O que é uma Distopia? Ora, é o inverso de um utopia! Tá, mas o que é uma utopia?! Imagine uma sociedade que funcione perfeitamente, uma civilização ideal, não há conflitos, não há líderes, tudo funciona perfeitamente. Bem, isso é uma utopia. Elas estão ai desde a Grécia Antiga na República de Platão, e até "antes" na Bíblia. A torre de Babel não pode ser entendida como uma utopia? O termo só foi criado em 1516 com a publicação do livro Utopia de Thomas Morus. Desde 1500 utilizamos o termo dos mais variados modos, mas sempre apontando para origem da palavra: um não-lugar, um lugar que não existe, inalcançável. Mas e a Distopia?
Distopia nada mais é que uma utopia invertida, negativa. Muitas distopias tem em comum o controle de seus indivíduos pelo estado, instituições, corporações. Mostrando um mundo destruído a distopia acaba sendo a utopia que não queremos que aconteça e geralmente esse é o objetivo dela, mostrar aquilo que não queremos nós tornar. Quando George Orwell escreveu 1984 (1949), criando um futuro de um governo de esquerda totalitário era uma denúncia ao regime socialista e o perigo dele enveredar pelo totalitarismo, porém Orwell defendia um modelo político de esquerda, mas democrático. Desta forma o mundo de Winston Smith é controlado pelo Grande Irmão e pelo Partido que controla os indivíduos nesta sociedade em todos os sentidos possíveis: seus pensamentos e sentimentos. O livro teve duas adaptações para o cinema, 1956 e 1984. A primeira adaptação, em 1956, contava com a direção de Michael Anderson, que dirigiria em 1976 a também adaptação Fuga no Século 23 (Logan's Run, 1976) (#TertuliaView: Fuga no Século 23).
Uma adaptação muito próximo de 1984 é a Graphic Novel V de Vingança (V for Vendetta) criada por Alan Moore. Publicada entre 1982 e 1983 e finalizada em 1988 a história mostra uma Inglaterra controlada por um governo totalitário, porém aqui de extrema direita, que controla a sociedade e seus indivíduos com câmeras e manipulando a opinião pública com a mídia. Adaptado para o cinema em 2005, o filme foi criticado por Alan Moore por, na visão dele, retirar a discussão entre fascismo e anarquismo e inserir uma discussão liberalismo versus neoconservadorismo da sociedade americana atual. Uma grande semelhança com 1984 é o lema usado pelo Partido de V de Vingança "Força através da Unidade. Unidade através da Fé" que lembra o lema do Partido de 1984 "Guerra é paz. Liberdade é escravidão. Ignorância é força".
Se em 1984 o controle da sociedade e de seus indivíduos vem do Estado, em outros filmes esse controle pode vir de instituições ou corporações. Em Wall-e (2008) a Terra no futuro é governada pela megacorporação Buy-n-Large. Após um catástrofe ecológica a Terra se torna inabitável e a empresa evacua o planeta em uma nave com a esperança de conseguir reverter essa situação. Porém, não dando certo este plano a empresa desiste de voltar para a Terra, pois, apesar da situação a empresa dominava a vida dessas pessoas continuando nesta nave a ótica do consumo desenfreado e da exploração capitalista que parece ter sido a causa da catástrofe. Em Expresso do Amanhã (Snowpiercer, 2013) (clique aqui) o ponto de partida é semelhante. Tentando resolver o problema do aquecimento global cientistas mergulham a Terra em uma nova era do gelo. Os últimos humanos que sobreviveram vivem em um trem que segue em constante movimento. Este trem foi criado por Wilford e uma elite é que lidera as ações que ocorrem no trem. O trem acaba sendo uma analogia a sociedade capitalista, Wilford, o criador, é o capitalista, a elite fica mais próxima da locomotiva e comanda o trem. A classe mais baixa fica no último vagão, sendo excluídos deste sistema. A repressão e a violência pelo qual esta elite trata os marginalizados leva a uma revolta que eles quebram o véu e descobrem a verdadeira dimensão deste sistema.
Outro livro que serviu de inspiração para as distopias no cinema é Admirável Mundo Novo (Brave New World, 1932) de Aldous Huxley. Neste livro o papel do indivíduo na sociedade é definido ao nascer. Quando John, um "selvagem", que vive fora desse sistema é trazido para este mundo ele nos guia pelas contradições deste sistema. A crítica do livro se foca nas figuras de Henry Ford e Sigmund Freud. Ford aparece quase como messias por ter criado a linha de montagem, porém as consequências disto é uma sociedade mecanizada, padronizada, alienada, e Freud mostra o embate entre a satisfação sexual e a repressão ética e moral que é passada por pais e educadores. Neste sociedade em que não existe o conceito de família, os bebês são gerados em incubadoras, as relações sexuais acabam se tornando somente uma forma de lazer e "Cada um pertence a todos".
O livro foi adaptado duas vezes em filmes para a TV, 1980 e 1998, mas seus temas aparecem em Fuga do Século 23, no recente O Doador de Memórias (The Giver, 2014) (#TertúliaView: O Doador de Memórias). O Doador de Memórias, baseado no livro de 1993 de Lois Lowry, tem algumas semelhanças com Admirável Mundo Novo: a sociedade é condicionada por um grupo de sábios, assim como as funções de cada um nessa sociedade, o crescimento destes indivíduos se assemelha a um linha de montagem, as pessoas tomam uma espécie de droga para inibir emoções, porém há uma diferença fundamental, a ausência das memórias. Isso foi o meio encontrado para que se criasse essa sociedade perfeita, não guardar lembrança de amor, carinho, ódio, tristeza. Porém Jonas ao receber sua função na vida adulta, a de receptor de memória, ele recebe todo o passado do doador de memórias, todas as memórias dessa sociedade e com isso o véu desta realidade cai.
O filme Equilibrium (2002) neste ponto é muito interessante, pois ele consegue reunir em sua história os principais aspectos de 1984, Admirável Mundo Novo e de um terceiro livro também importante para definir este gênero: Fahrenheit 451 (1954) de Ray Bradbury. Adaptado para o cinema em 1966 o filme mostra uma futura América anti-intelectual. Os livros são banidos pela sua capacidade de gerar reflexão, e subversão, e todos os livros que existem são queimados por "bombeiros". Em Equilibrium após uma Terceira Guerra Mundial o mundo é controlado por um regime totalitário e as pessoas tomam uma droga para que não tenham emoções e com isso evitar novos conflitos, um novo conflito em escala mundial. John Preston é agente que destrói todo material que seja capaz de provocar sentimentos: obras de arte, livros. Porém, assim como o bombeiro Guy Montag, protagonista de Fahrenheit 451, o contato com esses objetos faz o próprio John Preston a questionar o sistema em que ele está inserido e é agente.
As distopias foram amplamente tratadas pelo cinema nas mais diferentes formas. Além dos citados acima outras distopias ficaram famosas no cinema: Laranja Mecânica (1971), Blade Runner (1982), Brazil (1985), Minority Report (2002), A Ilha (2005), e filmes mais recentes como o Doador de Memória e Jogos Vorazes (2012) que trouxeram esta problemática para o público jovem. As distopias apresentam muitos aspectos em comum: um governo ou instituição que controla seus indivíduos, a sociedade apresentada como um organismo, onde cada indivíduo tem uma função específica, geralmente definida por este estado ou instituição, e muitos filmes mostram um mundo devastado, sociedade ou a natureza. O personagem principal por algum aspecto da história é levado a questionar o sistema que vive e isto leva a derrubar o véu da sua realidade e notar o que está por trás do sistema, e consequentemente questioná-lo. Neste ponto podemos colocar como distopias filmes como Matrix (1998) e Show de Truman (1998), porém, por aquilo ser uma emulação de realidade podemos mesmo considerar como distópico? E isso leva a questionar a própria realidade que separa estes filmes e livros da nossa "realidade". As obras que apareceram no século XX e XXI no cinema e nos livros tratando de distopias, trazendo problemas que ainda estão presentes em nossa realidade como a constante vigilância, a censura, torna um gênero indispensável para questionarmos a nossa posição e atuação na sociedade e a atuação do estado, das instituições e das corporações no controle e disciplina de nossos desejos, normas e valores.
O livro foi adaptado duas vezes em filmes para a TV, 1980 e 1998, mas seus temas aparecem em Fuga do Século 23, no recente O Doador de Memórias (The Giver, 2014) (#TertúliaView: O Doador de Memórias). O Doador de Memórias, baseado no livro de 1993 de Lois Lowry, tem algumas semelhanças com Admirável Mundo Novo: a sociedade é condicionada por um grupo de sábios, assim como as funções de cada um nessa sociedade, o crescimento destes indivíduos se assemelha a um linha de montagem, as pessoas tomam uma espécie de droga para inibir emoções, porém há uma diferença fundamental, a ausência das memórias. Isso foi o meio encontrado para que se criasse essa sociedade perfeita, não guardar lembrança de amor, carinho, ódio, tristeza. Porém Jonas ao receber sua função na vida adulta, a de receptor de memória, ele recebe todo o passado do doador de memórias, todas as memórias dessa sociedade e com isso o véu desta realidade cai.
O filme Equilibrium (2002) neste ponto é muito interessante, pois ele consegue reunir em sua história os principais aspectos de 1984, Admirável Mundo Novo e de um terceiro livro também importante para definir este gênero: Fahrenheit 451 (1954) de Ray Bradbury. Adaptado para o cinema em 1966 o filme mostra uma futura América anti-intelectual. Os livros são banidos pela sua capacidade de gerar reflexão, e subversão, e todos os livros que existem são queimados por "bombeiros". Em Equilibrium após uma Terceira Guerra Mundial o mundo é controlado por um regime totalitário e as pessoas tomam uma droga para que não tenham emoções e com isso evitar novos conflitos, um novo conflito em escala mundial. John Preston é agente que destrói todo material que seja capaz de provocar sentimentos: obras de arte, livros. Porém, assim como o bombeiro Guy Montag, protagonista de Fahrenheit 451, o contato com esses objetos faz o próprio John Preston a questionar o sistema em que ele está inserido e é agente.
As distopias foram amplamente tratadas pelo cinema nas mais diferentes formas. Além dos citados acima outras distopias ficaram famosas no cinema: Laranja Mecânica (1971), Blade Runner (1982), Brazil (1985), Minority Report (2002), A Ilha (2005), e filmes mais recentes como o Doador de Memória e Jogos Vorazes (2012) que trouxeram esta problemática para o público jovem. As distopias apresentam muitos aspectos em comum: um governo ou instituição que controla seus indivíduos, a sociedade apresentada como um organismo, onde cada indivíduo tem uma função específica, geralmente definida por este estado ou instituição, e muitos filmes mostram um mundo devastado, sociedade ou a natureza. O personagem principal por algum aspecto da história é levado a questionar o sistema que vive e isto leva a derrubar o véu da sua realidade e notar o que está por trás do sistema, e consequentemente questioná-lo. Neste ponto podemos colocar como distopias filmes como Matrix (1998) e Show de Truman (1998), porém, por aquilo ser uma emulação de realidade podemos mesmo considerar como distópico? E isso leva a questionar a própria realidade que separa estes filmes e livros da nossa "realidade". As obras que apareceram no século XX e XXI no cinema e nos livros tratando de distopias, trazendo problemas que ainda estão presentes em nossa realidade como a constante vigilância, a censura, torna um gênero indispensável para questionarmos a nossa posição e atuação na sociedade e a atuação do estado, das instituições e das corporações no controle e disciplina de nossos desejos, normas e valores.
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