegger fazendo de tudo para garantir o brinquedo de seu filho... BONS TEMPOS! Nos anos 2000 temos logo de início dois filmes para afirmar o Natal: "Um Homem de Família" (The Family Man, 2000) de Brett Ratner e "O Grinch" (How the Grinch Stole the Christmas, 2000) de Ron Howard. Temos as comédias com premissas bizarras como "Um Duende em Nova York" (Elf, 2002) de Jon Favreau e "Papai Noel às Avessas" (Bad Santa, 2003) de Terry Zwigoffe

Alegria para alguns... Tristeza para outros!
Mas nem todos gostam tanto assim do Natal, como no evento da queima do boneco de Papai Noel por crianças francesas, em 1951, reação geral contra a americanização dos costumes, rendendo até um livro "O suplício do Papai Noel" do antropólogo Claude Lévi-Strauss, discutindo as dimensões culturais ocultas do Natal e da figura do bom velhinho. E assim o cinema mais uma vez mostra vida ao sair dos clichês, apresentando novas perspectivas sobre o Natal, como o tenso "Gangues do Gueto" (R X'mas, 2001) de Abel Ferrara ou um "Duro de Matar" (Die Hard, 1988) de John McTiernan, sim esses dois filmes se passam no Natal! Se quiser continuar temos o clássico "Gremlins" (1984) de Joe Dante com suas lindas criaturinhas e as estranhas histórias natalinas de Tim Burton em "Edward Mãos de Tesoura" (Edward Scissorhands, 1990) do próprio Burton e o mais estranha ainda em "O Estranho Mundo de Jack" (The Nightmare Before Christmas, 1993) de Henry Selick. Se estiver afim de um role mais tenso ainda temos um "Problemas Femininos" (Female Trouble, 1974) de John Waters, mesmo diretor do grotesco "Pink Flamingos" (1972); o filme "O Dia da Besta" (El Día de la Bestia, 1995) do sempre BIZARRO ÁlexDe La Iglesia, apresentando uma possível vinda do Anti Cristo no dia 25 de Dezembro; o "Uma Noite de Fúria" (Santa's Slay, 2005) de David Steiman,  que mesmo tendo uma premissa sensacional o decorrer da história não lança muita coisa nova. Nessas horas podemos ir até com o clássico do terror "Brinquedo Assassino" (Child’s Play, 1988) de Tom Holland, já que se passa na época do Natal. E assim temos o clássico "A Felicidade Não Se Compra" (It's a Wonderful Life, 1946) de Frank Capra, que trata de um assunto tenso como o suicídio; os dramas "Lado a Lado" (Stepmom, 1998) de Chris Columbus para mostrar que o amor é possível para todos no Natal; "Um Conto de Natal" (Un Conte de Noël, 2008) de Arnaud Desplechin, com dramas familiares; "Feliz Natal" (2008) de Selton Mello, mais dramas familiares; e o também "Feliz Natal" (Joyeux Noël, 2005) de Christian Carion, mas aqui o drama é a 2ª Guerra Mundial.

1ª Ed do livro de 1843.
Agora pensa só de como seriam os roteiros natalinos de cinema se não fosse Charles Dickens e sua história "A Christmas Carol" (ou "Um Conto de Natal"), muitos filmes não existiriam tais como: "O Adorável Avarento" (Scrooge, 1970) de Ronald Neame; "O Conto de Natal do Mickey" (Mickey's Christmas Carol, 1983) de Burny Mattinson; "Os Fantasmas Contra-atacam" (Scrooged, 1988) de Richard Donner; "O Conto de Natal dos Muppets" (The Muppet Christmas Carol, 1992) de Brian Henson, filho do criador dos Muppets; "Um Conto de Natal" (Christmas Carol: The Movie, 2001) de Jimmy T. Murakami; "Os Fantasmas de Scrooge" (A Christmas Carol, 2009) de Robert Zemeckis e a adaptação romântica "Minhas Adoráveis Ex-Namoradas" (Ghosts of Girlfriends Past, 2009) de Mark Waters. Mostrando como comédias românticas também podem ser muito próximas da temática do bom velhinho. Tais como "Enquanto Você Dormia" (While You Were Sleeping, 1995) de Jon Turteltaub, "O Diário de Bridget Jones" (Bridget Jones's Diary, 2001) de Sharon Maguire, "Simplesmente Amor" (Love Actually, 2003) de Richard Curtis (considerado por muitos o melhor filme sobre Natal que existe!) e "O Amor Não Tira Férias" (The Holiday, 2006) de Nancy Meyers. Todos se passando na época de Natal. 

Fucking style in christmas
Neste aspecto os filmes de natal se mostram como uma encruzilhada. Apesar de mostrarem um momento de esperança renovada e uma crença na bondade do mundo tudo isso é meio que uma ilusão criada pelo consumo, luzinhas brilhantes, pegar balinha do Papai Noel do shopping. Mas mesmo representando tantas coisas contraditórias podemos pegar a mensagem positiva do natal e olhar para ela criticamente. Como nosso querido Arnoldão no já mencionado "Um herói de brinquedo", o mais importante não era consumir, mas estar em família, então que o principal não seja consumir, mas espalhar o “espírito de natal” durante todo o ano, acreditar que este espírito vá além do dia 25 de dezembro, que ele vai além de presentear, um abraço é um presente as vezes... Que ser Papai Noel é levar um sorriso para alguém, se nada disso é real, se tudo o que é o Natal se transforma em consumo, vamos manifestar que a esperança existe, principalmente sem esse intenso consumo. Portanto assim nos encontramos, num intenso consumo (tanto de produtos como de ideias) mas ainda acreditando em algo maior: NA GRAVATA!

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