sábado, 15 de novembro de 2014

TertúliaView: "Lucy" (2014) de Luc Besson


Diretor: Luc Besson
Roteiro: Luc Besson
Elenco: Scarlett Johansson, Amr Waked, Min-Sik Choi, Morgan Freeman


   Como podemos definir Lucy? Afinal, sempre estamos tentando definir, encaixar, dar nome aos bois. Porém Lucy fala o inverso no fim, não? sim! talvez...
   Besson ao escrever o roteiro de seu novo filme colocou a power girl que faz parte de seus outros filmes como Nikita (1990) e O Quinto Elemento (1997). Porém o poder em Lucy não fica somente num sentido figurativo, ela de fato tem poderes e muito facilmente ela poderia esquecer a gravidade e voar. Besson também coloca outra marca sua: tiroteios, perseguições, ação frenética e injustificável. 
   Lucy é uma estudante americana em Taiwan que um belo dia se envolve com a máfia local. Utilizada à força como mula para atravessar uma nova droga para seu país eles costuram um saco de droga dentro de seu corpo. A droga CPH4 é a sintetização de uma enzima liberada por grávidas e seria responsável pelo estágio de crescimento final do bebê. Quando um peão da máfia gentilmente chuta a barriga de Lucy a droga entra em seu organismo e seu efeito é aumentar a capacidade cerebral da protagonista. Tudo isso intercalado com imagens de uma palestra do Professor Samuel Norman interpretado por Morgan Freeman explicando o que o ser humano seria capaz de fazer caso pudesse utilizar progressivamente a capacidade do cerébro. E além disso imagens que fazem jus a um documentário do discovery channel ilustrando os conceitos que o filme apresenta: evolução, sobrevivência. Lucy, a partir que a droga entra em seu metabolismo, começa a quebrar essas "barreiras" que os 10% de uso do cerébro impedem de ser acessados: telepatia, telecinese, absorver conhecimento instantaneamente, ou optar por não sentir dor, e tudo esse entendimento leva também ao declínio de seu lado emocional. Vendo o mundo de forma lógica, toda emoção se esvai. E com isso o filme evolui apresentando a evolução de seus "poderes" e do uso da capacidade cerebral.
   O filme antes de tudo é uma experiência visual espetacular do começo ao fim. É um filme de ação? De ficção científica? Posso dizer que são dois gêneros acontecendo ao mesmo tempo, intercalados. Não aponto totalmente para ficção científica pois apesar de Besson tentar construir reflexões durante o filme ele não se aprofunda nelas e alguns pontos ficam meio que soltos na trama. Quando Lucy aponta a ideia que 1 não é a unidade, o tempo é a unidade de algo sem limite, isso causa um incômodo por vários motivos: Primeiro, o tempo então não se torna uma nova unidade? Segundo, o tempo não tem fim, mas tem um começo,  Big Bang, e isso já não tornaria também o tempo limitado em sua origem? No exemplo do carro que acelera até um ponto que desaparece, e sem o tempo não existiríamos, se pararmos no meio da estrada não seremos atingidos pelo "tempo"? A questão que quero colocar é o tempo é somente uma questão matemática? Qual noção de tempo ela está falando? Qual era a relação das pessoas com o tempo quando não eramos uma sociedade pautada pelo ganho de tempo, pelo tempo acelerado, pelo tempo sempre nas nossas costas, pelo "tempo é dinheiro", pelos relógios em torres, nos nossos pulsos, nos nossos bolsos, nos despertadores, agendas, smartphones? 
   Nesse ponto, Lucy é um filme antropocêntrico. A experiência que o filme nós dá é uma filosofia das incertezas do homem e a centralidade que ele assume nesse mundo. Porém se Besson ai tenta desconstruir está centralidade ele não é efetivo, afinal o filme começa com as células de um zigoto (óvulo fecundado) se dividindo, e perto do fim as células voltam a se unir e explodem, uma quase analogia com o Big Bang. Essa analogia da célula se repete quase todo o filme, porém as células não são os menores componentes em nosso corpo, células são feitas de átomos, e frisar a importância da célula acaba sendo um tiro no pé, pois pode acabar voltando na questão da evolução e o ser humano como o pico desse processo. Esse antropocentrismo fica mais visível na cena em que Professor Norman fala que uma célula em um ambiente desfavorável escolhe a imortalidade. Apesar de inúmeros exemplos de bactérias sobrevivendo perto de vulcões submersos com temperaturas extremas e sem luz, fungos que crescem em Chernobyl, Besson coloca imagens de enchentes, tempestades, tornados, vulcões.
   Quanto as incertezas, pensemos no nascimento e na morte, estes momentos são os momentos em que o ser humano já não tem mais a experiência do tempo pois não tem consciência de si, é a incerteza da morte que alimenta crenças de que exista algo além dela. Bem, acreditar que, se só utilizamos só 10% do cérebro, se fosse possível utilizar mais poderíamos fazer coisas inimagináveis, talvez até vencer a MORTE!
    Apesar de Lucy parecer uma espécie de filósofo que começa a refletir sobre a vida, o universo e tudo mais a partir que sua capacidade cerebral aumenta, ela deixa transparecer um certo egoísmo em relação a droga quando ela vai atrás dos outras pessoas que iriam atravessar a droga em outros países. Além disso, a ideia 10% do cérebro é uma forma de explorar o desconhecido, afinal sempre nós questionamos os limites da nossa realidade quando vamos ver um filme de terror ou de super-herói. Porém, esse limite não tem embaçamento científico. Um pensamento simples, se só usamos 10% do cérebro pessoas que perdessem a funcionalidade de partes do cérebro em acidentes ou por doença continuam funcionais?
   Apesar destas questões que me incomodam, acho que o filme é efetivo em nós dar algo para refletirmos sobre nossa condição humana. Lucy com o aumento de sua capacidade cerebral perde suas emoções, perde o encanto com o simples, com o banal, com o imperfeição. Talvez seja isso que Besson estivesse pensando ao escrever que agora sabemos o que fazer com nossas vidas. Sem falar explicitamente é uma tentativa de resposta ao "De onde viemos?" "Pra onde vamos?". A ênfase, apesar do questionar ser importante, deveria ser no viver.

Adivinha quem eu to no filme

Toxic Avenger é você?

TRAILER

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2 comentários:

  1. Destruiu nesse resenha hein... Conseguiu transcrever muita coisa que eu queria escrever sobre, mas não conseguia.... Valeu Tertúlia!
    Mas é cara no final o filme só nos deixa com incertezas... não sei se esse era o objetivo de Besson... Mas no final percebemos que essas incertezas que são o motor da nossa vida contemporânea...

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    1. Olá tertuliano, obrigado por comentar! Realmente o filme deixa muitas incertezas e o final é muito aberto, se tiver uma continuação esse aberto vai se justificar, KEEP INSANE!

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