quinta-feira, 2 de abril de 2015

TertúliaView: "A Origem" (Inception, 2010) de Christopher Nolan

A muito tempo quero falar sobre o filme, mas ele é um filme pesado, cheios de referências, da mesma maneira que discute temas complexos e sem conclusões possíveis... É, Christopher Nolan surpreende o mundo mais uma vez com um filme INSANO e com EXPLOSÃO DE MENTES garantida ou seu dinheiro de volta!

+ A Origem (Inception, 2010) de Christopher Nolan



Para quem não assistiu essa obra prima da explosão de mentes sugiro que assista e depois apareça por aqui para finalizar a leitura, pois MUITOS spoilers serão revelados no texto. Mas por agora iremos revelar somente a sinopse: "Em um mundo em que é possível invadir mentes e extrair segredos ocultos, Cobb é o melhor no assunto. Um habilidoso ladrão que rouba valiosos pensamentos do subconsciente das pessoas durante o sono, quando estão mais vulneráveis." (by Guia da Semana)



Maaaas... para inicio de conversa podemos falar do inicio do filme, é claro! Mesmo sendo utilizado em outros filmes de Nolan, o inicio em P&B aqui dá um charme a mais para o filme, já que vamos falar de sonhos, um mundo em que o impossível se torna realidade, primeiro temos que sair do nosso estado de acordado com nossos limites físicos. E assim é o começo do filme, os nomes das produtoras e toda a burocracia do filme é apresentada ali no inicio, em P&B, e em seguida uma cena (nesse momento "entramos no sonho" de Nolan) com o personagem Cobb (Leonardo DiCaprio) perdido e jogado numa ilha, do mesmo modo que nós, meros espectadores, somos apresentados a narrativa do filme: não entendemos nada do que está acontecendo ali! O personagem Saito pergunta a Cobb: "Veio aqui me matar?". Matar o que, CACETE? Assim como em "Amnésia" (Memento, 2000), Nolan nos apresenta o final do filme logo no início, mas que somente iremos compreender tal cena após o final do filme. Será que deu para você entender???


Nem com um desenho facilitou né?
Mas convenhamos... Ver um filme não se assemelha muito com o ato de dormir? É cara, se formos analisar uma das principais ideias da arte foi representar a realidade, ou em outras palavras construir uma realidade paralela, uma versão da realidade criada na mente do diretor, do roteirista ou seja lá quem for. Logo podemos dizer que ao assistir um filme estamos vendo na verdade uma versão do sonho que um pessoa teve. SACOU? Ou, se você gosta de citações, o surrealista Luis Buñuel soltou essa outro dia, "O mecanismo criador de imagens cinematográficas, por seu funcionamento, é o que, entre todos os meios de expressão humana, mais se aproxima do trabalho do espírito durante o sono. O filme parece uma imitação do sonho."

Leonardo DiCaprio
Para continuar pagando de cult por aqui, citarei a cena final do filme "Decameron" (Il Decameron, 1971) de Pier Paolo Pasolini, em que um artista durante todo o filme se dedicou incansavelmente para concretizar uma obra, mas que após um sonho com ela desiste de termina-la, dizendo "Por que criar uma obra de arte tão bela, se sonhar com ela é muito mais belo?". É cara a linha divisória entre cinema e sonhos é muito tênue!


Cena de "Decameron"
Seguindo a ideia do filme como uma simulação do sonho (como uma ideia que alguém teve e quis transferi-la para o mundo) temos uma cena genial quando o Cobb alega que a ideia é um parasita dos mais resistentes: "Quando uma ideia domina o cérebro, é quase impossível erradicá-la. Uma ideia totalmente formada e compreendida penetra fundo." FODA NÃO?


Ken Watanabe e Lukas Haas
E assim durante essa cena descobrimos que estamos dentro de um sonho, mas depois descobrimos que o segundo cenário apresentado também é um sonho, o terceiro também será??? E nós ao assistirmos o filme estamos sonhando ou acordados? Dúvidas que Nolan destrói nossa mente jogando mais porradas no nosso cérebro, para nos deixar totalmente desorientamos! Durante o tal sonho temos a aparição de Mal (Marion Cotillard), que na verdade são memórias de Cobb, logo fica fácil ligar os sonhos com as vivências que temos. Mas só que muitas vezes tais memórias podem não ser agradáveis, tornando o plano de Cobb falho. 


Ellen Page e Leonardo DiCaprio
Um ponto muito foda a se colocar aqui, é a genialidade de Nolan em meio a um cinema fortemente voltado para o dinheiro e o simples entretenimento que é o cinema Hollywoodiano, pois o diretor consegue trabalhar com as exigências dos produtores e nos dá uma narrativa foda de EXPLODIR OS MIOLOS, assim como David Fincher realiza muito bem também. Deste modo vemos a intensa presença de armas, grande investidora dentro do cinema estadunidense, mas que no filme em questão tem uma nova conotação, que não incomoda, mas sim expande a ideia! Como nessa cena...



"Cara que viagem"... Isso mesmo esse filme é muita viagem mesmo! Tanto que um ponto a destacar seria que os dois trabalhos de Cobb abordados no filme, são feitos em viagens! Sim, o primeiro dentro de um trem e o segundo dentro de avião! 


Leonardo DiCaprio e Cillian Murphy
Nessa missão apresentada no início do filme o plano não dá certo e assim a culpa cai sobre o personagem Nash (Lukas Haas), que é chamado de "o arquiteto", algo como a pessoa que cria o cenário do sonho, ou mais além, o roteiro! Assim quando somos apresentadxs a personagem de Ariadne (Ellen Page), conhecemos uma pessoa cheia de imaginação, assim para ser um bom "arquiteto", precisamos de criação, uma pessoa bem sagrada para esse tipo de trabalho, aliás, sagrado é o significado do nome Ariadne em grego. "Eu achava que... que o espaço do sonho fosse essencialmente visual, mas tem mais a ver com a sensação." Saca só essa cena! O MUNDO ESTÁ AI PARA SER TRANSFORMADO RAPÁ!



Deste modo o "arquiteto" tem um papel muito importante: o de projetar os sonhos! Numa eterna dialética entre expor um novo mundo na mente de uma pessoa, para que ela o povoe com suas concepções próprias (subjetivo)! Com isso, percebemos que mudanças nem sempre são aceitas de maneira passível, o subconsciente pode ser contrário a tudo isso! Como lembra Freud e o nosso protagonista: "É o meu subconsciente, lembre que não consigo controlá-lo." Mas só que construir sonhos pode ser um caminho perigoso, pois como na palavras de Cobb, distinguir a realidade da ficção se torna cada vez mais difícil: "Construir sonhos de memórias é o modo fácil de não distinguir a realidade do sonho." Por isso o uso do totem, algo que somente você pode conhecer possuindo um sentimento estritamente particular com tal objeto.


Leonardo DiCaprio e Ellen Page
Mesmo apresentando poucas explicações sobre como foi a criação desse trabalho chamado de "sonho compartilhado", o filme deixa a entender que foi por meio de projetos militares, coisa bem fácil de entender devido a história bélica dos Estados Unidos e nas amplas tecnologias que utilizamos hoje, o telefone, o computador e a internet também tiveram sua origem militar e com propósitos bélicos.


Joseph Gordon-Levitt, Ken Watanabe e Leonardo DiCaprio
Assim o filme vai montando seu elenco, nos apresentando cada personagem e sua respectiva habilidade. A então vitima do filme, o personagem Saito (Ken Watanabe), se transforma no empregador, financiando a missão de implantar uma ideia na mente de um concorrente que tem por meta monopolizar o mercado. Interessante ver um oriental como o manda chuva de um golpe, reflexo de um novo momento econômico no mundo, em que não é mais a supremacia branca européia que tem todos os poderes. Saito então se transforma no famoso produtor, aquele cara que tem que ser convencido de que o filme vai ser bom (a tentativa de Cobb ao início do filme) para que depois invista totalmente em seu filme.


Marion Cotillard
Tal como conhecemos o personagem Eames (Tom Hardy), que seria uma ótimo falsificador, ou como num filme, a pessoa responsável pelos efeitos especiais, para nos fazer acreditar que tudo aquilo que é apresentado é a realidade. Segundo Eames, a ideia (a narrativa) deve ser simples, para que faça florescer após o término do trabalho, assim como vemos um filme FODÁSTICO que ficamos pensando nele após a sessão.


Tom Hardy
Conhecemos o personagem de Yusuf (Dileep Rao), no filme, é um fabricante de químicos importantes para que todos estejam dormindo e o trabalho seja um sucesso, assim como uma sala de cinema... NUM SACOU? crítico José Carlos Avellar no livro "Imagem e som, imagem e ação, imaginação", cita o teórico Christian Metz, que diz "As condições próprias da sala de projeção, o isolamento no escuro, a atenção concentrada no espaço luminoso e a imobilidade do espectador, reduzido a um observador passivo de pessoas encarregadas de agir na tela, tudo isto faz de um filme uma espécie de sonhos acordado [...] O estado de relaxamento que uma pessoa na poltrona de um cinema é idêntico ao estado de imobilidade durante o sono. [...] Ele se entrega, ao filme como ao sono, dominado pelo desejo de sonhar." SENSACIONAL NÃO?


Dileep Rao
E deste modo temos o grande companheiro de aventuras de Cobb, o personagem Arthur (Joseph Gordon-Levitt), que seria o especialista em disfarçar os limites do sonho, algo como o editor de filme. Necessita estar cheios de truques para que o sonho parece perfeito e não ter nenhum erro, PRECISA SER ALGO PARADOXAL!



Não é à toa que Roger Penrose teve altas conversas com o artista Maurits Cornelis Escher que criou obras como essa aqui...


Relativity; 1953 de M. C. Escher.
E nessa busca pelos especialistas, Cobb encontra um lugar mítico, onde pessoas vão todos os dias para "dormir", passando horas e horas ali... Jogando uma das brisas mais fodas do filme: até onde dormir não é estar vivendo na verdade? A realidade não seria também um estado de sono? Para expandir mais a discussão convoco o mítico Arthur C. Clarke, com seu conto "O Leão de Comarre", que descreve uma sociedade altamente tecnológica em todos os humanos não fazem nada a não ser dormir e sonhar, tudo que é impossível na realidade eles concretizam no mundo dos sonhos, hábito difícil de acabar não? Coisa enfrentada por Peyton II, protagonista do conto, que ao tentar acordar algumas pessoas recebe insultos e desprezo, a vida dentro de um sonho é melhorAhhh... EXPLODIU MINHA MENTE AQUI! Mas saca só essa cena!



Ahh velho... e a trilha sonora hein! Composta pelo sempre companheiro de aventuras de Nolan, Hans Zimmer, que compõe mas uma trilha sonora tensa, mas com um detalhe importantíssimo para o filme em questão: a trilha sonora tem sempre uma elevação, no clima de que algo está para acontecer, ou melhor, algo está sendo construído, ou como na história, se está construindo um sonho. Costumeiramente a trilha sonora deve passar despercebida pelo público, deve ser como complemento da imagem, se não conseguir realizar tal feito o espectador perceberá a existência da música e assim a narrativa fílmica perderá seu patamar de sonho. Deste modo acho que nunca uma música da Édith Piaf foi usada tão bem em um filme, acho que nem na cinebiografia "Piaf - Um Hino ao Amor" (La Môme, 2007) de Olivier Dahan. HORA DO CHUTE! A música serve para entrar na sonho de maneira exatamente descompassada, para avisar que o sonho está perto do fim... Afinal, utilizamos de sons em nosso despertador... E pensa só, nada mais loco do que acordar ouvindo Piaf meu velho! Não sei se a escolha da música se deve ao fato de Cotillard, uma francesa, compor o elenco do filme, ou pelo fato dela mesma ter atuado como Piaf nessa cinebiografia... Não importa o motivo, ficou FODÁSTICO


OUÇA AQUI...  Mas ainda não é "hora do chute" hein!
clique aqui

Tá acho que já falei de quase todos a "ficha técnica" de um filme não? Não! Faltou um membro importante e poderoso, a figura do diretor, que se encaixa de maneira perfeita no personagem de Cobb. O diretor utiliza de sua imaginação e vivências para construir um filme e Cobb possui um passado bem pesado, sua esposa, Mal (Marion Cotillard), cometeu suicídio alegando que a realidade que viviam fosse um sonho e ao se matar voltaria a viver realmente, fato que assombra nosso "diretor" em diversos momentos do filme. Do mesmo modo que diretores transparecem aspectos pessoais durante um filme, Cobb sofre com a presença de Mal em sua mente. Nessa INSANA e INTENSA "brincadeira" de se aprofundar cada vez mais dentro do mundo dos sonhos, nós podemos nos perder do que é real e o que desejamos que seja real, como aconteceu com Mal.

SACA SÓ ESSA CENA COM ARIADNE PERCEBENDO QUE ESTÁ NUM SONHO...
 

Tá, teoricamente já encontramos todos os membros importante de um filme... Mas faltou um: o espectador! Ele seria nada mais que a missão de Cobb, o personagem Robert Fischer (Cillian Murphy), o qual ele deve implantar uma ideia. E assim somos nós perante um obra cinematográfica, o discurso do filme invade nossa mente, quanto melhor for a equipe técnica do filme, melhor será o resultado, não acha?

O filme discute alguns pontos interessantes como a questão da segurança acima de tudo, como na cena do trem no meio de uma avenida. Ali Cobb descobre que o personagem Fischer contratou um serviço para que protegesse sua mente de possíveis invasores. E assim caminha a humanidade, protegemos nossa casa, nosso dinheiro, nosso carro, e, no caso, nossa mente! Será que temos espaço para liberdade no meio disso tudo? Assim como trata o sociólogo Zygmunt Bauman nesse pequeno vídeo.



O filme vai esbanjando criatividade e beleza, com cenas como essa aqui...



Ai o filme "chuta a bunda e sai do projeto" (como diria um amigo meu) e resolve jogar pesado nessa cena, SACA SÓ! Cobb tem que (1) salvar a vida de Fischer, para que (2) sua missão finalmente de certo, ao mesmo tempo que (3) enfrenta seu passado e sua culpa, com Mal ao seu lado (4) lhe questionando o que é real... CARA, NÃO... EU DESISTIA DO ROLE NA HORA! 

 

E essa outra cena aqui hein... INSANA! Cobb é levado até Saito, que ficou anos e anos no limbo, e assim ele compreende tudo! Assim como nós espectadores, se ficamos perdidos como Cobb no início do filme, ficamos com sua mesma face de "QUE FILME FODA!"... E a cena convida o espectador a ir junto com Cobb, o diretor, de volta para a realidade, de volta para a vida! Depois de um trabalho desse tão bem feito, a ideia com certeza está implantada em nossa mente! NÃO? 

 

Com isso, o filme chega ao seu final... Todos acordados novamente, começa uma trilha de fundo de "missão comprida", aquela música de que "a paz pode ser mantida", onde? Nos Estados Unidos, é claro! Viver lá é se sentir bem, reencontrando finalmente com a família após toda essa batalha que foi o filme... O Sonho Americano se tornou realidade! Mas... pera ai! Por qual razão o totem do Cobb não para de girar??? BOOM! MENTE EXPLODIDA! 

 

E assim termina esse filme, com diferentes interpretações, é claro! Muitos alegam que o totem não cai, pois seria uma metáfora de que o Sonho Americano não existe na verdade! Outros alegam que é possível ouvir o barulho do totem de Cobb cair durante os créditos finais e ainda tem aqueles que defendem que a intenção foi somente de dar continuidade a ideia de estar sonhando que vinha sendo trabalhada em todo o filme... Mas existem teorias que me apetecem mais, como a teoria de que na verdade o totem de Cobb seria seu anel de casamento com Mal, pois a todo momento ele o toca... Ou a de que Cobb não rodou seu totem no momento em que foi interrompido por Saito nessa cena aqui... Mas afinal, qual dessas teorias te conquistou mais carx tertulianx?


Para finalizar esse bombardeamento de brisas locas do filme, podemos discutir sobre o gênero do filme. "Mas o que tem para discutir sobre? É Sci-Fi pô!" Bem... acho que num é tão simples assim, afinal nada é simples aqui! Afinal o filme parte da narrativa de criminosos que se utilizam de tecnologias para dar golpes perfeitos e saírem ilesos, mas no meio dessa narrativa surge O PLANO, aquele plano que irá resolver todos os problemas de nosso protagonista! Mas ao mesmo tempo é muito arriscado... É a tentativa do GOLPE PERFEITO! "Pera ai... Isso meio que é um clichê, não?" Sim, conhecido mundialmente como "Heist film", gênero muito popular na década de 1940 e que teve algumas homenagens recentes, como o filme "Truque de Mestre" (Now You See Me, 2013) de Louis Leterrier e no tertuliado agora. 

HORA DO CHUTE!
Bem esse #TertúliaView foi pesado hein... Mas a gente dá uma esfriada na sua mente! Fique com o trailer... e com a sua realidade...

TRAILER LEGENDADO
clique aqui


Calma... calma... recolha com cuidado os pedaços da sua cabeça que foram explodidos!
Agora sim, fique tranquilo... Visite nossa página no Facebook e também no Instagram.
Assine nosso feed de INSANIDADES aqui do blog!

Um comentário:

  1. Amei este filme! Muito obrigada por compartilhar, definitivamente verei de novo! Esse é um dos filmes de Christopher Nolan mais interessantes que eu vi, além de Interestelar e Dunkirk o filme no ano passado. Foi uma surpresa pra mim, já que foi uma historia muito criativa que usou elementos innovadores. Além usa teorias muito interessantes sobre o sonho. Realmente vale a pena todo o trabalho que a produção fez, cada detalhe faz que seja um grande filme. Vale muito à pena, é um dos melhores do seu gênero.

    ResponderExcluir