quinta-feira, 10 de setembro de 2015

Tertúlia Indica: "Festa no Céu" (The Book of Life, 2014) de Jorge R. Gutierrez


"Uma animação... Logo, roteiro simples.. Logo, só para crianças... Logo, sem surpresas..." Talvez esse pensamento ainda exista na mente de muitas pessoas, talvez, pelo fato de ser uma narrativa com liberdade de imaginação muito maior que qualquer outra no cinema... E assim conhecemos uma sociedade que acha que a imaginação é coisa de crianças... Que feio! Que rude! Que triste!

+ Festa no Céu (The Book of Life, 2014) de Jorge R. Gutierrez



A narrativa do filme começa em umas das festas mais populares no México: o "Dia dos Mortos" (não, não é nenhuma relação com o clássico de George Romero, já tertuliado por aqui), uma grande celebração de origem indígena para celebrar a vida das pessoas que já morreram. Muitos podem pensar que o filme seja algo mórbido, mas vocês já assistiram "A Noiva Cadáver" (Corpse Bride, 2005) de Tim Burton e Michael Robert Johnson? Talvez o mundo dos mortos seja mais animado que o mundo dos vivos! E é nesse ambiente que Gutierrez nos leva para conhecer um pouco mais da cultura mexicana.

Cena de "A Noiva Cadáver".
Nos é apresentado de início uma guia de um museu, que explica a tradição do "Dia dos Mortos" a um grupo de crianças as desventuras de Manolo, Joaquim e Maria (nossos protagonistas). Deste modo os personagens ganham forma como bonecos de madeira, ganhando uma segunda estética. Quando vamos ao mundo dos mortos, a narrativa encontra uma explosão de cores, caveiras e texturas, valendo o uso do 3D. Portanto a obra de Gutierrez vale por três animações! 


Mesmo sendo uma animação mexicana, a produção é dos EUA, e, uma vez que tudo acontece nos States, nossa história começa numa cidade estadunidense, com um grupo de crianças bagunceiras que estão visitando um museu. Ao ver isso a guia do Museu percebe que essas crianças são diferentes e por isso merecem um visita diferente ao museu! Sabe da pira de que o problema não é o estudante, mas sim o modo como é feita a educação? GENIAL ISSO!


A história gira em torno de três personagens: Maria, dividida entre dois amores, mas que nunca se entregou a convenções sociais e assim segue vivendo de maneira independente; Manolo, nosso humilde mocinho, que tem de lutar contra tudo para conseguir o amor de Maria, mesmo que isso custe a tradição de sua família; e Joaquin, que é reconhecido por todos pela sua bravura e sua pose de "macho alfa", lhe rende o posto de herói da cidade. Vendo assim o filme não impressiona e parece não fugir do lugar comum: triângulo amoroso que envolve a vida e a morte... PERA AI QUE VEM MAIS!

Joaquin, Manolo e Maria.

CENA GENIAL! APRESENTANDO COMO A PERSONAGEM MARIA NÃO ESTÁ AFIM DE ACEITAR VALORES!
Como falamos, é um filme mexicano, mas produzido nos EUA, deste modo os produtores tem um grande poder no resultado final da obra e podemos perceber isso dentro da história, uma narrativa básica e sem sustos, mas nos seus detalhes consegue dar um novo ar para esse roteiro básico de novelas mexicanas, quebrando clichês... Tanto que essa animação era para sair pela DreamWorks, mas foi cancelada pela famosa desculpa de "diferenças criativas". 

Mundo dos mortos bem animado, não?
O filme apresenta de maneira perfeita como o "Dia dos Mortos" é sensacional! O fim não é o fim... Mas sim um novo começo! (sacou?) Afinal, memórias são vivas e mutáveis e enquanto alguém ter lembranças de outro esse outro ainda estará vivo! Para os mexicanos, a morte não é o fim, mas uma celebração da vida que foi. Ou como vemos nessa mítica cena de "A Loja Mágica de Brinquedos" (Mr. Magorium's Wonder Emporium, 2007) de Zach Helm.

CENA MÍTICA EM QUE O SR. MAGORIUM FALA SOBRE A MORTE

TEXTO: "Quando o Rei Lear morre no ato 5, sabe o que Shakespeare escreveu? Ele escreveu: 'Ele morre'. Só isso. Nada mais. Sem fanfarras, sem metáforas, nada de palavras brilhantes no final. O encerramento da mais influente obra da literatura dramática é... 'Ele morre'.Foi preciso Shakespeare, um gênio, para escrever 'ele morre'. E sempre que leio essas palavras, sinto-me tomado pela disforia. Sei que é natural ficar triste. Não pelas palavras 'ele morre'. Mas pela vida que vimos anterior às palavras. Eu vivi todos os meus cinco atos, Mahoney. E não peço para que fique feliz com minha partida. Só peço-lhe que vire a página... continue lendo... e deixe que a próxima história comece. E se algum dia alguém perguntar por mim... relate minha vida com todo o esplendor... e termine com um simples e modesto: 'Ele morreu'."

Celebremos a vida! O bem e o mal existem, mas eles podem fazer apostas, trocar umas ideias e ainda se apaixonar! As divisões tão bem solidificadas em nossa mentes entre preto/branco, certo/errado podem ir por água abaixo com uma narrativa dessa, que trabalha nos detalhes. "COMO ASSIM?" O filme influência uma geração de mexicanos que vivem nos EUA a manter viva suas tradições, pois enquanto lembrarem disso ela permanecerá viva, ao mesmo tempo que explica tal cultura para o restante do mundo. Mesmo que seja batido a ideia de "seja você mesmo" e "não desista dos seus sonhos", quando é contada de maneira inovadora conquista a muitas pessoas!

México como centro do universo!
Reinventar centros... OK!


TRAILER LEGENDADO


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