quinta-feira, 9 de abril de 2015

TertúliaView: "M - O Vampiro de Düsseldorf" (M, 1931) de Fritz Lang

Se você ainda não viu esse filme só tenho a dizer: "Meça seus filmes favoritos, parça!"... Pois esse aqui é EXPLOSÃO DE MENTE GARANTIDA ou seu dinheiro de volta! É um dos primeiros filmes falados que o mundo conheceu e um dos filmes mais INSANOS que você verá na sua vida: investigação policial, comédia, drama, suspense, tribunal, questões sociais e complexidade é o que não falta nele! BORA TERTULIAR ENTÃO!

+ M - O Vampiro de Düsseldorf (M, 1931) de Fritz Lang*
* Se liga no título do filme em Portugal: "M - Matou".


Para início de conversa o filme em questão é baseado numa história real, a do assassino em série Peter Kürten, que realizou roubos, assassinatos, abusos sexuais em 1929 na cidade de Düsseldorf e assim ficou conhecido como "Vampiro de Düsseldorf", que dá título ao filme no Brasil.

Se liga nessa cena: Close num cartaz escrito "QUEM É O ASSASSINO?" aparece a sombra do mesmo! GENIAL!
É um dos grandes filmes do chamado "Expressionismo Alemão no Cinema", que tinha por pira básica expor o sentimento do autor em contato direto com o espectador.... E qual era o sentimento desses cineastas na década de 1920 e 1930? BAD MONSTRA!!! Sim, acabaram de perder a 1ª Guerra Mundial e o país estava devastado e sem perspectiva alguma de futuro, não é à toa que é um cinema marcado pelo gótico e pelo sentimento nacional. E com a campanha estadunidense contra o cinema alemão no pós-guerra, esse sentimento nacionalista dará um upgrade, pois a Alemanha investirá cada vez mais em se tornar autossuficiente em termos de produção cinematográfica, criando a maior união de empresas da Europa até então.   

Um bom exemplo de filme expressionista: "O Gabinete do Doutor Caligari" (Das Cabinet des Dr. Caligari, 1920) de Robert Wiene.
O filme começa de uma maneira muito interessante, entramos já no meio da história... O temível "vampiro de Düsseldorf" já está cometendo sua série de brutais assassinatos com crianças e a sociedade alemã está sob um forte sentimento de medo! E ai que entra a GENIALIDADE desse filme, ele consegue trabalhar com a questão das instituições sociais, de manipulação das massas e do caos de forma perfeita! Sabe aquela galera que sai por ai gritando "IMPITIMÁ", mais ou menos isso aqui, saca?

Por Bira Dantas.
Tem um tio Iluminista ai, um tal de RUSSÔ (brincadeirinha, era o Jean-Jacques Rousseau), que discutindo sobre como viver em sociedade trabalhou a ideia do "contrato social", alegando que "cada um de nós coloca sua pessoa e sua potência sob a direção suprema da vontade geral", e qual seria essa vontade geral? A ordem, combatendo o caos e permitindo que todos vivam em liberdade. Deste modo vemos no filme uma sociedade que perde seu "contrato" quanto uma assassino de crianças começa a realizar atos de extrema brutalidade... E como ela reage a isso? Ahhh rapaz! COM O CAOS! A sociedade perde seu sentido, todos passam a ter medo e a ideia da "justiça com as próprias mãos" se torna um meio para solucionar a "quebra do contrato". 

Jean-Jacques Rousseau iluminando o mundo!
Mas não é só de tensão que vive esse excelente filme, ele possui uma narrativa cheias de trocas de graus de emoção, como a construção de uma cena cômica e em seguida algo agressivo, aumentando assim a intensidade de violência apresentada. Me fazendo lembrar muito, o também de assassino em série, "O Segredo dos Seus Olhos" (El Secreto de sus Ojos, 2009) de Juan José Campanella (já tertuliado por aqui). Com isso o filme se transforma, beirando a um CSI em plena década de 1930, com intensos trabalhos policiais, não deixando liberdade alguma para o resto da sociedade... Se lembra da brisa do RUSSÔ? Que a sociedade vive em nome de uma vontade geral? Agora a vontade é a prisão do brutal assassino!


E nesse momento Lang quebra nossas pernas de maneira perfeita quando conhecemos uma outra instituição social que é ignorada por muitos, o núcleo criminoso, que devido aos intensos trabalhos policiais tem suas atividades reduzidas e assim, como uma boa instituição social que é, decide lutar pelo status quo de antes, ou como afirmar um criminoso, "Conduzimos nossos negócios como um meio de vida mas esse monstro não tem direito de viver!". Assim, se assemelhando e muito com a burocrática da polícia, decidem ir atrás do então "monstro" assassino. E deste modo o diretor cria um montagem paralela (alternância de planos que acontecem ao mesmo tempo) entre a reunião dos criminosos e os policias na busca pelo assassino, montando assim a chamada "montagem intelectual", uma combinação de imagens para transmitir uma ideia. Assim como a tal da dialética hegeliana da TESE, ANTÍTESESÍNTESE. SE LIGA NA IMAGEM!


Assim percebemos que nenhuma dessas instituições, nem a dita "do bem" e nem a dita "do mal", querem resolver o caso por preocupação social, mais sim para retornar ao status quo de antes, sem nenhuma preocupação com as crianças assassinadas. Sabe aquela pira de crise dos valores éticos? Fritz Lang já estava discutindo tudo isso aqui, RAPÁ! Mas podemos destacar uma diferença básica, a polícia se utiliza da ciência: geometria e química, algo mais racional, enquanto os criminosos, ao contrário, empregam os sentidos e o instinto, (SPOILER) tanto que é um cego que descobre quem é o assassino. (/SPOILER)


A sequência final podemos afirmar que começa um pouco antes da metade do filme, pois a partir daqui é só a INSANA caçada dos criminosos e dos policias em cima do assassino, com os dois núcleos do filme sabendo quem é ao mesmo tempo, nas GENIAIS montagem paralelas do filme! Mostrando ladrões e policiais como pessoas corruptas, egoístas e estúpidas. 


Para fechar o filme com chave de ouro, temos cenas FODÁSTICAS que só o estilo tribunal pode nos oferecer, jogando INSANOS questionamentos para nós: "o que diferencia nossa sociedade dita correta, da insanidade dos criminosos?", conhecemos os argumentos dos criminosos e percebemos que não são tão diferentes dos nossos. Conhecemos os argumentos do assassino que nos deixam sem palavras, não que o Fritz Lang cria em nós algum tipo de compaixão pelo assassino, mas nos faz pelo menos tentar entende-lo. Pois quem o julga aqui não está impune de nada!

A pira "BANDIDO BOM É BANDIDO MORTO" deixa para essa tia aqui mesmo.
Para deixar sua cabecinha mais doidona podemos citar essa linda frase do livro "Cinema e Históriado historiador Marc Ferro, "os historiadores de cinema, depois de S. Kracauer, viram nesse filme uma espécie de reflexo da sociedade, em que os bandidos representam os nazistas, sendo o chefe deles, Shrenke, a representação do Fürher", assemelhando assim a "contrassociedade" criminosa com a "contrassociedade" nazista que estava se formando naquele período. E assim Ferro chama Fritz Lang de "o maior cineasta-historiador de todos os tempos". 

O historiador Marc Ferro.
Mas... Sinceramente, minha pessoa descarta a ideia de que Lang era tão foda assim que estava nos dando premonições tão claras do nazismo de Hitler. Acredito sim que ele estava mostrando um reflexo de sua sociedade, sim, algo de intenso iria surgir com a ascensão do Partido Nazista, mas nada tão óbvio assim. Mas, nas entre linhas, vemos sua denúncia, com falas como "o assassino está próximo a nós", podemos trabalhar na ideia de que o assassino seria algo ruim que estava começam a implantar seu poder de medo na Alemanha; e trabalhando o perigo de como uma massa amedrontada pode realizar atos perigosos (como culpar um pobre velhinho em determinada cena do filme), indica que algo está crescendo na Alemanha que pode manipular seu povo e indicar inimigos inocentes. 


Segundo dizem as curiosidades do cinema, Fritz Lang, como era judeu, nunca curtiu muito o Partido Nazista, por razões óbvias. Já sua esposa, roteirista, Thea von Harbou, era membra ativa do Partido. Depois de sucessos como "Metropolis" (1927) e "M" (1931) foi convidado por Joseph Goebbels, ministro de propaganda nazista, para fazer parte desse "novo mundo" que seria criado. Não deu outra, Lang parte para a França deixando sua esposa e o convite. JÁ PENSOU SE LANG TIVESSE FICADO???

FILME COMPLETO
clique aqui

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