quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

TertúliaView: "Megamente" (Megamind, 2010) de Tom McGrath.

Quem somos hoje? Afinal, como muitos afirmam, somos nada mais do que aquilo que nossa sociedade constrói, ou impõe, mas infelizmente caímos assim num ramo da filosofia chamado "determinismo", que, como o nome já diz, afirma que temos algo que nos determina, logo essa visão fatalista pode muitas vezes tirar nosso poder de realizar escolhas. E numa sociedade como a nossa, com uma padronização tão efetiva, encontrar nosso papel, encontrar nosso espaço nesse INSANO quebra cabeça, talvez seja algo impossível.

+ Megamente (Megamind, 2010) de Tom McGrath.

POSTER DE MEGAMENTE
Questão que foi apresentada de maneira genial na também animação "Bee Movie" (2007) de Steve Hickner e Simon J. Smith, na qual uma abelha decide fazer algo novo, deixando de lado a ideia de que abelha serve apenas para produzir mel. Assim "Megamente" trabalha com a ideia básica de que vivemos aquilo que a sociedade impõe e não o que realmente queremos ser. "Mas cara é uma animação? Pras criancinhas verem e comprarem o MC Lanche Feliz depois!" Se você quiser acreditar assim, fique a vontade, mas o Cine Tertúlia, sempre está afim de INSANIDADES, assim continue lendo... mas um aviso: sua mente pode ser explodida até o final do texto!

Cena de "Bee Movie"
O início do filme trabalha com a máxima da origem do grande "cueca por cima da calça" "Superman", que (como muitos sabem) veio do planeta Krypton e por uma acaso foi parar na Terra e assim se tornando o super herói mais poderoso do nosso querido planeta... Ahh! Mesmice não? E a partir desse clichezão manjado a narrativa do filme se desenvolve de maneira única, mostrando como foi a criação de Megamente e de seu grande rival Metroman. O primeiro, por um acidente, foi parar numa prisão, enquanto o outro foi parar numa casa com uma família perfeita e a partir disso o rótulo das instituições sociais (escolas, famílias e prisões) começar a ser colocados neles. Metroman passa a ser reconhecido e elogiado por todos, quando nosso protagonista tenta fazer algo semelhante, a sociedade o encara de maneira inversa. E assim infelizmente nossos personagens percebem que os papéis já foram entregues para eles aqui nessa vida, com isso Megamente desiste de ser o que quer, para ser aquilo que lhe impõem, dando prosseguimento a teatralização que nossa vida se tornou em meio a sociedade do espetáculo: o BEM contra o MAL...



Tal espetáculo transcende o filme, ao vermos um filme de temática muito semelhante que saiu no mesmo ano, "Meu Malvado Favorito" (Despicable Me, 2010) de Pierre Coffin e Chris Renaud, que foi lançado primeiro que "Megamente", mas que na minha opinião ficou bem inferior, mas rendeu muito mais dinheiro e sequências. Um referência bem forte seria o fato dos dois filmes possuírem o termo "Minion" que na versão de Coffin e de Renaud ficaram mais famosos. Mas tais "clones" são muito comum no cinema, pois estamos falando de uma sociedade padronizada, sempre a espera do espetáculo, que é sempre o mesmo. Assim podemos colocar como roteiros semelhantes como "Shrek" e "A Era do Gelo", "Formiguinhaz" e "Vida de Inseto", "O Espanta Tubarões" e "Procurando Nemo"; todos com lançamento muito próximos um do outro. É cara, infelizmente isso acontece e dá resultado, isto é, GRANA!


Mas no meio dessa cocozada toda pode sair alguma coisa boa né? Por isso estou falando de "Megamente" ô doidão! O filme discute essa relação com a imposição social como também tem ótima referencias a outros filmes, como "Superman" (1978) de Richard Donner, com a adição de um Marlon Brando e seu papel como Jor-El, temos Criado com seu visual à là Chewbacca de "Guerra nas Estrelas" (1977) de George Lucas, a escadaria e o museu em homenagem à Metroman remetem ao "Lincoln Memorial" em Washington, ou ainda na sátira da campanha à presidência de Barack Obama de 2008 com os dizeres: "No, You Can't". E se você amou a trilha sonora de filmes como "Guardiões da Galáxia" (Guardians of the Galaxy, 2014) de James Gunn vai adorar essa daqui também, com AC/DC, Ozzy Osbourne, Michael Jackson e outras tantas referências a cultura pop. 

E em meio a todas essas papagaiadas o filme não perde seu norte, apresenta de maneira genial de como uma pessoa é aceita ou não em sociedade, colocando a pesada discussão das máscaras que possuímos em coletividade , de como podemos ser aceitos ou não por aquilo estamos mostrando. Assim para poder estabelecer seu primeira amizade com alguém Megamente se disfarça, para poder ser admitido.


Para contextualizar a obra, acredito de impossível não mencionar o recente movimento de filmes voltados para esse público com tal temática: o já citado Meu Malvado Favorito, como também o recente "Malévola" (Maleficent, 2014) de Robert Stromberg, filmes que entram dentro de histórias já apreciadas pelo público, mas com outra perspectiva, o lado "do mal"! Sim, isso mesmo, tentar compreender esse lado e perceber que o dualismo que conhecemos não é nada mais que uma construção. E assim quebrando tantos paradimas o filme tenta mostrar ao espectador que ele pode ser livre desses rótulos que conhecemos, e assim retornamos a nossa pira básica: o poder de escolha que temos em sermos aquilo que realmente queremos ser.

TRAILER LEGENDADO
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AH! Tem um curta que saiu posteriormente ao filme!
"The Button of Doom" (2014) - CC

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