Bem, o que posso falar de "O
Abutre" sem mencionar a palavra "FOOODA" a cada frase
terminada... Meio impossível isso, mas tentarei caro Tertuliano, pois o filme
em questão é "DO CARALHO!"
Na estreia na direção, Dan Gilroy
(famoso por roteiros como "Dublê de Anjo" e "O Legado Bourne"), consegue destruir nossa mente como um diretor de longa data,
construindo um filme deveras INSANO e cheio de eventos que nos fazem pular da
cadeira. É isso mesmo cara, esse filme
aqui merece um lugar na sua agenda para ser conferido hein...
Preparado para o espetáculo? |
As imagens iniciais mostram uma Los Angeles que acreditamos não existir, uma cidade vazia com ruas sem agito, uma Los Angeles com um cotidiano comum a todos nós, não aquela que interessa à audiência que iremos encontrar durante o filme. Mas é nessas madrugadas que muitos "freelancer" correm contra o tempo e seus rivais para entregar morte e sangue a tempo do café matinal a diversas famílias. Tal "profissão" só existe pois ela possui uma demanda, e quem seria ela? Um canal de televisão sedento por dor e morte ou nós os espectadores? E ai que se encontra o tapa na cara do nosso filminho lindo: construir uma crítica INSANA à nossa sociedade do espetáculo, nos colocando em confronto com nós mesmos.
Como ponto de partida podemos
colocar a ideia da "veracidade jornalística", ou seja, a
"verdade" apresentada nos meios de comunicação que, no caso, são os
telejornais, ás vezes podem não ser tão reais assim. Isso mesmo! Você que sempre diz "boa noite" pro topetudo
do William Bonner talvez ficaria com vontade de quebrar o nariz dele depois de
assistir essa obra aqui. Pois ele trata de um jovem chamado Lou Bloom (Jake Gyllenhaal) em sua busca diária por imagens exclusivas e chocantes, afinal,
"é disso que o povo gosta né?". Ou como diz Nina (Rene Russo) os
telespectadores de sua emissora possuem preferências, isto é...
"Os espectadores estão mais interessados em crimes urbanos, que
gradualmente se alastram aos subúrbios. O que significa que teremos uma vítima,
ou vítimas, de preferência brancos endinheirados. Alvos típicos dos pobres e
minorias."
Jake Gyllenhaal e Rene Russo |
Isso mesmo meu amigo, os tais
"fatos" que você recebe todo dia podem ter sofrido um processo
seletivo para melhor lhe atender, isto é, aquilo que você "gosta" de
ver e só. A realidade? Ela é muito relativa! O que existe sim é a "Sociedade
do Espetáculo"! Como apresentado no clássico filme "A Montanha dos Sete Abutres" (Ace
in the Hole, 1951) de Billy Wilder, em que Charles Tatum (Kirk Douglas) é um
jornalista que busca o sucesso e transforma um resgate de um mineiro que
duraria poucas horas em uma notícia nacional para arrecadar fama e sucesso,
transformando uma simples cidade num show com infinitos interesses de fundo.
E quando nosso querido
protagonista Lou Bloom percebe isso ele se joga nesse mundo sujo da construção
dos fatos, tudo em busca de algo maior, a concretização do "Sonho Americano" em sua vida, como ele mesmo fala logo no início do filme...
Na imagem: "FALE A VERDADE". Mas... Qual "VERDADE"? |
"Desculpe, senhor. Estou procurando trabalho. Na verdade, estou
decidido a seguir uma carreira onde possa me especializar e atingir objetivos. Quem
sou eu? Um trabalhador esforçado. Estabeleço metas ambiciosas e sou conhecido
pela persistência. Não estou tentando enganar, senhor. Não cresci nessas
reformas pedagógicas com excesso de autoestima. Espero apenas que a minha
vontade seja respeitada. Mas sei que a cultura mundial já não satisfaz essa
lealdade laboral que costumava ser prometida às novas gerações. Na minha
perspectiva, senhor... Os benefícios aparecem àqueles que se matam trabalhando.
E as pessoas como o senhor, que atingiram esse posto, não conseguiram isso de
mão beijada. O meu lema é: Se quer ganhar na loteria, tem que juntar dinheiro
para comprar o bilhete."
Que merda de discurso né? Mas infelizmente é o que nosso Lou acredita e o que muitos acreditam, na chamada Meritocracia, isto é, um sistema de gestão que considera o mérito como a razão principal para se atingir posição de topo, mas a arbitrariedade reina nessa crença. Afinal o que é ser melhor? O que é ser bom? Mas a crença vive e se sustenta forte no pensamento de nosso protagonista (e de muitas pessoas!).
Assim o filme explora a ideia do "Sonho Americano", a crença de que existe uma igualdade de oportunidades e de liberdade que permite que todos os estadunidenses atinjam seus objetivos na vida somente com seu esforço e determinação. Crença essa que se transforma em algo real, afinal, se o historiador Hilário Franco Júnior alega que Deus existe pois ele influência o mundo na política, na economia e em outros campos, podemos afirmar que o Sonho Americano existe, pois quem não acredita que se o ato de se esforçar garante o sucesso? Quem não acredita que a riqueza vem com o trabalho? Quantos imigrantes não vão aos Estados Unidos buscando a "terra das oportunidades"? Fica difícil destruir um dogma como esse se é a crença nesses valores que baseamos nossa vida, não é?
Podemos ressaltar a atuação
brilhante de Jake Gyllenhaal (possivelmente a melhor de sua carreira), que pode
ser o resultado de duas atuações destruidoras com o diretor Denis Villeneuve em
"Os Suspeitos" (Prisoners, 2013) e "O Homem Duplicado"
(Enemy, 2014) (que são dois filmes também INSANOS). Gyllenhaal beira a
comparações com Heath Ledger e seu INSANO Coringa em "Batman - O Cavaleirodas Trevas" (The Dark Knight, 2008) de Christopher Nolan e com Christian Bale como Dickie Eklund em "O Vencedor" (The Fighter, 2010) de David O. Russell. INSANO, imperdoável e genial! Nosso Jake teve que emagrecer cerca
de 10 quilos para encarar esse papel, o deixando com um aspecto doentio ou
"morto de fome" (um abutre como no título do filme).
Um ponto interessante de ressaltar na direção de Dan Gilroy é o foco no trabalho de Lou Bloom, não conhecemos sua vida pessoal, não sabemos se tem amigos ou familiares, só sabemos que ele busca o sucesso! Numa busca por sexo tenta convencer a personagem Nina a isso, mas se o ato é realizado ou não ele não é apresentado em nenhum momento no vídeo, pois acredito que a intenção foi apenas mostrar o quão cínico é o nosso protagonista e focando somente em seu "trabalho" de freelancer.
Assim jogo essa brisa na sua cara (como foi jogada em mim após o filme): mesmo olhando para todo esse roteiro doentio, nós como espectadores torcemos por sangue, desejamos ver a INSANIDADE prometida no trailer. Indício de uma sociedade que cada vez mais vulgariza a violência e como ela se transformou num espetáculo necessário para nós.
Como um abutre em busca de "comida" |
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E AI, QUERIDO TERTULIANO? O QUE ACHOU?
ESSE FILME É DE CAGAR PARA DENTRO HEIN...
COMENTE! CURTA! BRISE! FAÇA A TERTÚLIA VIVER!
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