sábado, 15 de novembro de 2014

TertúliaView: "Interestelar" (2014) de Christopher Nolan



Diretor: Christopher Nolan
Roteiro: Christopher Nolan e Jonathan Nolan
Elenco: Matthew McConaughey, Anne Hathaway, Jessica Chastain

   No segundo episódio da retomada de Doctor Who, o Nono Doutor leva sua companhia, Rose, 5 bilhões de anos no futuro, até o fim da Terra. Uma plataforma foi colocada próxima para que os interessados pudessem ver o Sol expandir e engolir os planetas do Sistema Solar. Rose fica espantada com aquilo, pois na plataforma existe um personagem que se intitula o último homem da terra, para onde foram os seres humanos? Nisso o Doutor diz que eles sobreviveram, povoaram outros planetas, galáxias: 

"Vocês vivem pensando na morte, por comer ovos ou carne ou pelo aquecimento global ou asteroides, mas nunca param para imaginar o impossível. Que talvez sobrevivam." Doutor

   Sobreviver é a tônica do filme de Cristopher Nolan Interestelar. O pano de fundo é o planeta Terra em algum tempo que não é definido que sofre algum tipo de mudança climática provocando uma poeira que sempre está caindo e cobrindo casas, pessoas, de sujeira e uma ocasional tempestade de areia. O planeta se voltou para a produção de alimentos pela falta deles e profissões não-braçais são depreciadas em favor dos fazendeiros. Seguimos a história de Cooper, um fazendeiro à força que é formado em engenharia e vive essa descientificização da sociedade, afinal devemos colocar todos à trabalhar nas terras, produzir comida, mesmo que as pragas, a chuva, a poeira atrapalhe cada vez mais. Vamos colocar que a viagem a lua foi uma farsa não devemos fazer eles sonhar com lá fora, os problemas estão aqui.
  A virada do filme se dá quando Cooper descobre coordenadas que o levam a Nasa, que atuava secretamente pois a exploração espacial não podia vir a pública com os problemas vividos na Terra. Porém, a missão que a Nasa trabalha é justamente salvar a Terra, buscar um novo mundo que seja capaz de sustentar a vida e levar a humanidade para lá. Cooper assim aparece como o único piloto com experiência de voo, pois ele havia servido a Nasa anos antes. Na despedida a carga emocional dos filhos é revelada, ao ter que explicar a filha que não sabe quando irá voltar ele encontra rejeição. Tentando conforta-la lembra da mulher que morreu, que os pais são feitos para serem memórias para os filhos, são fantasmas do futuro. 

"A Humanidade nasceu na Terra, nunca foi seu destino morrer aqui." Cooper
 
   Cooper embarca na missão de atravessar um buraco de minhoca para levar a outra galáxia, e a novas possibilidades de planetas habitáveis. Anos antes a Nasa havia enviado outros astronautas que serviram como batedores para analisar possíveis candidatos e mandar dados que ajudassem a escolher qual seria o planeta mais promissor. Aqui eu creio que Nolan fez uma homenagem a Carl Sagan. O buraco de minhoca estando próximo a Saturno não é difícil fazer a relação com o Pálido Ponto Azul. Em 1990 a sonda Voyager 1 se virou e tirou uma foto voltada para a Terra quando estava passando por Saturno, porém a Terra nessa imagem era somente um pixel, um pálido ponto azul. Carl Sagan a partir dessa imagem escreveu um livro com este nome e um discurso que Sagan proferiu numa conferência ficou famoso que falava que nesse ponto todos os seres humanos viveram, amaram, guerrearam, porém, ainda assim, apesar de nosso egocentrismo, somos uma parte minúscula do universo, somos o único lugar conhecido a abrigar vida não havia indícios que alguém de outro lugar iria chega para nos salvar de nós mesmos.

"A Terra é o único mundo conhecido, até hoje, que abriga vida. Não há outro lugar, pelo menos no futuro próximo, para onde a nossa espécie possa emigrar. Visitar, sim. Assentar-se, ainda não. Gostemos ou não, a Terra é onde temos de ficar por enquanto." Carl Sagan
    Desta forma o filme mostra o assentamento como a possibilidade, como um plano de emergência, de último minuto da humanidade se deparando com o fim da terra, o fim da espécie, o fim. Ao atravessar o buraco de minhoca, um atalho para outra parte do universo, eles se deparam com os possíveis planetas pelos dados enviados pelos outros astronautas, estes que foram sem ter a certeza que iam voltar. O primeiro planeta dá errado. Os dados que pareciam tão certos se desmancham. Ai vem o questionamento se podemos confiar nos dados, na ciência, como podemos relacionar a teoria que temos do espaço, dos exoplanetas, planetas fora do Sistema Solar, e ainda sendo habitáveis? O que é ser habitável, o surgimento de vida só tem como parâmetro o ser humano? Na prática, o que iremos encontrar de verdade? Podemos nos deparar com o Alien de Ridley Scott. Europa Report explorou recentemente esta busca de vida fora do planeta Terra, porém em Interestelar o interesse científico de simplesmente buscar vida extraterrestre de qualquer tipo se torna uma busca por um planeta que sustente o ser humano. Então vida aqui é muito antropocêntrica. No segundo planeta quando tudo parece dar certo eles se encontram com a fraude, mais uma vez o dogma da ciência se coloca, podemos questiona-la? Atualmente vemos pesquisas sendo desmascaradas por manipulação de dados, e esse questionamento se faz durante todo o filme pois o filme está toda hora empurrando os limites das teorias, apesar de respeitar a ausência do som no vácuo, tentar utilizar a teoria do buraco de minhoca e tentar ser o mais acurado em relação aos buracos negros e exoplanetas. Porém, outra virada do filme mostra que ele quer empurrar isso, quer quebrar isso, quer ir onde a teoria para e não se atreve a ir, quer imaginar o que está além.
   Quando Albert Einstein teorizou sobre a teoria da relatividade, sobre os efeitos que uma viagem interestelar feita próximo a velocidade da luz, ele esqueceu de imaginar as emoções envolvidas entre o viajante intergalático e quem esperasse por ele na Terra. Uma das coisas que o filme leva a questionar é sobre a situação atual, como a degradação ambiental vai impactar no futuro próximo e o que podemos fazer para mudar isso. Isso poderia facilmente se tornar uma crítica ao capitalismo, pois, um sistema que se baseia em escalas de crescimento como o PIB, não é mais compatível com um mundo finito, com limites, e além disso, com ele piscando a luz amarela (espero não ser a vermelha). Em São Paulo esse ano a crise hídrica expõe não o mal planejamento do atual governo e de seus antecessores, do mesmo partido, mas uma relação selvagem com a natureza construida pelo nosso passado, um colônia que nasce na periferia da geopolítica mundial e vê no progresso a tentativa de ser notado pelos irmãos maiores. Isso quase nunca leva a uma relação saudável com a natureza, pois ela impede de ver o progresso, é necessário retira-la. Porém, no filme, a luz vermelha está acessa a muito tempo, estamos sufocando, e só ali tentamos achar uma saída, quando tudo parece estar perdido, quando ninguém mais tem esperança. Nisso nós voltamos para o céu, este espaço que intriga o homem desde  antiguidade. O nosso egocentrismo fez crermos que a Terra era o centro, a nossa humildade fez olharmos para outras galáxias.
   De uma forma similar acredito que a franquia de filmes de Jornada nas Estrelas trabalhou alguns temas que se relacionam ao filme. No 1º filme, Jornada nas Estrelas, O Filme, a sonda Voyager tornou-se senciente, adquiriu consciência e retorna para "casa" em busca de seu criador, e e em Jornada nas Estrelas: Primeiro Contato vemos a humanidade renascer de uma guerra mundial e usar o foguete usado em um míssil para produzir a primeira nave à quebrar a velocidade da luz. Acho que a grande questão de Interestelar é que ele aponta para cima, mas lá em cima nos encontramos com nós mesmo. Mesmo se voltando para cima, esse acima não é o espaço da viagem interestelar, mas um espelho, somos poeiras da estrela, os átomos foram forjados dentro de estrelas. Olhar para cima e perceber que nós mesmo somos galáxias, com infinitas possibilidades, e também que não devemos tentar curar o morto, mas cuidar do agora, olharmos para o que realmente importa, que somos um pixel no espaço, que o infinito nós aguarda e nós nem sequer nos arrumamos.



TRAILER

Umas últimas coisas, tentando fugir do clichê do robô maluco Nolan encontrou um caminho interessante para inserir estes personagens e o papel deles na trama. A questão do espaço-tempo e de dimensões é muito trabalhada no filme e isso vem desde A Origem. O final de A Origem poderia deixar algumas pessoas apreensivas depois que o Nolan falou que não era o objetivo dele deixar as pessoas pensando "caiu ou não caiu", mas que eles está com seus filhos, fora ou não do sonho, porém, as viradas de Interestelar, que são algumas, levam a "vários" filmes e o filme poderia muito bem ter 3 fins, um misterioso, outro comovente e o final final que é de esperança.

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